quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A MOÇA E O QUARTO

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Sugerido por @xMyrrha


A moça saberia a história de todos os livros na estante de cor de tantas as vezes que leu.
Saberia a grade da programação da TV e também a do cinema.
Vinte quatro horas para ela pareciam trezentos e sessenta e cinco dias em um só. Sozinha inventava histórias narrando aos seus próprios ouvidos para distrair.
Só olhava para fora da janela quando ouvia a chuva, nesta hora lembrava-se de Rapunzel com suas tranças e sentia o estômago arder de tristeza, seu cabelo era curto demais pensava.

O final de semana parecia segundas-feiras e as segundas-feiras eram sempre piores, só não piores que os domingos.
Viajava pelo mundo pela tela do computador e adora visitar aquele café em Londres, na Rua Westminster sem sair do quarto, podia até sentir o cheiro de café fresco.

E assim passavam os dias sem passar, um dia após o outro sem mesmo saber em qual deles estaria.
Farta de tudo isso a moça resolve fazer algo de diferente, apimentar um pouco seus dias, mudar a rota do relógio que só girava, girava e não levava a lugar algum.
Escreveu uma carta, praticou uma caligrafia diferente para que não soubessem que somente ela estivera ali, na carta havia ameaças e um pedido de resgate, era um autossequestro. Colocou algumas roupas na mochila apressada e forçou o batente da porta para que parecesse uma invasão, deixou a carta na mesa da cozinha e se foi em sentido ao centro da cidade. Lá procurou um hotel barato para ficar e instalou-se.

Alguns dias se passaram e a moça não recebeu sequer um telefonema no número de telefone que havia deixado na carta, nenhuma noticia na TV, nem nas rádios e nem na internet. Passaram-se mais alguns dias e já faziam quase um mês do seu desaparecimento e nada, apenas uma mensagem da operadora do celular novo dando as boas vindas.

Muito mais triste do que antes a moça resolveu ligar para a polícia e denunciar seu autossequestro se passando por outra pessoa, uma que estivesse preocupada com sua situação, discou os números e no primeiro toque desligou o telefone.
De que iria adiantar? Mesmo que a achassem não teria ninguém esperando do lado de fora do hotel barato, nem ao menos um colo para chorar e contar sua história.

Voltou para sua casa.


Bento.

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4 comentários:

Mirra disse...

Roo, Muito bom ! Sério, perfeito!
hahahah é exatamente o que eu pensei... é exatamente o que passou na minha cabeça... :S Incrivel...
Super me identifiquei!

Parabens..
Bjs

Thalita Brice disse...

até me espantei com o texto!
conheço bem alguém assim... desde os livros na estante, até a falta do colo para contar sua história.
triste auto-sequestro...

p.s: também vim cobrar minha camiseta velha... hahaha

um beijo!

Anônimo disse...

Noossa mor, quee liindo *-*

A gente sempre lembra de alguem ne =s
triste

http://ummundoquaseparticular.blogspot.com

Thalita Brice disse...

Os textos são meus sim, obrigada por elogiar. não sabe como me alegra saber que alguém além de mim também gosta deles... uahuahau

ah, e sobre a camiseta, prometo que devolvo com o cheirinho hahaha

ps: fernando veríssimo me entenderia

beijobeijo!