Sei que pode ser um
pouco tarde para lhe perguntar isso: mas quais as suas intenções comigo? Pareço
agora um pai inquisitor do século passado, mas qual a sua intenção comigo, ou
melhor, quais eram suas intenções comigo? Afinal, acredito que isso já virou passado.
Para mim virou passado recente, para você nunca foi presente, sequer futuro.
Bem, adianto-lhe: minhas
intenções com você sempre foram as piores possíveis. Desejei lamber-te dos dedões
dos pés até as orelhas. Passando por suas costelas à mostra devido a magreza e
chupar-te até desatar a esfera do piercing que tenho na língua com a ajuda de
sua pélvis. Incessantemente, incansavelmente, prazerosamente. Abriria mão de
minha ereção, apesar de ser inevitável, afinal, trazendo-lhe tanto prazer eu
chegaria ao ápice da libido tão logo. Claro que como um gentleman que sou, só
após você, primeiro as damas. No entanto, quais suas intenções comigo?
Desculpe-me o
linguajar. Talvez não esteja acostumada com tanta sinceridade, pelo menos com
uma verdade tão invasiva. Só que sou um homem que já não tenho nada mais a
perder. Quais as suas intenções comigo?
Ora, ora. Não quero
que pense que minhas intenções com você tratam-se somente de libido, todavia eu
já expliquei-me tanto sobre todas as outras coisas que me tornei clichê e eu
odeio clichês. Para não cometer tamanho pecado com minha literatura deixo de
lado e falo somente sobre o que ainda não disse. Menos açúcar, mais limão e
neste caso, me dou razão quando digo: o limão é sempre mais azedo quando está
só.
Abro um parêntese
agora para dizer que nossa atual relação de ação e reação através da escrita é
o mais próximo da realidade do que qualquer diálogo que tivemos durante meses
Só que sinto em dizer: Foi fraco, bem fraco. Fico imaginando sua vontade de dar uma resposta aos meus textos e penso que ainda falta muito. Precisa praticar mais. Eu já achava que você era melhor que isso, hoje não tenho tanta certeza. Na intenção de usar palavras fortes para despejar toda sua melindragem em forma de insultos no máximo faz lamentar-me, não pela tentativa de agressividade, mas pela mediocridade do insulto. Eu creio que merecia, pelo menos, um texto melhor. Não é opinião, é a verdade. Gosto assim.
Deixando todo o clichê
de lado e destilando toda a minha amargura de solitário por todo o processo de
enclausuramento que eu já citei antes assumo que de todas as suas opções eu sou
talvez a pior. Talvez? Não, não. Sou a pior opção de todas as opções em toda a
história. Enquanto você, que diz utilizar-se da razão está mais que certa. Mas
qual a sua intenção comigo? Pois se for como amigo, esquece! Sou o pior amigo
de todos os tempos. Um amigo horrível, tanto que eu mesmo desdenho de minha
amizade.
Tenho amigos com
filhos que sequer conheci. Tamanho meu insucesso em amizades que estes filhos
atingirão a maioridade, entrarão na faculdade e sequer terão um rosto ou um
timbre de voz para ligar a minha imagem. Logo, não cometerei a heresia de ser
seu amigo. Jamais!
Pode me chamar de cuzão,
covarde, caipira, bundão, calhorda. Crie insultos se quiser, tão criativa que
tu és, estará sempre certa. Só não me peça o que eu não posso te dar. Como
amante sou melhor, sempre fui.
Melhor que ser filho,
irmão, amigo, empregado, fui amante. Não sempre, mas aprendi com os erros.
Talvez devido aos traumas, me tornei um amante incrível e um ser humano
péssimo. Sou desatento e escroto até comigo mesmo, mas me cobro para ser um
amante venerável. Os fins justificam os meios.
Quais são suas
intenções comigo?
Insulte-me, me bata, me
maltrate, porém me ame. Eu até gosto de uns tapinhas de vez em quando. Uma vez
ganhei um tapa no rosto em público tamanho a canalhice que fiz e me senti
orgulhoso. Não por ter sido canalha, claro que não, mas por tamanho sentimento
que aquele tapa significou. Ninguém estapeia outra pessoa por nada, sem motivo.
Expurgue-me, porém me deseje.
Ou você pode continuar
com sua autoflagelação e vitimismo fazendo de si o veneno do mundo. Entretanto
confesso-lhe que este não é seu melhor personagem. Eu sei, porque já atuei na
mesma peça, com o mesmo personagem e ele cai melhor em mim, mesmo assim
abandonei-o, mesmo traindo minha vaidade. Fez um sucesso danado, só que neste
caso, o fim não justifica os meios. Por muito tempo ele impregna na pele e é
quase impossível largá-lo. Saia dessa antes que seja tarde. Caso contrário
tornar-se-á uma poetisa ranzinza igual a mim e já temos tanto em comum não
precisamos de mais. Prefiro perder-te para outro alguém do que para você mesma.
Bento.
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Um comentário:
Texto maneiro, Bento...
E devo dizer que esse texto se assemelha muito a uma situação com a qual lidei essa semana. É quase como se tivesse sido escrito pra mim. (só que você não seria o autor, óbvio). Enfim...
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