terça-feira, 19 de abril de 2011

Mini Série: O Bilhete( Capítulo II). Cheiro de Tangerina.

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Oi tudo bem?

Ao avistar a garota sentada ao seu lado no vagão do metrô Jaime não pôde conter a voz.
Se arrependeu no instante seguinte, poderia ter sido mais original. Tudo bem? Você nem a conhece apesar do feitiço que seus cabelos causaram, tanto que do alto de sua timidez Jaime sem poder se conter falou com uma garota estranha.
A garota em dúvida se respondia ou se tentava lembrar-se de onde conhecia o garoto que a cumprimentava no vagão, olhava o menino assustado, de óculos redondos e cabelo alinhado tentando recordar, mas a memória nunca foi seu forte. Julia percebeu que o menino parecia esperar alguma resposta, mas com um olhar distante como se estivesse pensando na próxima coisa a dizer, a garota então responde apenas com um: - Oi.

Jaime agora já com a face rubra pensando na resposta seca da garota tem vontade de correr dali, descer na próxima estação e andar os cinco bairros que ainda faltavam para chegar em casa refletindo e se alto flagelando por ter sido tão estúpido, de não ter nada mais original para dizer para uma garota tão linda, ele ficara tão nervoso na presença de tanta beleza que se sentia envergonhado.
Como não disse mais nada a garota virou o rosto olhando para a janela e o túnel escuro.
Julia continuava olhando o garoto pelo reflexo do vidro tentando ainda se lembrar de onde conhecia o garoto que falara com ela, ele até que era bonito, deveria se lembrar. Pensou em perguntar, mas achou que seria indelicado perguntar uma coisa dessas e revelaria sua memória imperfeita.
O metrô chegou à próxima estação e Jaime iria se levantar e sair, mas resolveu ficar. Ele já tinha começado aquilo mesmo, iria até o final, pois não tinha nada a perder.
- Desculpe te incomodar eu sei que você nem me conhece e não quero parecer inconveniente, eu não costumo falar com pessoas desconhecidas no meu caminho para casa. Também sei que você deve ouvir isso frequentemente, mas você é terrivelmente linda!

Droga, droga e droga. Terrivelmente linda? Falou besteira de novo. Jaime agora queria se jogar no trilho para não ter que ficar ali. Como pode ser tão desastrado falando com uma garota? Queria costurar a sua boca e nunca mais falar com ninguém.
Julia parecia ler os pensamentos de Jaime e pensava também na frase que acabara de ouvir. Terrivelmente linda? Isso era bom ou ruim? Definitivamente nunca ninguém tinha lhe dito isso. Será que era um elogio? Resolveu perguntar:- Terrivelmente linda? Como assim? Isso é bom?
Jaime não pôde conter o sorriso. Um riso mais de nervoso do que de alegria, mesmo assim estava feliz por pelo menos ter chamado a atenção da garota. Nem mesmo Jaime sabia de onde vieram aquelas palavras, mas sentia que era do fundo da alma.

- Você é terrivelmente linda porque fez uma pessoa como eu passar por cima da minha timidez e tomar coragem para puxar assunto com você.
Tão terrivelmente linda que fez de uma viagem qualquer de volta para casa um dia excepcional e inesquecível. Tão terrivelmente linda que me fez imaginar um futuro ao seu lado antes mesmo de falar com você e me fez imaginar chegando do trabalho com uma flor escondida nas costas só para poder ver seu sorriso de surpresa e me agradecer com beijos doces por todo o meu rosto.
Terrivelmente linda porque você me faz sentir calor até num dia de frio como este e eu aposto que poderia fazer-me sentir frio caso estivesse um calor de matar, pois sua beleza angelical e seu cheiro de tangerina bagunçam meus sentidos.
Terrivelmente linda por que com você eu poderia enfrentar qualquer barreira, qualquer vilão de história em quadrinhos porque você me dá super poderes.
E eu poderia gritar aos quatro cantos do mundo que eu sou feliz com você ao meu lado num mundo onde poucas pessoas podem dizer isso com propriedade.

Os olhos de Julia se encheram de lágrimas enquanto ouvia as palavras do garoto que acabara de conhecer.
A voz metálica do operador do trem anunciava a chegada à estação Belém, exatamente onde Jaime deveria desembarcar. O silêncio tomou conta do casal durante alguns segundos quando Jaime colocou as mãos nos bolsos buscando algum pedaço de papel, retirou um pequeno bilhete que havia encontrado na máquina copiadora do escritório onde trabalhava, anotou o número de seu telefone, entregou-o para Julia e caminhou até a porta do trem. Antes de sair virou-se para Julia e disse:- Já estava me esquecendo. Meu nome é Jaime.
- O meu é Julia.
- Muito prazer Julia.

Quando a porta se fechou Julia ainda sentia seu corpo paralisado. Ela deveria ter ido junto com ele. Falar com ele em busca de respostas. Ela deveria ao menos ter dito alguma coisa diante de palavras tão lindas. Como pôde manter-se ali como uma estatua se seu coração pulsava e ardia como ela jamais tinha sentido antes? Logo ela que nunca conseguiu manter a língua dentro da boca como sua mãe mesmo dizia deixou as palavras fugirem.
Julia então olhou para o papel que tinha sido entregue por Jaime e viu o número de telefone, ficou mais aliviada, pois nem tudo estava perdido. Iria ligar para ele. Virou o outro lado de bilhete e sentiu toda aquela sensação novamente quando leu a frase escrita com letras de forma. Era a mesma frase que seu pai cantava para lhe ninar quando criança todas as noites até a data de sua morte. Julia agora era toda lágrimas e amor.

Bento.

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