terça-feira, 19 de junho de 2012

UM OLHO NO PEIXE E OUTRO NA GATA (FUTEBOL)


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Hoje é dia de Corinthians e estamos todos no bar, é claro.
Todos devidamente uniformizados e com cervejas nas mãos, menos eu. Eu tomo Dreher, afinal, além da "dureza", é a forma mais fácil de ficar "simpático" gastando pouco.

Ao meu lado -- não ao lado exatamente, mas em meu campo de visão -- existe uma estudante de jornalismo inteligentissima e linda de uma forma pré-colegial. Aquela que lembra professoras do jardim de infância, mas agora eu tenho libido de adulto, uma combinação quase explosiva.

Então temos a estudante com uma sensualidade de mulher e um rosto de menina conversando com um qualquer. Logo estamos dividindo a atenção dos lances perigosos na área do meu time em pleno jogo de libertadores com o (tomara que não) casal conversando.

Falando do jogo, está chato. Truncado no meio de campo o time adversário ataca mais. São as faltas que fazem o jogo travar no zero a zero, bem como o casal que eu observo. Eu gosto do placar do casal, do jogo, eu quero mais é ver gol do Timão.

Por falar em zero a zero, observo sem ouvir a conversa do casal por causa dos corintianos no bar pulando e cantando os hinos da torcida como no estádio.
Eu não pulo para não derrubar o Dreher e porque acho que em bar não se pula, sim no estádio, mas não no bar.
Quero beber, ver o Corinthians ganhar e a lindíssima estudante, agora já bêbada, sair ao menos, sozinha.

Eu levo um terço no pescoço, não que seja religioso ou devoto, eu diria que é mais estética, porém nada impede de apelar para Deus quando o jogador do time adversário está de frente ao nosso gol. Não apelo pelo casal, pois não acredito que haja intervenção neste caso.

Meus olhos seguem lá e cá e penso que poderia prestar mais atenção no jogo, afinal dependemos da vitória hoje, para seguir em frente no campeonato. Só que a garota me encanta de tal maneira que dependerei da situação entre a estudante e o desconhecido para terminar a minha noite bem.

O juiz causa discórdia no jogo apitando mais faltas para o outro time, mas pode ser só a visão de torcedor. Claro que a essa altura do jogo, o empate jogando fora de casa, não é de todo ruim. Meu time entende isso e passa a jogar na defesa, bem como a estudante que se afasta do periculoso e eu me animo.

A torcida adversária passa a jogar copos de mijo em nossos jogadores ao cobrar escanteios e meu sangue começa a subir, da mesma forma meu ódio ao ver a linda universitária começar a colocar os cabelos atrás da orelha e arrumar a bolsa em seu ombro, inquieta, sinal clássico de que o indivíduo estava obtendo sucesso em sua empreitada. Algumas mulheres dão sinais, que o homem que se preze tem de saber identificar.

Bom para o autor que o menino não soube aproveitar da embriaguez e gestos da garota e excelente que o zagueiro do meu time tirou uma bola praticamente em cima da linha. Logo, eu fiquei dividido entre a TV, a garota, as pernas da garota, o Dreher e o cigarro. Nessa soma, agora o jogo tinha mais de minha audiência para que passasse despercebido na observação do casal.

O cronometro corre sem parar, quem não corre é a bola, que não chega ao ataque para que possamos abrir o placar. O Dreher tomando conta de minhas veias e o casal tomando minha atenção, afinal a garota das pernas maravilhosas voltara a colocar os cabelos atrás das orelhas, sorrir, mexer na bolsa e se aproximar do maldito que também era estudante.

Os torcedores continuavam a gritar e pular ao meu lado, até que acontece uma falta perto de nossa área, muito perto. Apreensivo eu já estava, pois a garota estava preste a se despedir da ameba ambulante que passou conversando durante todo o jogo. Se fosse, seria agora, na despedida, que aconteceria o beijo que faria eu, no mínimo, querer ficar muito bêbado e desanimar.

A barreira estava feita, os jogadores se empurravam e andavam para frente disfarçadamente no intuito de diminuir o espaço e visão do batedor. Eu disfarçadamente cruzada os dedos para que a garota fosse embora sozinha e sem beijo.

O juiz tomava distância pronto para apitar e permitir a cobrança, os torcedores do estádio e do bar roendo as unhas. Um silêncio tão devastador que quase consigo ouvir o que o casal conversava, quase, mesmo assim não era possível.

O juiz apita, o cobrador não vai imediatamente para a bola. Faz drama. O mesmo drama que a garota faz para se despedir. O cobrador já está a dois passos da bola e o casal tem agora, suas bocas tão próximas que sentiam o hálito um do outro. O camisa 11 bateu na bola com jeito e ela viaja sem pressa em direção ao gol. Meu goleiro dá passos largos para o lado como um caranguejo e mantém seus olhos esbugalhados. A mão do cretino está no pescoço bem abaixo das orelhas da estudante. Queria eu, ser vesgo neste momento para poder olhar para os dois lances. Um olho no peixe e outro no gato. A bola ia em direção ao gol e o goleiro tentava acompanhá-la. As bocas se aproximaram e já faltavam poucos centímetros para que até seus cílios se tocassem.

Em onde eu fixaria os olhos eu não sabia. Na bola ou nas bocas? O goleiro pulou e passou despercebido pela gorducha seguindo seu caminho em paz até a rede. Nada poderia lhe impedir, nada a abalava. Os zagueiros já não se mexiam dentro da área. O cobrador inconscientemente já se dirigia a sua torcida para comemorar o gol da classificação que parecia inevitável. Eu já me preparava para o beijo inevitável. A bola foi. NA TRAVE! E caprichosamente saiu de campo por cima do travessão. A boca do garoto seguiu em direção a linda e deliciosa boca da garota e numa esquiva típica de mulher difícil encontrou apenas sua face esquerda.

Todos pularam e comemoraram como se fosse um gol do nosso time, a bola para fora, é claro. Até eu pulava e o Dreher foi pelos ares e serviu aos santos. Mas eu. Eu comemorava a solidão da garota a caminho de casa.

E o jogo? Ora, quem liga para o jogo?


Bento. 

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