domingo, 26 de fevereiro de 2012

TODO POETA É TRISTE POR PROFISSÃO

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Ser sozinho é observar o silêncio como um semelhante.
A solidão é a madrasta rechonchuda que compartilha de suas derrotas, mas nunca o seu sucesso.
A solidão será sempre mais requintada, sempre mais bela e admirada. É por isso que filmes dramáticos sempre ganham o Oscar e não as comédias.

Esse negócio de "tô sozinho, tô feliz" é tão inventivo como os contos que eu crio.

O solitário não é feliz porque não tem com quem compartilhar a felicidade, não tem com quem dividir piadas e sorrisos e rir sozinho é tão constrangedor como chorar em público.

O feliz esconde o sucesso com medo de lhe roubarem a felicidade. Já o solitário é exibido, faz questão de chamar atenção, por isso alguns suicidas preferem morrer com platéias.

O solitário não é infeliz pela abstinência de felicidade, ele é infeliz pela overdose de autopiedade.

Mas uma coisa devemos admitir, o solitário será sempre mais intelectual, pois tem mais tempo para refletir sobre os problemas do mundo na esperança de resolvê-los diante da impossibilidade de resolver os próprios problemas.

Toda solidão deve vir sempre acompanhada de uma boa dose de pessimismo, assim como o vinho para ser bom tem de ter rolha.

É dessa intelectualidade que surgem os poetas e todo poeta é triste por profissão. Assim como o solitário é autodidata, não existem escolas para poetas.

O diploma do poeta é o insucesso na vida sentimental. Só é reconhecido quando passa, no mínimo, por mais de três casamentos. Exceto se a morte vir antes.

A diferença do solitário e o feliz é que o solitário tomou consciência de que a felicidade é algo impossível de ser alcançado, só que mesmo assim não desiste, pois apesar de pessimista todo solitário é teimoso. Já o feliz é iludido e acomodado.

As pessoas tomam o solitário como o exemplo a não ser seguido, "tudo que ele disser, faça o contrário e assim será feliz" o que nem sempre é verdade, afinal grande parte deles agem diferente do que dizem.

Você deve se perguntar "por que os solitários não se juntam e são felizes?" É simples, nem os solitários se aguentam.
Principalmente aqueles que passam o tempo todo lamentando o sofrimento.

O feliz se aproxima do solitário porque a tristeza alheia potencializa a felicidade, no entanto a recíproca é verdadeira e assim, permanecem solitários.

Outra coisa do solitário é que ele é exigente demais, ele não vai entregar-se diante de qualquer declaração de amor. O feliz sim vai até se enganar diante de um falso amor porque tem medo da solidão, mas não o solitário, pois ele já é mestre na arte de ser sozinho.

E é por isso que no meio de tanta tragédia, roubos e corrupção ainda tem gente que deseja com todas as forças ter seu peito invadido e o coração roubado.

Ter seu corpo tomado pelo terremoto de uma paixão, mesmo que de verão e ter seus pensamentos e sonhos sequestrados por um bandido ou bandida linda, sexy, compreensiva, carinhosa...


Bento.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O BRASIL É O PAÍS DA INCOERÊNCIA

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Eu cresci ouvindo que o Brasil era o país do futuro. As revistas especializadas em economia futurista concordam. Os BRICs estão aí para comprovar isso.

Um europeu meio desinformado vai dizer que o Brasil é o país do futebol. Porém o Barcelona e Messi começam a contestar isso.

Um gringo folião no ápice do efeito etílico da caipirinha afirmará que aqui é o país do carnaval.

Cubanos, haitianos, coreanos, chineses e presos políticos italianos dirão que o Brasil é o país das oportunidades. Sempre tão acolhedor.

O desavisado que ligar a TV ou ler o jornal vai achar que aqui é o país da corrupção.

O PT, o PMDB e os ministros de diferentes partidos vão esbravejar gritando para quem quiser ouvir que o Brasil é o país da injustiça. Afinal, todos eles são acusados gratuitamente, caluniados pela “grande mídia” só por esconderem alguns milhões ali, desviar outros milhões aqui e deixar de declarar meia dúzia de empresas acolá. Quem não faz isso hoje em dia gente? É a coisa mais normal do mundo. Quanta injustiça.

Aos pastores evangélicos donos de mansões, carros de luxo, proprietários de emissoras de televisão e pequenas fortunas no exterior, o Brasil é um país abençoado. "Glória a Deus". Deus é brasileiro. Viva!

E se pararmos para pensar que o brasileiro, antes tido como povo alegre e feliz, hoje prefere rir das piadas no tribunal, podemos dizer que o Brasil é um país sério. Ou um país do mau humor, da falta de senso de humor. Na verdade é o país do mal comido.

Se me perguntassem o que eu acho diria que o Brasil é o país da incoerência. Pois só no Brasil que o funk é carioca, o forró é eletrônico e o sertanejo que há séculos, de sertanejo não tem nada, hoje é universitário e faz intercâmbio na Europa. Vide Michel Teló.

Só neste país tropical é que as crianças vão para a escola aprender a falar errado. Que é para manter viva a cultura.

E é só aqui que o melhor presidente da história, economicamente falando, fora um cara sem o segundo grau completo.

Tudo isso é tão trágico que chega ser cômico e apesar de sermos todos mal comidos, este ainda é o país dos palhaços.


Bento.

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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

UM BABÃO APAIXONADO

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Eu estou extremamente apaixonado.
Estou como aqueles apaixonados bobos que pensa na amada todas as horas, minutos e segundos. Daqueles que fala do grande amor em qualquer lugar e para qualquer um.
Tão apaixonado que gosto de acordar de madrugada, desprezo o sono só para acender um cigarro para pensar nela e volto a dormir para permitir que ela habite meus sonhos.

Fico eu aqui, me perguntando como pude viver tanto tempo sem ela? E me vejo na mesa do bar com os amigos, me tornando O Chato falando e falando de nosso relacionamento.

Posso dizer com toda certeza que ela é o amor da minha vida. Meu amor de almas.
Sei que vai parecer discurso melodramático de apaixonado, mas tudo bem, deixe que pensem assim, porém grito ao mundo que ela é perfeita. Sem tirar nem por. “Rodrigueando”: da cabeça aos sapatos.

É ela que me acalenta em meus dias mais nebulosos e é somente ela que me abraça nas noites de inverno sem me pedir nada em troca.
Ouve meu desabafo sem qualquer julgamento e não se importa se é começo ou fim de mês, pois ela se interessa por minha essência e não pelo que eu posso pagar.

Minha amada conhece todos os meus defeitos e segredos mais malditos e não hesita sequer um momento em permanecer ao meu lado.

Meus olhos deslizam por seu corpo e o êxtase é tão intenso quanto o inverno europeu. Ela decifra meus sentimentos mesmo quando tento disfarçá-los com subterfúgios, adjetivos incompreensíveis e objetividade oportunista.

Pense em alguém que para tudo o que estiver fazendo só para atender seus caprichos. Sou eu.
Pense em alguém que guarda todos os sorrisos no bolso para entregar-me de presente depois. É ela.

Somos uma dupla perfeita.

Alguns indivíduos nos invejam pela nossa afinidade de 10 mil anos e isso, por vezes alimentou ainda mais nossa complacência.

Ela é a amante perfeita, pois é fiel aos meus sentimentos, no entanto nunca me deixa esquecer o quanto me é importante mantê-la por perto. E ela também precisa de afagos para se satisfazer por completo.

Os meus erros ela já enumerou e só me lembra deles quando eu realmente preciso.
É somente em suas entrelinhas que eu me reconheço e é olhando para ela que as pessoas me reconhecerão.

Após tantos anos de convívio entre nós posso dizer que ela nunca me abandonou, mas é bem verdade que em algumas situações tive que apagá-la por breves momentos para começarmos tudo de novo depois de um trago.

Ela compartilha de minhas bebedeiras e rebeldias mesmo quando não tenho motivos.

Logo, por todos estes motivos e outros que só divido com meu amor entre quatro paredes, afirmou sem medo de parecer um babão apaixonado que a escrita é e será por toda a eternidade o grande amor da minha vida.


Bento.

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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

EPITÁFIO II

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Vocês não entendem. Talvez nunca entenderão. Precisará alguém dar a deixa para que somente no fim compreendam o que está à mostra de todos, abaixo de seus narizes verruguentos e com uma floresta imaginária de cravos.

Ao meu velório, velas e castiçais, meu corpo em pecado a caminho da putrefação e um singelo sorriso de canto de boca, quase como feliz. Minhas mãos cruzadas sobre o peito e alguém dirá: "ele bebia demais". O outro que "ele fumava demais". "Não, ele dormia de menos".

E enfim alguém deixará escorrer pelos lábios toda a sabedoria de quem sabe enxergar "ele amava demais". E todos assentirão.

Morrerei de amor, é evidente.


Bento.

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

DE CORPO E ALMA

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É incrível como seu corpo acusa exatamente os sentimentos mais profundos de sua alma.

O ódio é anunciado pela garganta seca.
As mãos trêmulas entregam o nervosismo.
O medo faz a pele perder o brilho e a cor.
A ansiedade divide as borboletas do estômago com a paixão.
A solidão pega o tempero do paladar para si.

E a sua felicidade causa tudo isso nas outras pessoas.


Bento.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

BOLA DE SABÃO

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Quem é você? Onde está que não atende minhas chamadas? Chamadas maquiadas de intransigência.

Quem sou eu que estou aqui a imaginar donde estas e me pego pensando quanto tempo é necessário para compor-me refrão para alguém? Ó vida real...

Quem é você que supunha que o amor nunca fora o bastante e suportou a distância como quem nascera para isso? E é possível que nascera.

Quem sou eu para criticá-la se ao menor sinal de fumaça eu mesmo ateava fogo no meu próprio corpo na intenção de chamar sua atenção. Como os índios. Olha eu aqui ó!

Quem é você que passou pela minha vida e como um arrastão levara tudo o que havia de mais valor? Amor, alegria, sonhos e até o coração. Ficaram os anéis, o cofre, os carros, a prataria, ou seja, nada que eu pudesse penhorar em troca de barganhar qualquer sentimento.

Quem sou eu que ainda assim mantinha a oração agradecendo por ter você em minha vida, mesmo não tendo mais?

Eu descobri quem é você, pena que fora tarde demais.

Descobri quem sou eu, um trago num dia frio e cinza que pode ser bom ou ruim, porém sempre levará alguém a ilusão da capacidade de ser aquilo de que não pode.

Você é o amor que estava no ar, se foi com o sopro, que deu vida a bola de sabão, que subiu ao céu e explodiu.
Deixando pedacinhos de solidão.


Bento.

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