Poucas coisas me deixam mais feliz que beber. Na verdade,
acho que só uma coisa me deixa mais feliz que beber, que é fazer sexo enquanto
bebo. O auge da felicidade é quando estou bebendo e transando na minha casa.
Sim, eu sei que é impossível substituir a mística do bar, mas nos últimos
tempos tenho preferido ficar bêbado em casa. Estou sem paciência para lugares
cheios, músicas de gosto duvidoso e garçons desgostosos com seus salários de
merda com suas caras de bosta demorando anos para trazer uma cerveja dignamente
gelada. Bem, isso e também porque eu tenho enfrentado o diabo com porres
vergonhosos para quem se propôs a viver uma vida de porres desde cedo. Não é
fácil chegar ao meu nível, daqueles de ser reconhecido na rua por desconhecidos
como um bebedor de respeito. Porres estes acompanhados de ressacas morais
cruelíssimas, mas quando você pisa na merda a melhor coisa que se pode fazer é
abrir os dedos. De qualquer forma decidi evitar lugares públicos por um tempo.
Faço tudo em casa. Bebo e transo. Sem motéis baratos, sem conta para pagar após
estar bêbado. Tudo na mais perfeita ordem. O único problema de se fazer festas
em casa é que a bagunça e a sujeira fica para você recolher. Camisinhas jogadas
pelos cantos, garrafas de whisky, latas de cervejas, bitucas de cigarros em
cima da cama, manchas de vômito no chão... E poucas coisas são tão
desagradáveis quanto limpar vômito quando se está de ressaca, com exceção
quando a noite anterior tenha sido muito, mas muito boa, pois aí você limpa,
lembra das merdas que foram feitas e você limpa feliz. Quase como uma Amélia.
Outro dia eu bebi e tenho um lapso de umas seis horas das
quais não me lembro de quase nada. Isso chama-se ossos do ofício, por vezes
acontece. Não se pode beber e lembrar de tudo nos mínimos detalhes. Você perde
momentos para ganhar outras coisas. Histórias, por exemplo. Não há um bêbado
que não tenha uma história engraçada para contar, engraçada para o ouvinte,
muitas vezes trágica para o locutor, mesmo assim histórias. Um amigo se perdeu
numa cidade próxima rodeado de prostitutas num quarto de motel cheio de baratas
e sem um tostão no bolso. Trágico no momento, engraçadíssimo depois de uns dois
dias. Eu sempre digo que não confio em pessoas que não bebem, não por nada, não
sou preconceituoso, só acho que pessoas que não bebem sempre têm algo a
esconder e quando se esconde coisas, no mínimo essas coisas não são tão sem
importância assim. É possível que você esteja conversando com um psicopata, um
pedófilo e tal, para a maioria ele parece confiável simplesmente porque ele não
bebe. Isso sim é preconceito. Julgar uma pessoa antes de conhecer seus piores
defeitos é de uma besteira tamanha. Julgar o bêbado só pelo seu hábito de beber
também. As melhores pessoas que conheci na vida eram bêbadas. Não professores,
não estudiosos, nem religiosos... bêbados. Sempre bêbados.
Ainda falando em religiosos... Hoje encontrei uma garota
lindíssima no metrô e ela usava daquelas roupas de velhas sebosas que vão às
igrejas mais temperamentais e arcaicas e isso me fez pensar muito em tudo que
aquela garota estava deixando de viver por causa de uma lenda idiotia que seus
pais a fizeram-na acreditar. Era uma bela garota, uma menina praticamente, com roupas
medíocres e uma aliança dourada no dedo denunciando sua libido de transar, fato
que a fez casar com outro idiota como ela para se satisfazer, imagino eu. Pensei
em todas as festas que ela deixou de aproveitar, todas as decepções de amores
que ela não precisou curar e com isso não pôde conhecer a si mesma e os limites
de sua alma. Pensei em todas as privadas que ela deixou de sujar com seu
vômito, todas as bebidas que não provara e todas as noites de ressaca e mal
dormidas que teria de superar. Todos os bares e pessoas loucas que abdicara de
conhecer. Todos os tapas na bunda, gozadas na cara, brinquedos eróticos, sustos
de gravidez que ficarão apenas em sua imaginação.
Dito isso, penso então que deveria ser pecado introduzir
crianças em suas religiões malditas e sem fundamento. Afinal, se é verdade o
que dizem sobre as religiões serem libertadoras, no mínimo é preciso passar
longos anos pecando para merecer perdão de qualquer que seja o seu deus. Por
isso acho que só deveria haver religiosos velhos, deixem as crianças viverem e
aprenderem com seus erros, seus velhos cretinos e estúpidos. O tempo é um
maldito sacana e cruel que nunca se permite dar segundas chances, portanto, não
tirem delas a preciosidade de viver seus melhores momentos. Todo o tempo do
mundo pode não passar de um curto espaço de tempo de quinze minutos, então
fodam-se vocês e suas alienações exacerbadas por idiotas corruptos que sugam
todos os anos de suas vidas com promessas utópicas de um paraíso post-mortem.
Bento.
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