terça-feira, 10 de setembro de 2013

QUAIS SUAS INTENÇÕES COMIGO?

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Sei que pode ser um pouco tarde para lhe perguntar isso: mas quais as suas intenções comigo? Pareço agora um pai inquisitor do século passado, mas qual a sua intenção comigo, ou melhor, quais eram suas intenções comigo? Afinal, acredito que isso já virou passado. Para mim virou passado recente, para você nunca foi presente, sequer futuro.

Bem, adianto-lhe: minhas intenções com você sempre foram as piores possíveis. Desejei lamber-te dos dedões dos pés até as orelhas. Passando por suas costelas à mostra devido a magreza e chupar-te até desatar a esfera do piercing que tenho na língua com a ajuda de sua pélvis. Incessantemente, incansavelmente, prazerosamente. Abriria mão de minha ereção, apesar de ser inevitável, afinal, trazendo-lhe tanto prazer eu chegaria ao ápice da libido tão logo. Claro que como um gentleman que sou, só após você, primeiro as damas. No entanto, quais suas intenções comigo?

Desculpe-me o linguajar. Talvez não esteja acostumada com tanta sinceridade, pelo menos com uma verdade tão invasiva. Só que sou um homem que já não tenho nada mais a perder. Quais as suas intenções comigo?

Ora, ora. Não quero que pense que minhas intenções com você tratam-se somente de libido, todavia eu já expliquei-me tanto sobre todas as outras coisas que me tornei clichê e eu odeio clichês. Para não cometer tamanho pecado com minha literatura deixo de lado e falo somente sobre o que ainda não disse. Menos açúcar, mais limão e neste caso, me dou razão quando digo: o limão é sempre mais azedo quando está só.

Abro um parêntese agora para dizer que nossa atual relação de ação e reação através da escrita é o mais próximo da realidade do que qualquer diálogo que tivemos durante meses Só que sinto em dizer: Foi fraco, bem fraco. Fico imaginando sua vontade de dar uma resposta aos meus textos e penso que ainda falta muito. Precisa praticar mais. Eu já achava que você era melhor que isso, hoje não tenho tanta certeza. Na intenção de usar palavras fortes para despejar toda sua melindragem em forma de insultos no máximo faz lamentar-me, não pela tentativa de agressividade, mas pela mediocridade do insulto. Eu creio que merecia, pelo menos, um texto melhor. Não é opinião, é a verdade. Gosto assim.

Deixando todo o clichê de lado e destilando toda a minha amargura de solitário por todo o processo de enclausuramento que eu já citei antes assumo que de todas as suas opções eu sou talvez a pior. Talvez? Não, não. Sou a pior opção de todas as opções em toda a história. Enquanto você, que diz utilizar-se da razão está mais que certa. Mas qual a sua intenção comigo? Pois se for como amigo, esquece! Sou o pior amigo de todos os tempos. Um amigo horrível, tanto que eu mesmo desdenho de minha amizade.
Tenho amigos com filhos que sequer conheci. Tamanho meu insucesso em amizades que estes filhos atingirão a maioridade, entrarão na faculdade e sequer terão um rosto ou um timbre de voz para ligar a minha imagem. Logo, não cometerei a heresia de ser seu amigo. Jamais!

Pode me chamar de cuzão, covarde, caipira, bundão, calhorda. Crie insultos se quiser, tão criativa que tu és, estará sempre certa. Só não me peça o que eu não posso te dar. Como amante sou melhor, sempre fui.
Melhor que ser filho, irmão, amigo, empregado, fui amante. Não sempre, mas aprendi com os erros. Talvez devido aos traumas, me tornei um amante incrível e um ser humano péssimo. Sou desatento e escroto até comigo mesmo, mas me cobro para ser um amante venerável. Os fins justificam os meios.

Quais são suas intenções comigo?

Insulte-me, me bata, me maltrate, porém me ame. Eu até gosto de uns tapinhas de vez em quando. Uma vez ganhei um tapa no rosto em público tamanho a canalhice que fiz e me senti orgulhoso. Não por ter sido canalha, claro que não, mas por tamanho sentimento que aquele tapa significou. Ninguém estapeia outra pessoa por nada, sem motivo. Expurgue-me, porém me deseje.

Ou você pode continuar com sua autoflagelação e vitimismo fazendo de si o veneno do mundo. Entretanto confesso-lhe que este não é seu melhor personagem. Eu sei, porque já atuei na mesma peça, com o mesmo personagem e ele cai melhor em mim, mesmo assim abandonei-o, mesmo traindo minha vaidade. Fez um sucesso danado, só que neste caso, o fim não justifica os meios. Por muito tempo ele impregna na pele e é quase impossível largá-lo. Saia dessa antes que seja tarde. Caso contrário tornar-se-á uma poetisa ranzinza igual a mim e já temos tanto em comum não precisamos de mais. Prefiro perder-te para outro alguém do que para você mesma.



Bento.

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Um comentário:

Mari disse...

Texto maneiro, Bento...
E devo dizer que esse texto se assemelha muito a uma situação com a qual lidei essa semana. É quase como se tivesse sido escrito pra mim. (só que você não seria o autor, óbvio). Enfim...