domingo, 20 de maio de 2012

GIULIARD BORSANDI IV

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Indica-se ler os episódios anteriores: "GIULIARD BORSANDI III"



Em alguns capítulos anteriores eu falei sobre um amigo de redação que cuidava dos classificados do jornal. Só que na verdade não era bem um amigo, um colega, no máximo. Quando eu caí não tinha ombro amigo para me escorar, a única que poderia ter feito isso era Nelia, que como vocês já sabem se bandeou para o outro lado, o lado mais forte. Eu não estou reclamando, tudo que tive foi por méritos próprios, sem a ajuda de ninguém. O mundo é assim, todos querem ficar por perto quando você tem dinheiro, fama e mulheres, quando não se tem nada disso ficam só os covardes, os falidos, que acham que um grupo de coitados se torna mais forte. A vida não é uma cooperativa, porra! Você está sozinho, num mundo de bilhões de pessoas, você está sozinho!

Mas aí, depois do sonho que tive com Nelia, onde acordei babado, finalmente abri a porta e quem eu vejo ao lado do Cabelo foi justamente esse colega, o Tadeu.

 - Essa campainha está dando choque sabia?

Ele nem me dera bom dia e já estava reclamando da merda da minha cabra, digo, campainha. É por isso que não gosto de dar moral para as pessoas, ela acham que podem fazer o que bem entendem só por achar que tem intimidade com você. Está dando choque nesse filho da puta e mesmo assim ele continuou enchendo meu saco até me acordar e me tirar do sonho com Nelia. Eu deveria usar o 38. e meter uma bala no meio dos olhos deste marqueteiro metido a jornalista.
Eu acordo mal humorado, na verdade, estou todo tempo de mau humor, só quem está na minha pele pode entender, ou seja, só eu.

 - É um teste! Para saber se realmente estão precisando de um investigador ou só estão querendo encher o meu saco.

Virei às costas e fui até a gaveta do scotch tomar o primeiro trago do dia, acordei cedo. Geralmente só acordo depois das 13 horas, ninguém acorda cedo disposto a contar para um desconhecido que está sendo passado para trás. E geralmente eu durmo muito tarde.

 - Então eu passei no teste.

Tadeu entrou atrás de mim e sentou na cadeira que tinha do lado oposto ao meu da escrivaninha. Cabelo parado na porta olhava para o sujeito que havia entrado no meu escritório com ar de desconfiado, mas Cabelo era igual a mim, não tinha muita paciência e nem confiava em muita gente.

 - Tá de boa aí Giu?

 - Suave Cabelo. E obrigado.

 - Precisando, eu to lá embaixo.

Então Cabelo nos deixou a sós para falarmos, eram dois lances de escadas de madeira oca comida pelos cupins que habitavam aquele prédio desde o tempo do Brasil colônia.

 - Bom, Tadeu. O segundo teste é: Você me acordou cedo e eu não gosto disso. Então vou te dar cinco minutos do meu tempo para você me convencer que merece minha atenção.

Ele parecia feliz em me ver, mas tinha bebido recentemente, bebido muito. Seu rosto magro como eu lembrava depois de tantos anos era agora bem mais magro, barba por fazer. Os lábios brancos denunciavam a ressaca e os olhos, denunciavam a tristeza.
Percebi na hora que o problema era mulher.
Um homem só se acaba desse jeito quando tem mulher na história. Por isso tem gente que diz que a pior droga do mundo são as mulheres e nada pior na vida de um homem que uma vadia.
Um homem aguenta tudo; levar porrada, trabalho pesado, eliminação do time do coração, morte da mãe... Homem só não aguenta uma vadia em sua vida. É assim desde que o mundo é mundo.


 - Primeiro eu quero dizer que lamento muito o quê aconteceu lá no jornal.

 - Poupe o meu tempo e o seu. Passado é passado. E sei que você não veio aqui depois de tanto tempo só para dizer que lamenta.

Esse animal não entendeu nada. Quero me livrar dele o mais rápido possível e ele aí dando voltas. Eu não gosto de ver ninguém do meu tempo de jornalista. Todos eles me fazem lembrar do fato ocorrido e de Nelia. E eu não preciso de ajuda para lamentar o meu amor perdido. Vadia!
Meu dia vai ser ótimo, já estou até vendo.
Uma vadia no sonho e um corno na minha frente. O que virá depois? Minha mãe?

 - Vá direto ao assunto Tadeu. O que é? Casamento?

 - Não, não me casei.

 - E o que você quer de mim?

 Tadeu me contou sua história, ele não casara, mas tinha uma namoradinha. Disse que desconfiava dela, o que é normal, todo mundo desconfiava de todo mundo, alguns só não assumem. Por isso é que eu prefiro ficar sozinho, na verdade não prefiro, porém não vou me entregar a qualquer vagabunda só pela solidão, para isso inventaram o sexo casual. Mas isso é outra história, voltando ao Tadeu...

Ele estava disposto a casar com essa tal namoradinha, já tinha pagado as alianças, faltava só o convite. Então me procurou para ter certeza se ela era a mulher certa. Como se eu fosse Deus, porra! Mesmo se eu for atrás dela e achar alguma coisa, não quer dizer que ela não seja a pessoa certa. Existem milhares de casamentos que só sobrevivem por causa das traições, eles saem da rotina e voltam para casa renovados, sem falar nos voyeurs, nos que transam a três. Cada um sabe onde o calo aperta. Não vou julgar.

Resumindo era isso; eu iria investigar a garota para saber o que ela andava fazendo quando não estava sentando no pau do Tadeu. Passei meus honorários e disse que não iria dar desconto pela nossa "amizade" e tal e tal. Sabe como é, amigos, amigos... Mas dei um toque:

 - Eu vou investiga-la, mas uma vez ouvi um ditado que quem procura acha. Você está pronto para o que eu posso encontrar?

 - Sim...

Não botei muita fé, é por conta e risco dele.

 - Então, negócio fechado. Eu mantenho contato, agora saia.

Nos despedimos e eu pedi para que fechasse a porta quando saísse.

Ao invés de procurar informações da namoradinha de Tadeu eu me servi de mais uma dose de scotch e acendi um cigarro, era meu café da manhã. Eu tinha tempo, afinal a mulher do pastor só sairia para dar o rabo na sexta-feira, que era quando ele iria viajar e hoje ainda era segunda.

 E logo o sonho com Nelia invadiu minha mente. Maldito sonho...



Bento.

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