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Veja as novidades como
mariposas de lâmpadas nas noites de calor. Vem de repente e assim como chega,
parte, deixando suas asas na memória.
É claro que estou
falando da garota de olhos semipuxados. Ou podem ser semicerrados, pela falta
de óculos.
Tudo bem. Me peguei
acusando-me de sanguessuga. Não pejorativamente, evidente que não. Não faço mal
a ninguém, exceto a mim mesmo.
O que eu quero dizer é
que utilizo de artifícios e esperanças conta-gotas para tornar as noites frias
mais agradáveis. As manhãs menos sombrias. Confesso, confesso, confesso.
Mas eu sou só uma
relação de má fé comigo mesmo. Não sou de me gabar, portanto prefiro respirar
cautelosamente. Quase que pisando em ovos eu sigo
remediando autopromoção.
Alguns nomes eu
invento. Outros eu escondo para manter o rumo da história sem tanta
intromissão. As histórias não são todas reais. Nem tem que ser.
Se apegar em todas as
linhas, vírgulas e até nos erros gramaticais é tão indicado quanto viver a
própria vida através dos olhos alheios. Eu mesmo quero mudar uma palavra ou
outra quando releio um texto meu.
É o sentimento que vale
a leitura. É a sensação e pelos do braço arrepiados que faz com que eu termine
um texto e queira mais. Nem a interferência do cotidiano me faz parar alguns
momentos no intuito de pregar cada letra exemplificando minha intenção. Só a
falta de tempo faz isso. Logo, levo mais de um ou dois dias para terminar um
texto e, sempre volto de onde parei. Voltam também a sensação, o hálito, os
arrepios. Com a garota de olhos semicerrados não é diferente.
Antes era o cigarro e
o café quem me serviam de despertador. Hoje são os cigarros, café e o sorriso
leve de pensar como será ao encontra-la.
São só coisas que vou
me apegando diariamente. É corriqueiro sim, mas é meu.
E de pensar que você
pode, dependendo de seu humor, ao descontá-lo em mim, deixar de provar do
cheiro de meu travesseiro. Talvez perder minha cara de sono e toda amassada de
manhã.
Pode ser que deixará
de me ver pular os degraus da escada por culpa de minha impaciência.
Descobri que como
sempre o arroz e deixo a carne por último.
Pode perder a minha
mania de lavar as mãos e meu hábito de dormir sempre do mesmo lado.
Pode não notar que
assovio quando estou nervoso. Talvez perca a chance de saber que só tomo banho
ouvindo música e que sempre amasso a lata de cerveja antes de beber. A minha
mania de espelho que não passa de uma vaidade disfarçada. Minha mania de coçar
as unhas e ranger os dentes. Não ouvirá eu praguejar mesmo quando estou feliz e
me divertir com isso. Talvez não saberá que sou péssimo com o martelo e que as
vezes gosto de ficar descalço para falar com meus pés.
Pode ser. Pode ser que
abrirá mão de tudo isso e, o que não sai da minha cabeça, o que não me deixa
dar as costas mesmo depois de cada palavra atravessada, é que mesmo sabendo que
ao deixar tudo isso, quem sairá perdendo serei eu.
Bento.
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