Não há uma solução prática para o amor.
Ama-se com todas as forças até cansar, cansar do mau trato alheio. E um dia cansa. É assim com todo mundo.
O que fará até esse dia chegar é o que vai consumir todas as suas forças e você conhecerá a anorexia do amor próprio.
Amar-se ou amar-te. Ou um ou outro, os dois é impossível.
Sem esta alegria se tornará o zumbi das horas, em busca de qualquer pedaço de sentimento para alimentar-se. Dar uma boa mordida no resto de afeto que achar numa lixeira mais próxima e, por fim, terá uma grande, gelada e amarga dose de angústia para ajudar a engolir.
Ah mas esta alegria tão essencial para continuar respirando. Não são os órgãos, as tripas, ou sangue que te faz mover-se de encontro aos obstáculos, é a alegria que te faz levantar de manhã.
É tão inevitável. É tão comum.
Me reconheço em cada verso disfarçado de raiva que sai de sua boca.
Sei tanto sobre isso que fico me perguntando se não foi eu que inventei a tristeza. Ou pelo menos eu a reinventei, como uma tristeza 4.0. Tristeza High Tech modelo 2012, último lançamento.
Só que ao criá-la, me esqueci de confeccionar um manual de instruções.
Eu conheço tanta gente que reclama do amor que me pergunto o que faz mais mal, o amor ou a falta dele?
Mas não se deve reclamar do amor, deve sim, com toda sinceridade proclamá-lo. Declará-lo aos quatro ventos sem medo de ser feliz. Eu mesmo passei tanto tempo com medo da felicidade, medo de perder o fio da miada. Dramatizaria sobre o quê? Tanto tempo achando que não era merecedor de qualquer coisa boa que me acontecesse. E isso é de um sadomasoquismo tamanho.
É como cortar os próprios pulsos só para vê-lo sangrar e, ainda usar os dedos para desenhar no chão, como se nada tivesse acontecendo e como se o mundo não precisasse de nós.
Mas você sempre será importante para alguém mesmo que não seja você.
Sempre haverá alguém a desejar-te, à espera de uma chance que nunca será dada.
Alguém com medo de se declarar e passará a vida esperando que você dilate seus olhos e vista os óculos da proximidade.
Como a história do pescador que passava o dia olhando para o horizonte na espera de sua amada e não reparara que aos seus pés, trazido pelas ondas, bem abaixo de seu nariz, estava uma garrafa com uma carta de seu amor dizendo que fazia o mesmo do outro lado do oceano. No fim ficaram os dois esperando...
Vista os olhos.
Vista a autoridade sim.
Deguste a tristeza como um bom vinho e torne-se um expert no assunto.
Mas trate de vestir a existência, pois se nada é tão ruim que não possa piorar, no mínimo lute para manter ruim como está.
Ninguém quer ser sozinho, mas com o tempo aprendemos a separar companhia de trigo, ou seria a mentira do joio?
E o ciclo se fará completo.
E o Tempo que é o adestrador do cão ladrão de sorrisos decidirá chamá-lo novamente para a casinha e você voltará a viver feliz para sempre por algum tempo.
Bento.
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3 comentários:
Muito interessante o seu relato! Mas entendo que há necessidade de se mudar quando tudo está ruim!
Eu também Luciana, eu também.
Gostei muito do texto e blog, Bento!! Parabéns!!!
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