terça-feira, 13 de novembro de 2012

MEU PAI TRAVESTI II - Insônia


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Fazia algumas semanas que Soraia estava morando num dos apartamentos acima do bar da minha mãe, ou meu pai, ou seja lá o que for considerado um ser que se veste como minha mãe, porém tem um pinto no meio das pernas. De qualquer forma, isso era complicado demais para eu pensar naquela noite. Eu e Soraia tínhamos fumado tanta maconha de manhã que dormimos a tarde inteira, logo, quase três da manhã lá estava eu. Na janela do meu quarto, com meia garrafa de tequila roubada do bar, um saco de Doritos, uma bagana do tamanho de um charuto e uma insônia com razão.

Eu não queria me aprofundar em qualquer assunto que exigisse mais que alguns segundos de exercício do meu cérebro. Aliás, eu nunca estava muito a fim de me aprofundar em nada. Certa vez, eu zapeava os canais na minha TV, passei a tarde inteira fazendo isso e fumando. Foi quando parei num canal de clipes de música e assisti alguns negros cantando Hip Hop. Foi ali, bem ali, através daquelas letras desesperadoramente tristes que pensei pela primeira vez em me suicidar, mas aí, sentado ali, calibrando um grande baseado, só de cueca e meias que percebi. Teria um grande trabalho caso escolhesse acabar com aquela inutilidade que era minha vida. Escolhi manter-me em minha teimosia de ver no que vai dar toda essa merda e continuar carburando.

Então hoje não me prendo muito a assuntos profundos. A grande maioria das pessoas hoje levam uma vida toda querendo parecer inteligentes, letradas, por dentro de assuntos da moda e etc. Acabam então, esquecendo que a maior parte das coisas problemáticas do mundo estão exatamente nesses bostas que esquecem dos seus problemas para cuidar dos problemas dos outros.

Mas do que é que eu estou falando? O dia que eu for exemplo para alguém façamos as malas e partimos rumo à Marte. Ou ao inferno.

Agora que acabei de lamber os dedos para aproveitar os farelos que restou do salgadinho decido finalmente por fogo em meu charuto. Eram eu, a tequila, o back e meus pensamentos entediantes. Tinha também o cara que eu observava pela janela. Ali sentado, fumando um cigarro atrás do outro e parecia falar sozinho. Talvez eu não fosse o único deprimido naquele quarteirão. Talvez estivesse esperando alguém para entrar no Motel do outro lado da rua. Neste caso, ele estava bem melhor do que eu, afinal, apesar de ganhar uma chupada diária de Soraia ela ainda se mantinha decidida em não abrir as pernas para mim e isso, definitivamente, me deixava bem mais deprimido que qualquer um ali naquele quarteirão ou em qualquer outro.

Horas se passaram, após presenciar diversos casais passando abaixo de minha janela, me deu vontade de ter Soraia por perto, mas ela tinha ido viajar com alguns amigos. Ela não me chamou e eu fingi que não queria ir. Ora, eu era um gordo que tinha um travesti como mãe. Sobre o que conversaria com as pessoas?

Muito prazer. Sou Alaor e passo o dia bebendo, fumando maconha e recebendo sexo oral de uma garota que provavelmente desmentiria caso eu contasse a alguém. Ou pior, ninguém acreditaria. Sou só um fracassado que ocupa um grande espaço num mundo cheio de merda.

Apesar de não querer me prender em qualquer assunto, fiquei pensando quem estava se prostituindo mais. Eu ou Soraia?
Droga de tequila. Toda vez que a bebia ficava filosófico, encarnava o Chico Xavier, porra de pensamento chato. Não tinha o mesmo problema com vodca, mas o estoque estava acabando e logo minha mãe sentiria falta das garrafas. Já a tequila estava esquecida no fundo de uma prateleira. Sabe como é boteco, ninguém pede tequila, pedem 51 e coisas do tipo.

Talvez eu estivesse apaixonado, talvez eu fosse um idiota. Poderia ser qualquer coisa, mas se tivesse que escolher escolheria a segunda opção.
Por motivos óbvios, me apaixonar não era uma opção, não era uma coisa que terminaria bem como nos filmes ou desenhos da Disney. Eu não sirvo nem para Fera, não tenho um castelo. Além de horrível, gordo, sou pobre pra cacete. Me apaixonar seria além de loucura, burrice.

Já aconteceu uma vez, tive uma namorada certa vez e foi legal no pouco tempo que durou, porém, terminou como deveria. Ela se encheu da minha mediocridade e deu o fora e me sobrou a fossa. Ou seja, nada original.
Nem sei o motivo dela querer namorar comigo, até hoje penso sobre o assunto e não descubro. Só poderia ser doida, estar com raiva da própria existência. Não sei.

A doida chamava-se Fabiana. Nos conhecemos no bar, ela vinha até aqui comprar cervejas para o pai aleijado.
Ela estudou no mesmo colégio que eu e de tanto vir aqui resolveu puxar assunto uma vez. Fabiana não tinha muito o que se achar bonito, mas pelo menos  ela não babava nem cheirava mal. Tinha olhos puxados e a pele morena. Um grande nariz de batata e os cabelos lisos até o meio das costas, a melhor coisa que tinha era o cabelo. Parecia uma boliviana ou coisa do tipo. Porém mais tarde fui descobri que vinha de uma cidadezinha de algum lugar do Nordeste.

Já havia visto a garota no colégio, quando eu ainda o frequentava, mas naquele lugar as garotas não eram muito o meu forte, até por que, as únicas que perdiam tempo falando comigo era para me chamar de filho de travesti e dizer que adoravam os vestidos e sapatos de meu pai.
É difícil tentar flertar com uma garota quando seu pai compra lingeries na mesma loja que elas e, as mães delas.

Só que Fabiana era diferente. Talvez por ter um pai aleijado ela tivesse um estômago mais forte e mais habituado com as merdas que Deus pode te proporcionar. O fato é que nos aproximamos e quando dei por mim estávamos nos beijando escondidos em meu quarto. Eu já estava com meus 22 anos e ela chegara à maioridade há alguns meses.

Ninguém sabia, nem era eu quem contaria que eu já tinha conhecimento sobre o que ela fazia para sustentar a casa sem emprego e sem a aposentadoria do pai paraplégico. Antes da banalização da internet eu possuía uma das maiores coleções de filmes pornôs do país. Era um grande colecionador, tanto que comprava e revendia alguns filmes clássicos e ganhava um bom dinheiro com isso. Cheguei a pegar quase cinco mil reais num dos primeiros títulos de garganta profunda da história do mundo pornô. Um dia, numa nova aquisição, Back, vodca e papel higiênico de prontidão, me preparava para ver meu novo filme e começar meu mantra masturbatório diário quando reconheci a atriz principal do filme de imediato.

Nos créditos seu nome era Palloma, mas eu sabia que era Fabiana quem estava ali. Ela e mais três criolos com cacetes que mais pareciam braços de tão grande. Minha surpresa não foi vê-la transar com três caras, muito menos dotados de cacetes gigantes. Eu fiquei surpreso mesmo de saber que ela tinha um dom nato para engolir espadas. Se não estivesse fazendo aquele filme poderia facilmente trabalhar no circo ao lado da mulher barbada e o trapezista. E os três cavalos fizeram de tudo com ela. Duas horas e meia daquilo que parecia uma tortura ditaduresca, mas ela mostrava gostar e sorria para a câmera.

Confesso que num primeiro momento eu fiquei chateado de ver a garota pela qual eu estava apaixonado sendo fodida - às vezes ao mesmo tempo - por aqueles negros tripedes, porém, eu tinha vinte e uns e só havia comido putas em toda a minha vida. Vi ali uma ótima oportunidade de transar loucamente com uma atriz pornô, logo eu, que era um aficionado pela arte. No entanto, quando ela descobriu que eu sabia de seu segredo terminou nosso relacionamento dizendo estar envergonhada e com peso de consciência. Também disse estar com nojo de mim por querer tirar proveito daquela situação. Nojo de mim? Respondi que não fora eu quem engolira esperma de três cavalos, suficiente para encher uma caixa de leite. E assim ela se foi.

Fabiana ganhou um bom dinheiro com os filmes e mudou-se para um bairro afastado do centro, nunca mais a vi. Acho que bateu o sono. Boa noite.



Bento.

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