quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

PORRES INDECENTES E ESPORRADAS NA CARA

-

Poucas coisas me deixam mais feliz que beber. Na verdade, acho que só uma coisa me deixa mais feliz que beber, que é fazer sexo enquanto bebo. O auge da felicidade é quando estou bebendo e transando na minha casa. Sim, eu sei que é impossível substituir a mística do bar, mas nos últimos tempos tenho preferido ficar bêbado em casa. Estou sem paciência para lugares cheios, músicas de gosto duvidoso e garçons desgostosos com seus salários de merda com suas caras de bosta demorando anos para trazer uma cerveja dignamente gelada. Bem, isso e também porque eu tenho enfrentado o diabo com porres vergonhosos para quem se propôs a viver uma vida de porres desde cedo. Não é fácil chegar ao meu nível, daqueles de ser reconhecido na rua por desconhecidos como um bebedor de respeito. Porres estes acompanhados de ressacas morais cruelíssimas, mas quando você pisa na merda a melhor coisa que se pode fazer é abrir os dedos. De qualquer forma decidi evitar lugares públicos por um tempo. Faço tudo em casa. Bebo e transo. Sem motéis baratos, sem conta para pagar após estar bêbado. Tudo na mais perfeita ordem. O único problema de se fazer festas em casa é que a bagunça e a sujeira fica para você recolher. Camisinhas jogadas pelos cantos, garrafas de whisky, latas de cervejas, bitucas de cigarros em cima da cama, manchas de vômito no chão... E poucas coisas são tão desagradáveis quanto limpar vômito quando se está de ressaca, com exceção quando a noite anterior tenha sido muito, mas muito boa, pois aí você limpa, lembra das merdas que foram feitas e você limpa feliz. Quase como uma Amélia.

Outro dia eu bebi e tenho um lapso de umas seis horas das quais não me lembro de quase nada. Isso chama-se ossos do ofício, por vezes acontece. Não se pode beber e lembrar de tudo nos mínimos detalhes. Você perde momentos para ganhar outras coisas. Histórias, por exemplo. Não há um bêbado que não tenha uma história engraçada para contar, engraçada para o ouvinte, muitas vezes trágica para o locutor, mesmo assim histórias. Um amigo se perdeu numa cidade próxima rodeado de prostitutas num quarto de motel cheio de baratas e sem um tostão no bolso. Trágico no momento, engraçadíssimo depois de uns dois dias. Eu sempre digo que não confio em pessoas que não bebem, não por nada, não sou preconceituoso, só acho que pessoas que não bebem sempre têm algo a esconder e quando se esconde coisas, no mínimo essas coisas não são tão sem importância assim. É possível que você esteja conversando com um psicopata, um pedófilo e tal, para a maioria ele parece confiável simplesmente porque ele não bebe. Isso sim é preconceito. Julgar uma pessoa antes de conhecer seus piores defeitos é de uma besteira tamanha. Julgar o bêbado só pelo seu hábito de beber também. As melhores pessoas que conheci na vida eram bêbadas. Não professores, não estudiosos, nem religiosos... bêbados. Sempre bêbados.

Ainda falando em religiosos... Hoje encontrei uma garota lindíssima no metrô e ela usava daquelas roupas de velhas sebosas que vão às igrejas mais temperamentais e arcaicas e isso me fez pensar muito em tudo que aquela garota estava deixando de viver por causa de uma lenda idiotia que seus pais a fizeram-na acreditar. Era uma bela garota, uma menina praticamente, com roupas medíocres e uma aliança dourada no dedo denunciando sua libido de transar, fato que a fez casar com outro idiota como ela para se satisfazer, imagino eu. Pensei em todas as festas que ela deixou de aproveitar, todas as decepções de amores que ela não precisou curar e com isso não pôde conhecer a si mesma e os limites de sua alma. Pensei em todas as privadas que ela deixou de sujar com seu vômito, todas as bebidas que não provara e todas as noites de ressaca e mal dormidas que teria de superar. Todos os bares e pessoas loucas que abdicara de conhecer. Todos os tapas na bunda, gozadas na cara, brinquedos eróticos, sustos de gravidez que ficarão apenas em sua imaginação.


Dito isso, penso então que deveria ser pecado introduzir crianças em suas religiões malditas e sem fundamento. Afinal, se é verdade o que dizem sobre as religiões serem libertadoras, no mínimo é preciso passar longos anos pecando para merecer perdão de qualquer que seja o seu deus. Por isso acho que só deveria haver religiosos velhos, deixem as crianças viverem e aprenderem com seus erros, seus velhos cretinos e estúpidos. O tempo é um maldito sacana e cruel que nunca se permite dar segundas chances, portanto, não tirem delas a preciosidade de viver seus melhores momentos. Todo o tempo do mundo pode não passar de um curto espaço de tempo de quinze minutos, então fodam-se vocês e suas alienações exacerbadas por idiotas corruptos que sugam todos os anos de suas vidas com promessas utópicas de um paraíso post-mortem.


Bento.

-

Nenhum comentário: