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Eu já tive crises
existenciais sobre minha escrita. Daquelas de pensar em tocar o foda-se e não
escrever uma linha sequer. Digo isso pelo fato de por um bom tempo achar que as
pessoas deveriam ler o que escrevo e entender da forma que eu gostaria. Interpretar
do jeito que transpirei cada palavra e vírgula, mas isso é de uma utopia
tamanha. Quando você vai ao cinema e paga para assistir um filme o final é de
quem escreve, a história é de quem escreve, mas a sensação que você tem quando
a tela escurece, ou quando joga o saco de pipoca no lixo é só sua.
Quando você ouve uma
música a história é do autor, mas a emoção das lágrimas é só sua e de mais
ninguém. E é aí em que tudo faz sentido. Um texto nunca é só um texto, um conto
nunca é só um conto. São vários dentro de um mesmo esqueleto, como se houvessem
várias personalidades dentro de um mesmo indivíduo. É só por isso que escrever
é um ato tão solitário, a companhia está nas letras que preenchem os espaços
vazios como a alma. Os nomes das personagens de um livro são do autor, do âmago
mais profundo de uma imaginação doente de vaidade, mas a face, o tom da voz, os
cenários, os sorrisos, são frutos da imaginação de cada leitor. Ninguém pode
prever nem controlar isso. É como a primeira impressão, você não conhece nada
de um sujeito que acabaram de lhe apresentar, no entanto já tem todo um perfil
e uma história improvisada na sua mente sobre ele que, claro, depois de se
conhecerem melhor você verá o tamanho da discrepância da realidade para o que
acreditou ser.
Cada linha, cada
estrofe, só é assinada para alimentar e fomentar a vaidade do artista, pois, na
prática, o dono é quem lê, não importa para onde a história te leva, sempre é
possível dar um rumo diferente se quiser. Cada obra é
uma vida sem destino.
Bento.
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2 comentários:
Adoro escrever!!
A história narrada é como uma música, para mim.
Tem uma melodia que só eu consigo ouvir. Os instrumentos contidos nesta orquestra, só eu posso apreciar.
O sentimento, é meu... Somente meu.
Como você (leitor) interpretará isso?
Não sei!
Os pensamentos e os sentimentos são muito peculiares, sui generis, intocável, imprevisível...
RRR.
Gosto de escrever, porque isso me liberta. Não assumo compromisso com a vaidade e nem com a excelência, apenas comigo e com meu leitor. Talvez, a única vez em que posso me comparar a um Deus, no meu mundo. Criar na mente e transformar em palavras é mágico, transcendental.
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