domingo, 29 de julho de 2012

GAROTA DE OLHOS SEMICERRADOS


-


Veja as novidades como mariposas de lâmpadas nas noites de calor. Vem de repente e assim como chega, parte, deixando suas asas na memória.

É claro que estou falando da garota de olhos semipuxados. Ou podem ser semicerrados, pela falta de óculos.

Tudo bem. Me peguei acusando-me de sanguessuga. Não pejorativamente, evidente que não. Não faço mal a ninguém, exceto a mim mesmo.
O que eu quero dizer é que utilizo de artifícios e esperanças conta-gotas para tornar as noites frias mais agradáveis. As manhãs menos sombrias. Confesso, confesso, confesso.

Mas eu sou só uma relação de má fé comigo mesmo. Não sou de me gabar, portanto prefiro respirar cautelosamente. Quase que pisando em ovos eu sigo remediando autopromoção.

Alguns nomes eu invento. Outros eu escondo para manter o rumo da história sem tanta intromissão. As histórias não são todas reais. Nem tem que ser.

Se apegar em todas as linhas, vírgulas e até nos erros gramaticais é tão indicado quanto viver a própria vida através dos olhos alheios. Eu mesmo quero mudar uma palavra ou outra quando releio um texto meu.

É o sentimento que vale a leitura. É a sensação e pelos do braço arrepiados que faz com que eu termine um texto e queira mais. Nem a interferência do cotidiano me faz parar alguns momentos no intuito de pregar cada letra exemplificando minha intenção. Só a falta de tempo faz isso. Logo, levo mais de um ou dois dias para terminar um texto e, sempre volto de onde parei. Voltam também a sensação, o hálito, os arrepios. Com a garota de olhos semicerrados não é diferente.

Antes era o cigarro e o café quem me serviam de despertador. Hoje são os cigarros, café e o sorriso leve de pensar como será ao encontra-la.
São só coisas que vou me apegando diariamente. É corriqueiro sim, mas é meu.

E de pensar que você pode, dependendo de seu humor, ao descontá-lo em mim, deixar de provar do cheiro de meu travesseiro. Talvez perder minha cara de sono e toda amassada de manhã.
Pode ser que deixará de me ver pular os degraus da escada por culpa de minha impaciência.
Descobri que como sempre o arroz e deixo a carne por último.
Pode perder a minha mania de lavar as mãos e meu hábito de dormir sempre do mesmo lado.
Pode não notar que assovio quando estou nervoso. Talvez perca a chance de saber que só tomo banho ouvindo música e que sempre amasso a lata de cerveja antes de beber. A minha mania de espelho que não passa de uma vaidade disfarçada. Minha mania de coçar as unhas e ranger os dentes. Não ouvirá eu praguejar mesmo quando estou feliz e me divertir com isso. Talvez não saberá que sou péssimo com o martelo e que as vezes gosto de ficar descalço para falar com meus pés.

Pode ser. Pode ser que abrirá mão de tudo isso e, o que não sai da minha cabeça, o que não me deixa dar as costas mesmo depois de cada palavra atravessada, é que mesmo sabendo que ao deixar tudo isso, quem sairá perdendo serei eu.


Bento.

-

Nenhum comentário: