segunda-feira, 1 de junho de 2015

ENQUANTO ELA ESTÁ DEITADA EM MINHA CAMA TAMBORILANDO OS DEDOS NUM COPO DE WHISKY


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Parte de mim esta aqui. Deitado em meu quarto, com o livro do Bukowski ao lado que não tenho coragem de abrir. Na verdade tentei engatar na leitura por três vezes e não consegui. Coloquei alguns Blues pra rolar, mas mesmo assim olho para as paredes, os pôsteres e nada. Albert King faz um vibrato na guitarra suficiente para deixar qualquer fã com os pelos do braço arrepiado e eu sequer ergo os olhos para contemplar.
Fica estranho quando você faz todo o mantra para escrever. Antes algumas cervejas, uma dose de um bom Bourbon e espera a inspiração vir só que ela não vem. Nessa brincadeira foram vinte latas de cerveja, meia garrafa do Jim Bean e um maço de cigarros e nada. Absolutamente nada. Apelei para as fotos antigas e mesmo assim foi como ver paisagens do Bing. Senti vontade de matar duas ou três personagens que nelas estavam e pensei que poderia partir daí para escrever qualquer coisa, mas me enganei.
Mais Blues, mais Bourbon, mais cigarros e cervejas e não escrevi uma linha sequer. O pior? Eu ainda enxergava meus dedos e onde eles tocavam.

Passei a pensar no outro dia e comentar sobre transar com amigas que bebem como gente grande. E transam como gente grande. E pensam como gente grande. Aquele tipo de garota que faz tudo aquilo que tem vontade e eu as respeito por isso. O tipo de garota que faz tudo que um homem faz só que melhor.
Eu sempre tive um fraco por garotas marrentas. Que fazem barraco na rua por ciúmes. Que gargalham alto e choram quando estão com raiva e não fazem questão de esconder de ninguém. Porque garotas assim sentem tudo a flor da pele e sempre me passam a imagem de verdade. Eu posso estar errado num caso ou em outro, mas em suma é isso.

Se voltar alguns textos verá que eu tinha tempo para dar e vender. Hoje eu gostaria de ter para compra-lo, pois não está fácil. Não tenho espaço na agenda sequer para me masturbar, quanto mais fazer social com uma garota enquanto ela está deitada em minha cama tamborilando os dedos na borda do copo de whisky pensando quanto tempo é necessário para que ela tire a roupa sem que eu pense que ela é uma vadia. O que essas garotas não sabem é que quanto mais vadia, mais eu gosto. Gosto, pois como costumo dizer; pureza só é bom para nossas filhas e a vodca. Gosto das vadias porque ninguém é santo e quem finge ser pode fingir várias outras coisas e eu não gosto de fingimento. Logo, tire a roupa quando achar que deve e se quiser começar tirando a minha ganhará pontos por isso.

No trabalho, todos os dias, depois de um dia cansativo, antes de acabar o expediente, sempre na mesma hora, eu saio para fumar um cigarro e desacelerar os pensamentos. E todos os dias, como se combinássemos, vem um gato preto até onde eu estou sentado fumando. Ele se aproxima como os gatos fazem. Cautelosos e lentos. O gato passa por mim, mas sempre notando minha presença e eu a dele. Ignoramos-nos, mas não deixamos de nos notar. Então este gato entra num bueiro como um rato faria. Ele entra todo no bueiro, dentro mesmo e fica lá por alguns minutos. Eu acendo sempre mais um cigarro para vê-lo fazendo seu ritual. Então, finalmente sai o gato com uma barata na boca. Às vezes uma barata mais traiçoeira foge correndo do bueiro e o gato preto e magricela sai atrás dela até alcançá-la. Mas o gato não mata a barata. Ele apenas quer se divertir. A barata, é claro, não entende. O vê como uma ameaça. E o gato cuidadosamente bate na barata com suas pequenas e macias patas forte o suficiente para que o inseto corra e ele corre atrás dela. Na falta de um rato, este gato brinca com as baratas. E todo dia é assim. Este é um gato de rituais. Todos os dias, reserva-lhe aquele período para curtir com a barata.
Eu também sou um animal de rituais. Não levanto da cama antes de um cigarro. Não entro no banho sem antes tomar uma grande caneca de café. Não faço nada sem música, nem cagar, nem comer, nem dormir ou transar. Passo um bom tempo na frente do espelho aparando a barba e arrumando o cabelo. Assisto aos jogos do Corinthians sempre no mesmo sofá, tomando cerveja e com o volume ao máximo, e grito com o juiz mesmo sabendo que não serei ouvido. Dificilmente passo um dia sequer sem cerveja. Não durmo sem o último cigarro, pois aquele pode ser realmente o último. Nunca se sabe quando vamos acordar ou dormir definitivamente, então todos os dias fumo meu cigarro antes de dormir refletindo sobre aquele que pode ser meu último cigarro. Não transo sóbrio porque tenho sempre a companhia de meus demônios. A última garota que transei sóbrio foi há um pouco mais de cinco anos. Para ser sincero, a única coisa que faço sóbrio é trabalhar, de resto...
Então talvez, resumidamente meu ritual é estar bêbado? Sim, ou grande parte dele pelo menos. Consigo fazer várias coisas ao mesmo tempo apesar de não gostar, prefiro fazer uma coisa de cada vez e também é assim com garotas, com exceção, claro, se elas estiverem juntas. Se vou mentir começo sempre com a palavra "então" após uma pergunta, que é para dar tempo de pensar na mentira, mas também não gosto de ter de contá-las. Prefiro guardar minha criatividade para outras coisas. Podem ser rituais ou TOC. Nunca sei dizer ao certo. Sendo assim, não é difícil imaginar o quão complicado acho manter um relacionamento com qualquer mulher. Não se encontra em qualquer lugar garotas dispostas a aturar caras com todas essas manias. Normalmente mulheres não têm rituais, o humor delas é inconstante, o meu não. Estou sempre de mau humor, pelo menos de manhã.

Dito isso, decidi me afastar um pouco de garotas. Por um tempo, sem pressão. Parei de ligar e convidá-las para qualquer coisa, deixei de atender as ligações e responder mensagens. O motivo disso é difícil explicar. Estou num grau de tédio que supera qualquer coisa. Um desinteresse coletivo. É preciso uma coisa muito, mas muito interessante mesmo para me tirar de minha companhia solitária. Ultimamente só abro a porta de casa para duas garotas ou mais, assim elas conversam entre si e eu posso perder-me em meus pensamentos inúteis.
Chame isso de preguiça se quiser. Pode chamar de covardia também, eu chamo de tédio. E tem mais. Eu estava entrando numa vibe de ser bastante procurado por garotas comprometidas e estava gostando disso. Nunca gostei de me envolver em relacionamentos alheios, porém estava me envolvendo. Talvez, também por isso resolvi dar um freio nesta bagunça toda. Mesmo porque eu tenho uma coisa de chamar atenção de maridos e namorados. Mesmo aqueles que não conheço, só ao ouvir falar de mim já me odeiam. Algumas garotas me dizem, naquelas conversas sem propósito que levamos quando não se vê alguém há muito tempo, elas dizem: Meu namorado te odeia. E eu sequer conheço esses namorados ou maridos. E eu sequer dei qualquer motivo para que eles me odeiem. De qualquer forma, não ficaria surpreso se um dia fosse assassinado com um tiro bem no meio dos olhos por um desses caras ciumentos. Sem motivo, simplesmente por suas garotas não foderem com eles direito. Simplesmente por suas garotas não os chuparem direito, ou por suas garotas trocarem os nomes deles pelo meu na hora da foda. Será? Soube de uma ou duas que fizeram isso, só que eu tenho tanta responsabilidade por isso quanto tenho pelo aquecimento global. Algumas pessoas me superestimam demais. Eu sou só um cara, e com tantos problemas que se soubessem provável que deixariam de notar minha existência.

Então, por isso eu não passo mais meus dias telefonando ou puxando conversa com garotas que eu mal conheço. É cansativo e desinteressante no momento. Não movo um músculo, não sem antes uma boa recompensa. Como qualquer pessoa que escreve, inevitavelmente reflito sobre o final de qualquer história antes de começá-la.



Bento.

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