quinta-feira, 3 de março de 2011

A Sapatilha Intima.

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Mais uma historia de metrô.
Nessas idas e vindas diárias, perdidos em pensamentos soltos onde nem todos eles são merecidos, ou desejados, alguns são inevitáveis, outros nem tanto...
Pessoas desconhecidas partindo em direções opostas, diferentes, talvez até iguais. Planejando futuros, fins de semanas, feriados, férias. Almejando cargos, faculdades, profissões, amores.
Variados estilos, pessoas de diferentes classes, opções sexuais, times do coração, etnias, idiomas, idades.

Eu ainda perdido em pensamentos sobre uma garota escritora vejo uma coisa que me chama tanta atenção que foi inevitável segurar aquele riso de canto de boca, o riso lembrou arte de criança, como se eu não devesse estar olhando para aquilo, talvez fosse por causa da intimidade do momento.
Em minha frente havia uma garota, não era dono de uma beleza absurda, era apenas bonita, cabelo liso, pele clara e estilo casual. Vestia uma sapatilha azul de pano. Ela lia um livro que não consegui descobri o nome, porém era na sapatilha que eu estava interessado.
A tal garota havia tirado a sapatilha de seu pé e brincava com ela com os pés, sem tirar os olhos do livro ela empurrava a sapatilha para longe para logo após buscá-la novamente. Seu pé era pequeno, bem cuidado.

Nesta cena houve tanta intimidade pelo fato da garota nem perceber o que estava acontecendo, muito menos que eu estava ali assistindo toda aquela cena, e acredito ter sido o único a prestar atenção, mesmo a existência da minha tara por pés não foi o que chamou mais atenção, foi o momento, o prazer de ser somente eu, nem mesmo a dona dos pés notara os movimentos e a pureza do momento. Por outro lado me senti invadindo a privacidade dela, como olhar por pela janela e vê-la se vestindo, mas eram somente pés.
Depois disso ela levantou-se para descer em sua estação de destino, eu continuei olhando para o mesmo lugar, como se seus pés ainda estivessem lá, porém agora em seu lugar havia um senhor com os pés endurecidos de cimento e Havaianas azul e branca.
De fato, algumas de minhas transas não houveram tanta intimidade quanto o momento da sapatilha e o pé.

Bento.

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