sábado, 12 de maio de 2012

PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DA RESSACA


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Confesso que penso em minha insistência de exaltar o álcool, bem, convenhamos, me saio melhor falando sobre o que gosto.

Então estamos todos no bar e o testemunho da alegria está estampado no rosto de todos em volta. É uma fraternidade talvez ilusória -- sei que alguns vão dizer -- e eu não vou argumentar, porém acredito que transborda a sinceridade no porre, pois bêbado não mente, assim como as crianças e quem não gosta de voltar a ser criança mesmo que só nas verdades vomitadas?

Eis que tenho a ressaca como uma das minhas melhores amigas, tanto que a trato como senhora Ressaca, assim como trato o tédio como Tédio. Tanto respeito que sinto que merecem nomes próprios.
Sempre disse que escrevo melhor quando a Ressaca me faz companhia, assim, desacelerando meus pensamentos e dando um rumo as palavras como um quebra-cabeça. Recita em meus ouvidos frases flutuante de meu inconsciente.

Eu não tenho a pretensão de explicar o que é uma ressaca daquelas de deixar os pelos do corpo arrepiados e as mãos trêmulas. Prefiro que sintam na pele, mas como disse para uma amiga “nipo-nordestina”, gosto de analisar as coisas, mais que isso, dentre tantos vícios, sou viciado em análise. A ponto das pessoas próximas dizerem "Bento e suas teorias", a reflexão é o lubrificantes das engrenagens do cérebro.

Então eu falo de ressaca como se fôssemos parentes próximos. Ela me dá o que eu quero e eu tiro proveito disso.
É desnecessário dizer que em toda relação existem abalos nas estruturas e nem sempre são flores.

 Quem conhece sabe que a Ressaca é tendenciosa, tenderá sempre para a falta de escrúpulos que tem consigo mesmo, o segredo está em colocá-la em seu devido lugar.
Não sei quanto ao resto, mas a pós-embriaguez possui personalidade, portanto haverá dias que ela te visitará com um humor totalmente lamentável, que chega a lembrar o Tédio, é quando ela inspira músicas, parábolas e apelidos como "Maldita Ressaca".

Tem dias que ela baterá na sua porta com flores e chocolates fazendo você sorrir com as histórias da noite anterior, mesmo daquelas que não nos orgulhamos tanto. É como encontrei-a parada no pé da minha cama hoje cedo, vigiando meu sono  e coleções de sonhos esquecíveis. Me deu um belo beijo de bom dia e serviu-me de café fresco e cigarros. Então sentei na cama para ouvi-la e juntos criamos planos mirabolantes para consertar as falências de pudor da noite anterior. Como é sábia a Ressaca.

Vou confessar aqui que algumas vezes bebo só para ter a ressaca em minha companhia, uso os destilados como convite -- venha tomar um café comigo e colocamos a fofoca em dia. Eu digo.

Agora eu vou mais longe e dizer que existe uma purificação na ressaca, há um desprendimento das canalhices mundanas no sentido de criar uma hegemonia dos sentimentos passionais que ficam todos ao seu favor na intenção de arquitetar uma compreensão mútua entre você e esses sentimentos.

Dito isso, sinto uma imensa vontade de achar que a origem da palavra ressaca deveria ser "cura da alma" mesmo em sua falência.

Mas eu sei que sou um romântico e possuo a tendência de fazer parecer "bom moço" todos e tudo que me faz bem, porém tenho adquirido uma política de "morde e assopra" que nem mesmo eu entendo e sei donde houve início. Sendo assim, fingirei polemizar citando àquelas características físicas e lúcidas como dores de cabeça, apologia à preguiça e sede que beira a demência. Bom, na verdade eu mudei de ideia, não vou cometer a sobriedade -- até porque não estou sóbrio -- de citar as características físicas da ressaca. 


Bento.

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2 comentários:

Devaneios disse...

Gosto do seu estilo de escrita e achei muito interessante essa personificação da Ressaca, como ajudante para reflexão...
Mas prefiro continuar sem a companhia dela, rsrsrs.
Tenha um ótimo fim de semana!

Pandora disse...

Já me falaram da embriagues e seus benefícios inúmeras vezes, mas ninguém nunca me falou da ressaca!!!

Bem, menos mal que agora sei que mesmo ela é uma companhia e companhia é tudo o que as pessoas desejam (mas essa é minha teoria).

Ah, ainda não conheci a embriagues então logicamente não conheço essa parente dela... Mas me disseram que ninguém chega aos trinta sem tomar aquele porre, tenho 4 anos pela frente...

Isso não é face, mas eu curtir a narrativa!!!