Depois de passar o verão praticamente inteiro fazendo festas
que duraram dias eu parei. Parei porque o verão se foi. Parei porque também sou
de época. Meu humor é de época e a época de festas passou, agora escrevo.
Necessariamente meus finais de semana são de drinks e escrita. Alguns amigos preferem meu humor quando está para
festas. Convido os amigos e eles logo perguntam sobre mulheres, veja, não sou
nenhum cafetão, nem quero ser. Nem sou desses amigos que gostam de servir de
cupidos, pois já tenho meus problemas que não são poucos. Mas é certo que uma ou
outra coisa eu faço para ajudá-los, caso peçam. Esses dias estava dizendo:
preparem-se para o mês de junho, pois o mês de junho é a melhor época para
conquistar as mulheres mais bonitas. Mesmo o mais frio e asqueroso homem da
face da terra se arruma no mês de junho. Com exceção daqueles que alugam-se no
Facebook, como se fossem grande coisa, esses são tão desesperados que eu duvido
que arrumem algo. O resto se arruma e explico. O mês de junho é mês dos
namorados, do fatídico dia dos namorados. Deus sabe que eu acho isso uma
besteira e que passei poucos dias dos namorados namorando, portanto tenho uma
certa experiência. O fato é que historicamente a mulher leva isso mais a sério
que grande parte dos homens, naturalmente. A mulher não liga de ficar sozinha
durante todos os outros dias do ano, mas este elas ligam e o homem que souber
se aproveitar disso se sairá muito bem. Conheço uma garota que me fez uma
proposta uma vez para começarmos a namorar uma semana antes e terminar o namoro
à zero hora do dia 13. Ela ainda me disse que eu nem precisava me preocupar com
o presente.
Se querem saber se eu aceitei a proposta eu digo que aceitei
sem pestanejar. Não se deixa passar a oportunidade da companhia de uma bela
garota num momento tão delicado. E sim, claro que eu não deixei de dar-lhe o
presente de dia dos namorados, afinal o presente é metade de tudo o que
significa este dia. Então é isso que eu quero dizer, preparem-se para o mês de
junho.
Eu disse que o presente é metade do dia dos namorados e é
verdade. Algumas mulheres retomam relacionamentos antigos no meio de Maio, só
por causa do presente. Juram de pé junto que amam e estão arrependidas. Já vi
amigos, que sem um puto no bolso terminaram o relacionamento para não ter de
gastar o que não tinham. E não é que eles não amavam, não, era pobreza mesmo.
Arrumava qualquer motivo para o desentendimento e só voltava atrás uma semana
depois do dia dos namorados. Isso aconteceu num Natal também, mas isso eu conto
outro dia.
No meu caso, sempre fui péssimo em dar presentes. Não ligo
se ganho, se não ganho eu anoto. Mas sou horrível para dar presentes. Uma
conhecida do trabalho, não vou citar o nome, só que ela mandava flores para ela
mesma endereçadas para entregar no meio do expediente e todos achavam lindas as
flores que ela recebia.
O problema do dia dos namorados, para quem está solteiro, é
sair de noite. Onde quer que você vá há casais espalhados pelos bares, cinemas,
cafés, livrarias, esgotos, cemitérios e todos eles te fazem lembrar que você
está só. Como já citei, tem gente que fica sozinho o ano todo, mas dia 12 é
intragável. O mundo te lembra que você está só. Com os comerciais no intervalo
do jogo de futebol, as comédias românticas no domingo de tarde e domingo já não
é o dia favorito dos solteiros.
Esse ano lembrei que era dia dos namorados por causa de uma
amiga. Estava em casa de bobeira, pensei em arrumar uma companhia para a tarde
e pensei nela, visita sempre certa. Peguei o telefone e para minha surpresa
ouvi: estou na casa do namorado. Ela
disse. Eu respondi: mas já? Estamos no
início de Maio ainda. Ela riu e bem, fui beber sozinho.
Então eu escrevo isso no fim de Maio e enquanto a maioria se
prepara para se "prender" em junho eu estou me desvencilhando. Sim,
me afastando de qualquer coisa e descomplicando. Hoje descompliquei um tanto
mais.
Anos atrás namorei uma garota de 500 anos de idade. Na
verdade, quando namorei ela tinha vinte e uns, ela foi virar uma múmia só
depois. Vejam: nunca fui de manter amizades com ex-namoradas porque acho um
desperdício de amizade, e de tempo. Porém, neste caso fui surpreendido com uma
proposta contemporânea demais para uma garota de 500 anos. Ela queria uma
relação de sexo e eu pensei: bem, por que não? Nunca negue uma coisa que você
não tenha motivos suficientes para negar. E qualquer amizade que envolva sexo
nunca será uma perda de tempo. Corrijo: qualquer coisa que envolva sexo nunca será
perda de tempo. Aceitei a proposta sem levar em conta os seus 500 anos. Na
primeira semana de amizade colorida a tal garota mostrou para que veio,
passando por cima de cláusulas contratuais de qualquer amizade de sexo, quis me
envolver numa cripta que só existem nos namoros. Sorte minha que tinha a lei
dos solteiros ao meu lado.
Agora eu volto a citar os 500 anos de idade da garota para
explicar sua idade de múmia egípcia. Eu me considero um cara velho. Sou o
primeiro a pedir a palavra com o tilintar do talher na taça e dizer: não passo
de um velho. Porém, esta garota me supera em pelo menos 450 anos. Não duvidaria
se ela me dissesse que aprendera a bordar com as caravanas de portugueses
descobridores. E sim, sei que vão dizer que eu mergulho numa vala comum quando a
acuso de complicada, mas este caso é insuperável. Mais até que complicada, essa
garota era incoerente. Todos nós temos pudores, coisas das quais não aceitamos
no próximo e que nos afasta um dos outros. Até aí todos concordam? Ótimo. Bem,
a incoerência é uma das coisas que me causam calafrio. A incoerência não anda,
não se mexe, não desatina. Não se faz nem um lanche de mortadela com a
incoerência. Eu disse que ela era incoerente mas bem que poderia dizer que ela
era omissa e submissa. Tem a ligeireza de uma velha com artrose. A rapidez de
um cavalo manco.
Mesmo que não acreditem vou dizer assim mesmo. Eu tentei
conviver com isso, nem sei por qual motivo, porém tentei. Só que o que me fez
querer rasgar o cu com a unha fora tal submissão. Puxando pela memória me veio
um caso de muito tempo atrás, eu era um jovem dos mais rebeldes e isso contava
pontos a meu favor. E nesta época havia duas garotas interessadíssimas neste
autor. O que esperar de duas garotas que compartilham o interesse pelo mesmo cara
se não briga e inimizade? Para minha surpresa, as duas trataram o caso como
duas garotas de atitude que eram. Para não brigar decidiram que seria um dia de
cada. De segunda a sábado. Primeiro uma e no outro dia a outra. Eu achei genial
e lisonjeiro. Elas poderiam complicar tudo, mas preferiram descomplicar. Esta
garota de 500 anos nunca seria capaz de um feito como este simplesmente porque
lhe faltam independência e maturidade. E eu? Bem, eu ando descomplicando tudo.
Colocando o lixo pra fora e limpando a casa e foi assim com a garota anciã.
O problema maior com esta garota é que não tínhamos uma
relação de casal, pois não éramos namorados. Também não tínhamos uma relação de
sexo porque não transávamos. Logo, não tínhamos nada e se não tínhamos nada não
havia motivo algum para manter-me ocupado com isso. Mas voltando ao assunto que
desperta mais interesse à mesa de bar com amigos bêbados: preparem-se para
junho, pois é um grande mês. Um grande mês - para os homens - porque garotas
simplesmente não gostam de ser rejeitadas e nada mais, nenhuma outra data,
nenhum outro momento as fazem pensar e repensar suas vidas como o dia dos
namorados.
Bento.
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