segunda-feira, 1 de julho de 2019

AQUI VEM O JOHNNY ep4

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Foto de APOLLONIA SAINTCLAIR


Ainda é quinta feira e não há dia mais tedioso. Quinta feira é muito longe das segundas, o que nos faz sentir muito cansaço e é muito longe da sexta que nos faz sentir ainda mais cansados. É o centro de uma semana que pode ser muito boa ou uma merda. No meu caso, uma bosta. Como todos os dias. A parte boa é que preparei uma marmita com o restante do jantar de terça ainda. Fiz uma pururuca com o mamilo que ficou uma delícia. Um pinguinho de limão e hummm. Para quem nunca tinha provado carne humana até que me saí bem. Cortei em bifes e refogue com azeite. Uma verdadeira iguaria para comer tomando uma cerveja. Mas bem que poderia ser uma boa taça de vinho, vai de gosto.
Meu psicólogo sempre disse que o ideal é que eu não fique entediado. Ele diz isso para que eu não fique pensando besteira e acabe sendo pego fazendo alguma merda. Meu psicológico diz sempre para eu nunca agir de cabeça quente. Planejar é o melhor negócio, porém não é meu isso. Então acabo esfaqueando alguém pelo simples fato de me irritar e o tédio me deixa irritado e quanto mais irritado mais corpos são deixados para trás e maior o risco de me pegarem.

Quaresma sempre me disse que assinatura é para vaidosos. E vaidosos sempre são pegos porque querem ser pegos. Eu só sinto prazer em limpar o mundo de idiotas. É simples. Sempre tivemos uma boa conversa. Ele é uma das poucas pessoas que minha paciência permite conversar por mais tempo. O problema é que a hora é bastante cara, o que dificulta falarmos mais. Ouço dele que entre seus pacientes sou aquele que tem mais potencial e isso me deixa feliz. Mas é difícil não admirá-lo. Só não suporto sua secretária, mas ele foi bastante enfático ao dizer que qualquer um que tocasse num fio de cabelo dela teria das mortes a mais demorada e sofrível e fica difícil não acreditar quando seu queixo pontudo mira seu rosto e seus olhos queimam feito brasas.

Então para não desviar tanto do assunto, digo que para fugir do tédio pensei em convidar alguma garota aos meus aposentos. Na lista de telefones não encontrei nenhuma que me enchesse os olhos e é bem verdade que carne humana tornou-se uma especiaria da melhor qualidade além de me despertar o paladar e talvez eu queira repetir. Pensei em uma prostituta, contudo nunca se sabe quais doenças essas pessoas podem trazer bem como os mendigos.

Fim de expediente e ainda tenho o gosto da minha marmita na boca. Foi quase como um orgasmo degustativo. Saio do prédio, me surpreendo com a chuva e eu odeio chuva. Estava tudo bom demais para ser verdade e eu deveria ter percebido que quando tudo está calmo demais logo acontece algo para foder com a vida. Então acho melhor correr até a marquise mais próxima, acendo um cigarro e não demora muito para passar um táxi. Entro fumando e ele me pede que jogue o cigarro fora. O que faço não muito contente. Eu sou da época que se fumava em qualquer lugar. Em restaurantes, bares, elevadores, lojas. Agora é proibido fumar em todo lugar e não demora muito vão proibir o fumo mesmo na rua.
Dentro do táxi o motorista puxa aquelas conversas sobre chuva, tempo, qualidade do ar e eu dou sorrisos simpáticos obrigatórios. E já disse que odeio me sentir obrigado a sorrir. Ele é um sujeito gordo e peludo. Quero matá-lo já, mas não sei se quero comê-lo. Ou talvez, a picanha dele deve ser de um sabor muito bom, já que ele aparenta um leitão. Ele cheira a suor e isso me deixa mais estressado ainda. A chuva acontece como um evento, como se não chovesse há séculos e eu acho desnecessário tanta água. Ele ouve uma rádio bosta que por muita sorte começa Dire Straits, tocando Walk of Life e só por isso eu ainda não tirei meu canivete do bolso e cortei-lhe a garganta. A música me acalma e salva a vida do taxista. Então olho pela janela e lá tem um casal dividindo o guarda-chuva e eles são tão feios. Um casal de pessoas estranhas e magras e cabelos sebosos e seus ossos saltando a ponto de agredir os olhos. O cara é magro e alto como um poste de luz, tão feio quanto um totem mal feito, óculos fundo de garrafa e uma roupa preta como metaleiros adolescentes. A garota tem bem menos altura, mas não perde nada para a magreza de seu par a ponto de sua calça jeans sobrar no cós e aparentar um saco de bosta ou uma frauda. Em questão de segundos meu humor vai para o limbo e eu preciso descontar minha raiva e penso que posso muito bem trocar o saco de banhas pelo casal ossudo afinal dois é melhor que um. Pedi para parar o carro, pago o táxi e sigo atrás daquela judiação de casal. Logo imagino o filho que pessoas como estas podem gerar. Eu prometi limpar o mundo de idiotas e isso também inclui pessoas muito feias. Eles viram a esquina e eu vou atrás. Mesmo com a chuva forte viro a esquina e não poderia ser mais perfeito. Mal iluminada, comércio fechados, casas abandonadas. Eles imploram para que eu os mate. E na minha cabeça toca o riff de teclado da Walk of Life. Sorrio e digo baixo “Aqui vem o Johnny”. E eu vou fazer uma canção sobre a faca. Alcanço o casal ao ritmo da música e com cuidado agarro por trás o magrelo alto e seu pescoço fino não cria muita resistência à lâmina da minha faca. O sangue esguicha para todas as direções e parte dele mira o rosto da garota. Paralisada e com o rosto ensanguentado ela nem vê o corpo do namorado cair como merda no chão e duvido que ouve o baque de sua cabeça acertando o cimento da calçada. Rápido e indolor. Ao ritmo da música seguro o pescoço da garota com força e faço o primeiro furo em seu abdômen. Ela praticamente se entrega, apenas se esforçando para suplicar por sua vida achando ser um assalto. Ela não sabe que não tem nada que me interessa, exceto o seio, ou a parte interior das coxa, talvez. Olho em volta e somos só nós na rua. Nós e a chuva. Furo seu estômago no compasso do teclado e canto. Mais uma facada e solto um “Uhun” assim como o cantor faz.

Finalmente chego em casa. O jantar está na mesa.



Bento.