sábado, 31 de maio de 2014

ENQUANTO EU NÃO ESTAVA NO BANHEIRO MIJANDO A CERVEJA QUE EU BEBIA

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Eu arrumei um bom trabalho, na Saúde. Parece um comentário qualquer, mas na Saúde? Sim, na Saúde. Um comentário qualquer para qualquer pessoa que não perde muito tempo se apegando a detalhes. Eu já sou um detalhista de merda que não vai com a cara do Destino e já desconfio de tudo que ele faz. NA SAÚDE?! Pois é. Um bom trabalho. Eu já sabia quem morava na Saúde antes de aceitar o trabalho. Tem uma garota que mora na Saúde e não nos falávamos mais. Não falava simplesmente porque não falava. Nem"oi" nem "bom dia", nem "vá pro inferno". Nada. Eu não queria e parece que essa falta de querer era recíproca. De qualquer forma, tem mais uma coisa sobre mim que talvez eu não tenha falado. Como sou um detalhista e às vezes avoado, ando como um idiota olhando para todos os lados e procurando sabe-se lá o quê. Portanto desde o primeiro dia que arrumei esse bom trabalho ando torcendo. Procurando e torcendo. "Besteira" vão dizer e eu vou concordar. Porém procuro. É bem isso. O fato é que eu não deixo de falar com ninguém que eu não quero deixar de falar, então tinha meus motivos. Eu não queria sequer pensar e a única forma que eu conheço de não pensar é não falar, não ver, não estar disponível. Tudo isso seria lindo e belo e simples se eu não tivesse arranjado um bom trabalho na Saúde. Talvez agora vocês já devem ter começado a entender. Mas ainda fica pior. PIOR? Pior. Comigo, neste bom emprego também trabalham conhecidos em comum. Digo isso para comunicá-los, caso já não saibam, que o Destino é um sacana de merda que morde e assopra. Vão dizer que estou sendo injusto com ele e garanto que não. Tenho mesmo um pé, não, tenho dois pés atrás com o Destino. Todos já encontraram a tal garota, assim, de vista, na Saúde e o único que procura, que sou eu, não. Viram que calhorda?! Mas procuro por quê? Sabe-se lá por qual motivo. Mesmo assim, quis o Destino - ou transmissão de pensamento - ou a puta que pariu que voltássemos a nos falar. Entramos num acordo que era um pouco de besteira minha, besteira dela, enfim. Passou, já que eu não ia conseguir esquecer de sua existência no mesmo mundo que eu, ainda mais trabalhando na Saúde. Logo na Saúde.

Eu não sei também do motivo que comecei a falar sobre isso. Eu pensei em falar sobre outra coisa, mas os dedos mandam e eu faço. Gostaria de falar na verdade sobre a repercussão do texto anterior, que eu falei sobre brincos e outros itens esquecidos em casa por garotas que dormem aqui esporadicamente e algumas me perguntavam se era delas que eu falava. Eu mesmo não me lembro de textos anteriores, pois tenho uma memória péssima e foi por isso que comecei a escrever, para lembrar das coisas que acontecia no dia anterior. Então para ser justo , antes de responder eu perguntava se tinham esquecidos brincos em casa e eliminei metade das candidatas. Depois perguntava se tinham gostado do texto e foram dois terços desta vez. As que sobraram e que tinham gostado eu me aproveitei porque não sou de ferro. O único problema é que a faxineira deve pensar que eu sou um travesti nas horas vagas.

Por falar nisso, outro dia, que eu não estava bêbado, ainda, meu sobrinho estava lá em casa fazendo coisas de garotos de sete anos, que basicamente se resume em fazer coisas que caras de 26 como eu acham cansativas só de olhar. Para você que ainda não esqueceu nenhum brinco em casa, quero explicar que na parede, que dá para a porta de entrada para meu quarto, tem a frase "Não Sou de Ereções Gratuitas" escrita em letras garrafais. E no auge de sua sabedoria de sete anos, de quem lê tudo que vê, meu sobrinho leu a frase em voz alta e me perguntou: tio, tem que pagar para entrar aqui? A espontaneidade da pergunta me fez rir como há muito eu não ria e respondi de forma que sua idade não permitiria entender tamanha malícia: com certeza que tem, filho. Mas você é VIP, só prometa não quebrar nada. Depois ele ainda perguntou o que era VIP mas isso não vem ao caso.

Minha paciência com crianças se esgota exatamente em cinco minutos e muita gente acha que por este motivo eu não gosto de crianças. Essas pessoas estão cobertas de razão. Mesmo assim, são os mesmos cinco minutos que reservo também para os adultos, se é que você me entende.
Não que eu odeie todos, não, só os idiotas. Mesmo assim, talvez ainda não fosse sobre isso que eu queria falar. Tenho um amigo, o Roque, este cara adora crianças. Crianças de 14, 15 anos. Na verdade ele não faz diferença de ninguém, desde as garotas de 14 até as de 55. Uma vez ele me disse "Cara, as de 55...". Eu fingi que nem ouvi, pois minhas experiências com velhas não foram nem de longe agradáveis. Terei sérios problemas ao chegar, se chegar, aos 55.

Tem uma garota e ela já passou dos trinta. Não me é costumeiro e pode perguntar para qualquer homem e ele vai dizer que mulher acima dos trinta normalmente não faz parte do prato principal. De qualquer forma tem essa garota, que tem trinta e poucos anos e que vive me chamando para fazer uma visita. Geralmente eu não sou de visitas desde que valha a pena. Porém sou gato escaldado e garotas acima de trinta costumam querer voltar a sua infância e demonstrar um pouco de pudor acima do que se encontra nas prateleiras. Essa garota insiste na minha visita e eu tento manter-me longe. Conforme o tempo passa as desculpas meio que acabam e logo eu terei que me decidir entre falar sobre minhas péssimas experiências com velhas ou mentir, e eu ainda não sei o que é mais fácil.
Então, resumindo, as mulheres acima dos trinta e poucos me enjoam e isso é tudo o que eu tenho a dizer sobre o assunto. Mesmo sabendo que terão mulheres se defendendo de tal infâmia, acho que por hora basta.

Eu também não gosto das crianças que Roque gosta, pois ele tem a paciência de um monge tibetano, eu não. Roque me disse uma vez que de todos os amigos dele, eu era o cara que tinha transado com o maior número de mulheres. E nos conhecemos há poucos anos apenas. Eu respondi dizendo que ele precisava fazer mais amizades. Para transar com o número de mulheres que ele acha que eu transei eu teria que ter pelo menos metade da paciência que Roque tem.
Ainda tem o fato de que numa relação é preciso deixar algumas mentiras no ar para que tudo siga seu curso natural e dentro dos conformes. Já enganar uma criança é como enganar um animal, não há mérito nisso.

Voltando a falar sobre a garota da Saúde, ela me disse outro dia - enquanto bebíamos algumas cervejas e quando eu não estava no banheiro mijando a cerveja que eu bebia - que ela nunca mente. Ainda disse que nunca mentiu para mim e eu confirmei com um adendo. Ou ela não tinha mentido ou mentiu tão bem a ponto de não ser descoberta. Acredite você, no que quiser. Existem pessoas que subestimam a mentira. Uma boa mentira, ao nosso favor, funciona que é uma beleza.




Bento.

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segunda-feira, 26 de maio de 2014

O QUE É UM AUTOR SEM UMA BOA MUSA? (ETERNA NOITE DE SÁBADO)

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Eis que finalmente, depois de tanto tempo me prostrei diante do teclado, numa preguiça de urso, e parei para escrever. Tamanha preguiça que trouxe comigo a garrafa do bar e deixei ao meu lado, tudo ao alcance das mãos: whisky, copo e cigarros. Devem estar se perguntando: mas e o isqueiro? Claro que esqueci o isqueiro e tive que levantar-me para pegá-lo. Isqueiro, quando não esqueço eu perco e demoro até acha-lo, por isso eu tenho muitos. Deixo-os espalhados pelo quarto para dar corda a minha preguiça, assim como faço com cinzeiros, tenho bem uma meia dúzia deles em pontos estratégicos para que nunca falte num momento de necessidade. Raramente os limpo, se querem saber. Não limpo por preguiça, mas também pelo sentimentalismo. Sempre fui sentimental a ponto de guardar a mistura ao lado do prato para comer por último. O melhor para o final. Tão sentimental que, quando criança, tomava Yakult pelo fundo do pote que era para durar mais. Mantinha o lacre intacto, mordia o fundo, um minúsculo furo no fundo e o minimalista Yakult durava vários minutos até acabar. Lembro uma vez que bebi metade do pote e guardei metade para mais tarde. Logo, sinto sempre que esvazio um cinzeiro. Cada bituca é uma lembrança. Tenho um cinzeiro em casa que guarda bitucas de anos atrás. Um cinzeiro especial, dado por uma pessoa que não me dará nada mais que ausência, então, tão sentimental que sou, guardo.

Mas queria dizer que depois de tanto tempo parei para escrever. Ufa. Fazia tempo que não desligava a TV, preparava um drink e escrevia. Não escrevia e não era só por falta de tempo, também era falta de tempo, cansaço, mas também porque não conseguia escrever. Curioso é que até pouco tempo atrás eu estava me passando a perna, me enganando, dizendo a mim mesmo que estava tudo como sempre esteve, até começarem a me dizer que eu estava repetitivo. Até aí tudo bem, todos temos nossas fixações e obsessões. Mas foi quando me chamaram de "sereno" que eu me dei conta: estava perdendo o jeito. Por isso tive que desmarcar compromissos, fechar contas em bares, negar convites para festas, sexo, shows e me trancar para escrever. Nisso escrevi dois contos e matei uma garrafa. Fora uma noite proveitosa, à de convir.

No entanto, escrever já foi mais fácil. Antigamente escrevia em qualquer lugar, qualquer paisagem. Prostrava-me em frente ao teclado e as palavras encavalavam em minha mente. Hoje em dia é menos. Passei uma semana suando sangue para terminar um texto que sequer deveria ser visto por outras pessoas, mas em época de seca qualquer mulher vira Miss, com textos não deverá ser diferente. Alguém, não me lembro quem, talvez não seja digno de nota, me disse: - Você está fraco de musa. E ainda completou - o que é um autor sem uma boa musa?
Peguei-me pensando em tal premonição. Não consigo me lembrar quem me disse isso, mas fiquei mastigando a frase: o que é um autor sem uma boa musa?
Eu tenho no álcool uma musa interminável, sem o álcool eu seria um pé no saco. Porém, ninguém pode passar a vida escrevendo sobre uma coisa só. Um bom autor tem que falar mais, sobre mais coisas, caso contrário será um chato e nós já estamos muito bem servidos de autores chatos por aí. O dia que só me restar uma coisa para falar começo escrever livros espíritas, ou autoajuda.

Continuo sem adoecer. Não pensem que estou torcendo para pegar uma gripe ou um ataque da gastrite, porém como eu disse antes é bom sentir alguma coisa para lembrar-me que estou vivo. Não adoeci mas senti algo voltando para casa, assim, sem mais nem menos. Sentado no trem, lia Bukowski e ouvia AC/DC ao mesmo tempo. Isolado lembrei que tinha marcado hora no tatuador e o salário estava na conta, tudo parecia em seu devido lugar. Ali, naquele momento, aqueles cinco ou seis segundos eu senti algo, quase que parecido com felicidade, não sei, não posso garantir, mas bem que parecia. Depois passou. Assim como veio, passou. Recebi um telefonema logo depois e era uma garota que conheci e saímos durante um tempo. Ela talvez quisesse buscar um par de brincos ou qualquer outra coisa que ela dizia ter esquecido por lá. Tudo truque, verifiquei todos os cantos de casa da outra vez que ela ligou perguntando da medalhinha que ganhara da sua mãe. Ela queria me fazer uma visita e eu não estou pronto para ela. Eu não sou páreo para ela. Eu sou excêntrico demais e ela, normal demais. No entanto eu já sei onde isso iria parar e como iria acabar. Já conheço essa história porque ela é minha história. Passamos juntos uma noite de sábado, bebendo, fumando, transando e ela me ouvindo profetizar sobre o apocalipse social e achou que na segunda-feira eu voltaria ao normal. Pensou que eu vestiria um terno azul, pentearia meu cabelo para o lado e a levaria para jantar. Pensou que eu conheceria seus pais e eles me achariam um cara decente e que eu os acharia boas pessoas. E que almoçaríamos juntos aos domingos e eu não falaria palavrão nem beberia na frente dos velhos. Ela achou que seus parentes não ligariam para minhas tatuagens pornográficas e que eu iria à igreja aos domingos. Ela pensou que eu acharia graça dos seus amigos de infância imbecis e suas piadas medíocres. Ela achou mesmo que na segunda-feira eu voltaria ao normal depois de passarmos mais uma noite de sábado bebendo, transando, fumando e profetizando sobre o apocalipse social. O que ela não sabia é que eu sou uma eterna noite de sábado, que apesar de uma vez ter sido chamado de domingo, eu sou uma eterna noite de sábado e assim como ninguém quer viver para sempre num domingo, ninguém quer uma interminável noite de sábado.



Bento.

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domingo, 18 de maio de 2014

ALGUMAS PESSOAS BEBEM E PARAM. EU NÃO INVEJO ESSAS PESSOAS

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Uma das poucas coisas que eu acho aceitável no Brasil é a quantidade de feriados. Evidente que alguns especialistas dirão que numa sociedade séria isso seria inadmissível, portanto soa-me um tanto incoerente de minha parte, porém nunca enganei ninguém falando que eu gosto de trabalhar. Como diria Bukowski: trabalho só serve para manter quatro paredes em volta da gente, um homem que tem quatro paredes pode vir a dominar o mundo. Eu diria que trabalho serve para ter quatro paredes e uma garrafa de qualquer coisa alcoólica. Existem momentos em nossas vidas que qualquer coisa alcoólica, por pior que seja, já é um bom motivo para sorrir. Evidente que eu já passei desta fase e posso me dar ao luxo de escolher o líquido que vai me embriagar, por isso, em vista de mais um feriado, tratei de abastecer o frigobar com felicidade gelada e o balcão caseiro com felicidade quente, com isso planejei "viajar" todos esses dias de folga e foi o que fiz.

Conheço algumas pessoas que bebem um pouco e param, como quem guarda alguma coisa para o futuro, ou esconde alguma coisa. Bem, eu não invejo essas pessoas. No caminho de volta da loja de bebidas vi um cachorro morto e pensei; este poderia ser qualquer um de nós. Nunca entendi, por exemplo, a frase sobre copo meio vazio e copo meio cheio, acho um desperdício de qualquer forma. Eu sempre esvazio o copo e encho de novo e sigo assim até que não sobre mais nada. Notou a diferença?

Pensei em guardar o feriado para escrever e acabou que não dando certo, acabei recebendo visitas que trouxeram mais visitas e no fim demos uma festa que durou dias e tive que expulsar algumas pessoas, caso contrário estariam em casa até hoje. Quando se está bêbado numa casa cheia de outros bêbados não há espaço para privacidade. Divide-se pensamentos, quartos, cama, banheiro e tudo é uma coisa só. Copos passam de boca em boca, cigarros passam a não ter dono e todos se alimentam da embriaguez do outro, bem como o soluço, ao beber com alguém bêbado acabamos ficando bêbados igual. Bebíamos e ouvíamos música, gemidos, conversas paralelas e chegamos à conclusão que ao beber despertamos instintos que sequer conhecemos. Sempre fui um cara de beber para ficar bêbado e gostar disso, me gosto mais bêbado que sóbrio, inclusive gosto mais das pessoas quando bêbado. As melhores coisas da minha vida eu fiz bêbado, talvez as piores também, mas não vou tirar o tesão do momento por causa de algumas pequenas coisas. O fim nunca será mais importante que o começo, exceto quando estamos falando sobre sexo.

Outro dia estava eu no bar e encostou um cara, daquele típico cara que joga dominó na frente do boteco e pendura a chave do carro no bolso junto com o pé de coelho. Barrigudo, um cavanhaque que ele deveria manter desde a adolescência e careca, uma careca lustrosa. Me ofereceu um drink, eu neguei e isso foi motivo suficiente para ele achar que poderia puxar conversa comigo. Nunca fui de conversar muito no bar porque caras de bar normalmente são mentirosos e esse indivíduo não era diferente. Ele dizia-se muito rico e já tinha comido mais de quinhentas mulheres só nas horas que passamos ali bebendo, que foi o tempo que ele teve para contar mentiras. O fato é que a maioria das pessoas mentem quando falam sobre sexo. Algumas pessoas aumentam, outras diminuem os fatos, mas todos mentem. Anos atrás, quando eu tinha um pouco mais de humor conheci uma garota que falava quase que sem respirar. Estávamos sentados numa mesa bebendo algumas cervejas e ela falava, falava... Já tinha feito de tudo. Sexo com três caras, três garotas, dizia que tinha feito sexo numa moto em movimento e tudo mais. Com ela era sem pudor, ela dizia. Fazia o diabo e poucos homens era páreo para ela. Eu logo entendi aquilo como um desafio e eu tenho um sério problema com desafios e apostas, pois normalmente venço e vitórias viciam. Como eu não corro de desafios fui preparado e concentrado. Pedi duas doses de whisky, virei as duas, uma após a outra e saímos daquele bar medíocre para um lugar que pudéssemos ver o circo pegar fogo.
Adianto que a tal garota não era grande coisa, não tinha um rosto que faríamos nos sentir orgulhosos de andar de mãos dadas ao seu lado, mas é difícil ter alguém com o dedo em riste mirando seu rosto dizendo-se melhor que você. Já no quarto o whisky começara a fazer efeito e todo homem sabe que whisky retarda o prazer mais que qualquer coisa neste mundo. Naquela luta as doses misturadas com uma porção de cerveja seria minha armadura e partimos para a briga. Era tudo mais-ou-menos e a garota era uma boneca, a única vez que se mexeu foi para ir até o banheiro. Acabou que eu mandei a garota à merda e fui brigar sozinho em casa. Mas tudo bem, isso não é motivo para se matar, no máximo mais três ou quatro doses de whisky para esquecer a noite ruim.
Eu nunca fui bom em matemática, mas sei que as estatísticas são cruéis. Quanto maior o número de vezes que você repete uma ação maior é a chance de alguma coisa sair errado. Se eu não estivesse tão bêbado nas aulas de matemática eu poderia dizer que alguma professora minha já tinha dito isso. De qualquer forma, o que eu quero dizer é que quanto mais garotas você conhece, maior é a chance de você se dar mal ou deparar-se com coisas bizarras.
Teve uma outra garota, e reparem que em nenhum momento citarei nomes porque não importa, essa garota tomou toda a atitude, desde o convite para beber uma cerveja até o convite para sairmos do bar para um lugar com quatro paredes que nos fornecesse privacidade. Não importa quantas vezes uma garota tome a atitude do convite para o sexo, isso sempre causará surpresa e não é só porque torna as coisas muito mais fáceis, é porque sai daquele estereotipo de mulherzinha que precisa ser enganada. Talvez isso venha causar certo incômodo para quem estiver lendo e tomarão o fim da história como uma vingança do destino contra a opinião divergente do autor, mas eu não acredito nisso, acredito na lei da estatística. Então, voltando ao bar - bebemos cervejas até não caber mais garrafas da mesa e foi quando recebi o convite para saímos de lá. Eu conhecia todos os motéis próximos, dos mais caros até os cubículos que dividíamos com baratas. Pendurei a conta no bar e fomos procurar privacidade.

Não me lembro bem do motivo pelo qual não conseguimos um quarto. Talvez o fato de ser sexta-feira 13, talvez pela idade da garota que era segredo até aquele momento, o fato é que decidimos pegar o trem para minha casa e continuar bebendo por lá. Eu, como todo bebedor de cerveja que se preze, mijava de cinco em cinco minutos e tratei de procurar um banheiro de algum bar. Já a garota não se rendeu à sua bexiga dizendo ter nojo de banheiros de bares. Entendam, naquela noite bebemos litros e mais litros de cerveja e ela não tinha se esvaziado nenhuma vez. Eu deveria ter previsto algo do tipo, alguma coisa estava ou tornar-se-ia muito errada com o passar do tempo.  Resumindo a história, já dentro do trem a caminho de casa, a tal garota de atitude que tinha nojo de banheiros de bares e que segurava a vontade de urinar por muito tempo acabou se aliviando ali mesmo, no trem, na minha frente e de mais três ou quatro bêbados que também voltavam para suas casas. Aliviou-se ali, com sua calça jeans mudando de tom devido ao líquido quente escorrendo pelas pernas.

Entende o que eu digo sobre estatísticas? Se você está praticando tiro ao alvo com bitucas e acerta as três primeiras vezes que tenta, as chances de acertar a quarta são bem pequenas. Com mulheres também é assim, quanto maior o número mulheres que você conhece maior é a chance de encontrar esse tipo de situação digna de ser contada em um bar com os amigos tomando cerveja e falando merda. Ainda não é motivo para cortar os pulsos, é só uma história que arrancará risadas e pronto. Mesmo assim eu admito que estou enchendo linguiça. Há duas semanas que eu tento terminar esse texto e não consigo. Não consigo porque duvido da qualidade de tudo que escrevi até agora. Escrevi e apaguei e escrevi e tornei a apagar pois tudo era uma merda do tamanho do mundo. Numa de minhas tentativas isto seria um conto, um péssimo conto, por sinal, onde eu conversava com um bêbado irritante no bar, porém, não sei se leram, mas publiquei algo semelhante duas semanas atrás, que já era semelhante ao que tinha postado três semanas atrás, portanto apaguei e me ofendi por ser tão repetitivo. Fiz mais quatro ou cinco tentativas depois destas e todas eram uma merda e esta, muito provavelmente não seja melhor, mas também, que se foda. A maioria das pessoas que leem isso regularmente não estão com essa bola toda, então vamos nos contentar com o que temos hoje, amanhã é outro dia.



Bento.

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sexta-feira, 9 de maio de 2014

GIULIARD BORSANDI IX

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Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI VIII

Quando finalmente parei de correr percebi que inconscientemente ia à direção do Planalto Night Club, o bar que tem a Barwoman mais gostosa da cidade, Jamaica. Isso era um sinal do destino para que eu voltasse a beber. Bem, talvez o destino não tivesse nada a ver com isso, no entanto estava com sede e sóbrio, duas coisas que não combinam. Eu também precisava comemorar mais um caso encerrado, onde finalmente tinha pegado Janaina.

Na frente do motel, sabia que não teria mais que uma chance para tirar as fotos do seu caso, pois o flash denunciaria que eu era um cagueta mal intencionado. O monte de merda, digo, monte de músculos que estava com a mulher do pastor com certeza iria querer mostrar sua virilidade e tentaria arrancar a câmera de mim, assim como tentou. Ajustei a máquina para 10 poses simultâneas e esperei o momento certo e a sorte estava ao meu lado. Fechei o caso com dez fotos de um beijinho de boa noite, foi lindo.

Assim que Janaina e o retardado viram a luz do flash iluminar a rua corri como um maluco com o Pitbull em forma de gente no meu calcanhar, mas eu fui mais rápido. Sempre corri bem, hoje em dia não tenho muito fôlego por causa dos quarenta cigarros que fumo diariamente, então sabia que além de rápido eu teria que despistá-lo antes de meus pulmões desintegrassem e foi o que fiz. O cara era muito músculo e muito lerdo, provavelmente não exercitava as pernas.
Entrei no bar e comecei a ficar bêbado novamente.

 - Olha só quem apareceu novamente. Me recepcionou Jamaica assim que voltei a me sentar no bar - Se arrependeu e foi atrás da coroa?

 - Não. Fui terminar um trabalho.  Respondi.

 - E teve sucesso?

 - Muito. Vou ganhar um bom dinheiro e quem sabe tirar alguns dias de férias.

 - Humm bom pra você. Está mesmo com cara de quem precisa descansar. Disse Jamaica tocando meu rosto com a mão e logo depois ajeitando os pelos de minha sobrancelha. Era isso que me tirava do sério, mesmo com gestos simples parecia que ela sempre cuidava de mim.

Fiquei no bar mais algumas horas, quase até a hora de fechar e estava bêbado, muito bêbado.
Segui cambaleando até o escritório pelas ruas apertadas e idênticas do centro de São Paulo. Estava quase perdido, mas estranha e inconscientemente sabia em quais ruas virar e atalhos pegar. Bêbado que é bêbado sempre chega em casa. No meu caso, ao escritório. Eu estava cansado de andar, pode-se dizer que virei uma rua errada e logo depois me achei e voltei ao caminho certo, porém, essa esquina errada me fez andar por mais de meia hora sem necessidade. Na condição que eu tava, andar não era tão fácil como parece. Tanto tempo sem comer e a alta quantidade de whisky em meu corpo fez com que minha visão ficasse turva como se eu estivesse usando óculos fundo de garrafa sem precisar. Para conseguir acender o cigarro ou olhar as horas no celular eu precisava parar de andar e tapar um dos olhos com a mão. Então eu continuei andando e faltavam algumas travessas para finalmente eu poder esticar minhas pernas e dormir boas horas de sono no colchonete que guardo num canto do escritório do detetive particular mais bêbado do mundo.

O bom de estar alcoolizado é que aquela sensação maldita de solidão, baixa autoestima, depressão e autopiedade iam para o ralo com litros de urina que eu mijava de cinco em cinco minutos andando. Minha bexiga sempre foi uma merda. Talvez todos os bêbados do mundo usem esse argumento como desculpa para beber, mas no meu caso era uma verdade incontestável e eu tinha muita coisa para esquecer e me esquivar.


Após andar tanto, parei em frente a uma lixeira na calçada de uma agência do correio e coloquei boa parte do destilado que Janaina tinha me servido para fora em fortes jatos de vômito. Era pura água com cor de bosta e um cheiro horrível de algo podre e cítrico, era nojento. Mais um jato e depois outro e outro. Os olhos derramavam lágrimas por causa do esforço involuntário que o corpo fazia para expelir o álcool e o nariz derramava vômito misturado com catarro que juntavam-se com o líquido estomacal que saia da boca e era um festival de coisas nojentas e fétidas.


Bento.