Sempre que a chuva começava a dedilhar as janelas a vontade vinha como uma lembrança antiga.
Sentava-se no chão em frente a estante de discos e retirando um a um de suas capas, limpava-os com um cuidado excessivo.
Começava pelos mais antigos e terminava com os mais novos, assim como as lembranças.
E um a um, após terminar de limpá-los com a flanela velha deitava-os no toca-discos, o sopro na agulha como um beijo de despedida e começava o balé da bolacha negra.
O chiado de início, vindo da agulha tentando vencer a poeira e riscos que teimavam em permanecer ali lembrava o ranger dos dentes que sempre a incomodava.
Os discos tocados tantas vezes, que já se sabia o exato momento de cada primeiro acorde assim como ele já sabia o motivo das caras e bocas, cada gesto e tom de fala que não fora mudado. Conhecia cada gosto e desgosto.
Também já previa cada salto da agulha causado pelos riscos no prato de vinil rompendo assim o compasso da canção, bem como sua vida que saiu de giro, rompeu o ritmo.
Se foi todo o lado A, a agulha ficou no meio do caminho, seus pés assim como o disco continuou sem motivo, sem música, sem aplausos.
O rock acabou no meio do show e o público não estava lá para pedir bis.
Bento.
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3 comentários:
Nostalgia... há todo um ritual no limpar dos discos e na forma de colocá-los no tocador.
entendi, e em minha mente veio um pensamento como se alguem apertasse o "stop" da vitrola e o fizesse acabar no meio do show, deixando lembranças.
Boa reflexão, abraço
Como disse a colega acima: NOSTALGIA, uma doce emágica nostalgia que faz a gente viajar...
Parabéns pelo blog eé com imenso prazer que estou te seguindo...Inte
Link do meu...
http://jozy-avilar.blogspot.com/
Eu tenho uns velhos discos e acho o maior barato escutá-los de vez em quando!
Meu toca discos é o bicho, hahahahahahahaha.
Mais um belo texto! Vc é o cara!
Passa lá pra ver um texto novo!
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