segunda-feira, 24 de junho de 2019

PRIMEIRO PASSO




É preciso reaprender a conviver consigo mesmo.

Só.

Como era antes.
Não que já não o fosse, mas ter alguém que depende de você para tudo como um filho não é bem ter companhia. Não é a companhia que se espera quando se é um casal.

Só.

É necessário reaprender a conviver consigo mesmo.
Todos os demônios e traumas e a culpa.
Inevitável.
É inevitável que em alguns momentos você se culpe por tudo. Será que o errado é você? Será que poderia ter feito mais? Será que poderia ter sido mais paciente? Será que poderia ter dado mais sangue mesmo depois de ver seu corpo cadavérico em frente o espelho? De lábios roxos até as costelas saltando pela pele.

Será?

Será que não exigiu demais do outro?
Será que o problema não está em você exigir mais que as pessoas podem lhe oferecer?
Será que o erro está em você ser romântico demais e talvez passou tanto tempo com a cara enfiada em romances de autores infelizes idealizadores de dramalhões impossíveis de acontecer na vida real? Onde empregos, boletos e peidos e bafos e porres nunca são mencionados.

O quão difícil é dormir e acordar debaixo do mesmo teto que vocês planejaram o futuro que jamais vai acontecer? E as paredes que olham e te julgam? Será que você não se precipitou? Você tem um histórico de ansioso e que mete os pés pelas mãos.
Você nunca foi o tipo que conversa. Pelo menos não sóbrio. Arrancar-lhe sentimento sempre foi sofrível exceto depois de uma bateria de doses de whisky. É por isso que nunca consegue escrever uma linha sincera sem despertar o fígado. Seu corpo é uma máquina de absorver álcool e autoflagelo.
Você consegue ser o cara que dorme na sarjeta de bêbado, porém não atrasa um boleto.

Equilíbrio?

Logo você?

Difícil imaginar que alguém como você tenha esse tipo de equilíbrio, contudo para continuar fazendo o que mais gosta precisa disso. É como uma missão. Desaponte todos, inclusive você, mas mantenha um maço de notas para a garrafa e um lugar para voltar quando os sentidos estiverem embaralhados ao ponto de não pensar mais no que está fazendo.

Só?

Você foi o primeiro a chegar na sua vida e provavelmente será o último a sair. Tão só quanto chegou e só o que lhe resta são as lembranças, boas e ruins.
Você que já se meteu em cada enrascada e teve anos de marasmo e estava disposto a tomar isso como regra. Já tinha desistido de ser o grande cavaleiro solitário e destemido. Acreditou que desta vez iria entregar tudo que tinha de melhor e que seria a última vez que teria que juntar seus cacos. No fim viu que a solidão apesar de uma companhia indesejável ela ainda permanecia ali. Quando decidiu tornar-se o porto de alguém reparou estar à deriva. Tão só como sempre foi. Logo, solitário de um jeito ou de outro, que pelo menos tenha liberdade.


Bento

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