sábado, 5 de julho de 2014

FILOSOFIA DO CU - DO WHISKY AO DIVÓRCIO

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Estava tomando algumas cervejas e junto comigo estava uns três ou quatro que nunca negava uma cerveja. Conversa vai, conversa vem, lembramos-nos de um ditado que a avó de um desses caras contava. Ela dizia: esse papo de golpe da barrida não está com nada!
Ela era uma senhora com a idade máxima que uma avó pode ter e bebia tanto ou mais que nós. Éramos jovens ainda na puberdade e ela falava como quem contava uma verdade incontestável. Ela dizia que o golpe da barriga era coisa de 1930, dava uma pausa para molhar a garganta e dar um trago no cigarro e então concluía - a mulher que quiser prender um homem de verdade tem é que dar o cu pra ele. E dizia assim, como quem conta do casamento de um parente próximo.
Era no mínimo curioso para nós que ouvíamos à distância, fácil para espectadores, porém imagino a dificuldade de quem tinha vínculo vitalício com a velha. Complicado para seu neto que compartilhava a sinceridade de sua avó com os amigos.

Eu particularmente me mantinha quieto, pois nunca discutiria com uma senhora que tinha tudo a seu favor. A embriaguez, as décadas de experiência e a originalidade da oração. Uma bela avó esse meu amigo tinha. Digo tinha porque ela morreu semanas depois, dormindo, morreu, simples assim. Não sei por qual motivo veio-me esta singela lembrança, no entanto aqui estamos nós.
Ainda sobre isso, digo que cu não teve nenhuma influência sobre meus amores. Nem nos mais breves, nem nos mais longos. Calma, quero lembrar aqui que apesar da idade nunca fui homem de muitos amores, paixões talvez, amores não. Conto no máximo com dois e sempre fui parcial em dizer que o último foi o maior de todos e em outubro já fará 7 anos.
Por falar em idade, tenho reparado nas particularidades do tempo. Antigamente, por exemplo, o máximo que se podia acontecer era encontrar com uma ex-namorada na rua e isso já era motivo para falatório durante a semana inteira, troca de farpas via amigos em comum e etc. Hoje minhas ex estão casadas, com filhos, uma já está inclusive divorciada. Que situação. Antigamente só se ouvia falar em divórcio nas comédias românticas e sobre as brigas dos pais dos amigos. Não demora muito eu serei fechado no trânsito por algum bastardo deste, filho de uma ex e a pior ofensa que poderei pensar é um sonoro: eu já comi sua mãe, safado! Ou - sua mãe não chupa direito! E por aí vai.

Mesmo assim, quero dizer que este amor que me prendeu durante tempos não teve nada a ver com a história da avó simpática que citei acima, mas sim porque a tal era a materialização de todas as coisas que eu procurava numa garota, com exceção dos seus defeitos, mas não se pode ter tudo. Tanto que estava eu, prestes a me tornar um pai de família, muitos podem não acreditar, porém eu também já quis sentar-me no sofá, barrigudo e ver TV aos domingos. O pedido foi feito. A obviedade da resposta sou eu aqui escrevendo sobre as últimas festas em casa.

Ultimamente tenho bebido ouvindo Blues. Música sempre ajuda na escrita. Bukowski escrevia ouvindo música clássica. Eu ouço Blues, ou Rock. E caso interesse, escrevo bebendo whisky porque se beber cerveja tenho que escrever no banheiro pois mijo o tempo todo.
Como puderam reparar, tenho lembrado de amores finados, uma (in) conclusão, esperança maldita, não sei ao certo. Faço do mundo as dores minhas e quero atear fogo em alguém. Não é modo de dizer, por vezes tenho os mesmos desejos que todos vocês. Sinto-me como se todo o mundo girasse e somente eu tivesse parado no tempo, afinal depois de sete anos tenho os mesmos sonhos, os mesmos desejos e as mesmas drogas para me revitalizar. Tudo muda, até eu mudo, menos nisso.

Durante muito tempo venho sendo um usurpador, vampirizando emoções no intuito de continuar aquilo que faço tão bem, pois até isso veio dela (o tal amor). Surgiu dela. Continuo escrevendo e mesmo que não seja sobre ela é em grande parte para ela. Arrumo-me ainda para ela, deixo ou não a barba para ela. Na esperança de que um dia ainda nos encontremos. Mas pulemos esta parte retrô para dizer: eu não sou o único dos dois a fazer merda. Sempre achei que eu fosse a escória, mas convenhamos. Uma vez a musa das musas me disse que depois de mim passou a sofrer da síndrome dos 2 anos. E eu quase disse a ela que agradecesse o Destino, afinal, eu sofria da síndrome dos 4 meses. Da síndrome das esquinas procurando-a. Da síndrome de procurá-la em pernas abertas. Da síndrome dos lençóis lavados buscando teu cheiro, ainda procurando e hoje, depois de tanto tempo sequer sei qual é este cheiro. Pois como eu disse, tudo muda, ela mudou, tanto? Talvez menos do que parece. Eu idem. Mas o cheiro deve ter mudado. As unhas. Os alargadores. Um pouco mais de tatuagens e eu com tantas, inclusive uma com seu nome.

Eu já estive melhor. Coisa de quem pensa que está liberto e tal. Já estive melhor como o moribundo que melhora antes de morrer. Por alguns momentos tive culhão de não permitir-me sofrer. Mas estas coisas passam como passam as coisas. Dentre tantas coisas eu mudei nestes 7 anos. Mudei a ponto de estar assumindo isto. Só que existem coisas que sobrevivem ao tempo.

Penso no percurso da minha vida e chego à conclusão de que minha felicidade é como a carreira de um jogador de futebol. Eu já estive no auge. Já fui eleito o melhor do mundo. Garotos de todas as classes queriam ter o que eu tinha. Marmanjos invejavam a forma como eu levava a vida. Ganhei prêmios, fui autor de lances históricos e golaços inacreditáveis. Porém, como toda carreira acaba, a minha não foi diferente. Se tratando de felicidade, o que restou da minha carreira são só uns freelas de comentarista em época de Copa do Mundo, um comercial de cerveja aqui e ali, mas nada que se compare aos meus tempos de glória.


Bento.

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