Poucas coisas no mundo são mais sensuais que ver uma mulher se maquiando.
Quem mora em São Paulo
está acostumado. Por causa da correria diária, a cidade das multidões, é comum
deparar-se com alguma garota maquiando-se nos coletivos, nos metrôs e etc.
Não importa muito se a
mulher é linda ou se é um furúnculo em forma de gente. Claro que quanto mais
bela melhor, porém, é a ação que encanta.
Falo da concentração,
da técnica, de cada movimento cirurgicamente calculado.
Primeiro a sombra nos
olhos marcantes, é a preliminar do encanto.
O lápis em torno dos
olhos e já temos o feitiço pronto.
É como se eu estivesse
olhando pelo buraco da fechadura. Estou ali, mas não estou ali. Elas não ligam,
quem é você? Onde está? Como se chama? Não importa!
É a intimidade quem
comanda cada movimento e, quem melhor que as mulheres para reger aqueles bastões,
pincéis, e pós? Como um maestro numa orquestra, nos tira da lotação e aperto
dos coletivos e nos levam ao céu de primavera infinita. O que é trânsito mesmo?
O rímel me faz lembrar
que os olhos jamais podem ser lavados por lágrimas, não os dela. Chorar e
estragar todo aquele trabalho artístico-artesanal? Não! Nenhum de nós somos
dignos disso, seria como tacar fogo num Picasso, num Da Vinci.
Dou uma pausa na
sequência dessa apologia à beleza. Dessa manifestação afrodisíaca para pensar.
É assim, me perco no ato do embasamento feminino. Sou um tolo - talvez digam os
machistas - provável que seja mesmo um tolo, mas poucas coisas me fazem
esquecer das contas a pagar, dos problemas de relacionamento, pessoais,
profissionais e, vê-las ornando narizes, testas, queixos. Somos nós, homens,
todos escravos da manifestação íntima que nos intima a parar e idolatra-las por
nos conceder tal visão que Deus, provavelmente, criou em seus melhores dias.
Faço então essa pausa,
quando já estou completamente perdido em libido, em feitiço e sabor, para
lembrar de uma antiga namorada. Era ela linda como poucas que eu já vi, porém
não usava um batom sequer. Não precisava, fato. Mas um dia, não me lembro agora
de quem foi a ideia. Se minha ou se dela. Na verdade, acho que foi minha. Mas
bastou um lápis nos olhos e eu sabia que iria amá-la para sempre. Eu já sabia
disso, porém foi ali que eu tive certeza. Amaria para todo sempre aqueles olhos
com lápis e tudo que vinha com eles.
Bem, claro que, o meu
"para sempre" durou mais que o "para sempre” dela e hoje ela
desistiu do lápis nos olhos. Sobrou a ela as madeixas endurecidas por parafina.
Para mim? Sobrou, bem...
Bento.
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2 comentários:
Gostei muito do seu texto Bento e da forma de como se refere a mulher em suas palavras bem colocadas. Parabéns! Abraço!
Seu texto é lindo. Porque você consegui captar, na simplicidade a beleza de uma ato rotineiro da mulher a força de seu amor que pra você ainda não passou. Parabéns seu texto é admirável.
[larysalgueiro.wordpress.com]
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