domingo, 1 de dezembro de 2013

NINGUÉM ESTRIPA POR ESTRIPAR, EXISTE SENTIMENTO NO ATO

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Alguns são tão idiotas, mas tão idiotas que eu desconfio de tanto talento. Não acredito e pronto. É tanta falta de credo que acho que é fingimento, porém penso; só um idiota para fingir tamanha idiotice. Também é possível que essa certa intolerância com idiotas parta de um estado de espírito um tanto quanto irremediável, de estar de saco cheio de qualquer coisa e sobre tudo. Irremediável, mas não voluntário nem eterno.
Então esse "saco cheio" foge um pouco da literalidade, na verdade isto se aplica à realidade infame, tediosa, ensebada e irritante. Um rotina transparente e demente de; puta que pariu os dias passam e as horas continuam sempre no mesmo lugar. Assuntos desfalecidos, conversas previsíveis, falências das palavras. Como se eu estivesse "emburrecendo", se é que isso existe.
Evidente que um emprego de merda ajuda a seguir com a desgraça. Mas o que eu quero deixar claro é que tanta inutilidade está até conseguindo tirar o charme do bar e olha que cervejas e mesas rústicas com garçons me chamando de Bêêênto sempre fora um lugar sagrado. Sinto-me o último dos pecadores num mundo de santos infames.

É bem verdade que eu já tive diálogos mais interessantes e abandonei-os sistemática e conscientemente, no entanto quem diria que eu mergulharia num infindável calabouço de mediocridades.
Acordo com o desespero de outrora e se não me engano, por motivos não tão diferentes. Não pensem que é exagero não, é desespero de faltar ar no peito e a barriga colar às costas. Das sobrancelhas quererem tomar os olhos tamanha a rigidez da feição. Também não pensem que pode ser só mais um dia que o humor partiu sem hora para voltar, é mais que isso. Mas então penso; por quê? Ontem não foi melhor que hoje e hoje não será pior que amanhã, ou talvez eu dê esse azar, porém não sou homem de acreditar em azares. Acredito que só tem azar quem tem sorte e eu estou bem longe de ser sortudo desses que ganham na loteria, no bingo, sorteios de rádios e etc. Está certo que vez ou outra achei uma ou duas notas de reais perdidas por aí, mas sei que perdi mais que achei, então não vale.
Fico sem saber então? Claro, não posso deixar de dizer que existe um dia ou dois que torno-me ranzinza mais que o normal só que neste caso foi pior que isso. Sei só que foi uma confusão que há muito não presenciava. De uma singularidade de insultar o chefe e matar os vizinhos. Resisti em comprar uma arma por achar assassinatos com armas muito clichê. Os Serial Killers que usam as mãos são bem mais sentimentais, existe um mantra, uma poesia em cada corte, cada tripa retirada. Ninguém estripa por estripar, há sentimento no ato, então resisti.

Sei que o dia foi passando com a lentidão dos dias ruins e acontecendo fatos para piorar tudo, porém, como já disse, era difícil piorar, mas a simples tentativa de fazê-lo já me irritava ainda mais.
Logo, o dia estava chegando ao seu fim, sem chefes agredidos e sem vizinhos chacinados. O dia estava tão merda que só chovia por onde eu passava e foi aí que aconteceu. Muitos dirão que foi um fim de dia clichê, tratando-se de quem é. Eu discordo. Foi lindo e mágico ao mesmo tempo.
Eu e o whisky tínhamos tido uma briga feia. Dessas de ficar sem se falar por dias.  Fui eu quem resolveu tomar a iniciativa e parei no caminho para uma garrafa nova. Sequer cheguei a abrir a garrafa, não precisou. Era como rever um amigo de longa data. Tocamos-nos, sem nos falar, bastou um trocar de olhares, um sorriso de canto de boca, o primeiro sorriso do dia. Onde diabos estávamos com a cabeça quando brigamos? Acabou o dia ali, era outro agora, melhor, mais tragável. Não precisávamos dizer nada, como velhos amigos bastou um olhar. Tudo poderia ser nosso novamente, o mundo e todo o resto. Éramos dois, a sós, poderíamos conquistar a tão sonhada eternidade, mesmo que malditos, eternos.



Bento.

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