Não se preocupe em deixar frutos nesta vida e ser gentil com
as pessoas, pois no fim todos nós terminaremos sozinhos. Não há um ser humano
sequer neste mundo que não colocará seus sentimentos e bem estar à frente de
todas as outras pessoas.
Lembro-me de minha casa, meses atrás, havia tantas latas
espalhadas quanto um ferro velho. Era o sonho de todo catador de latinhas,
passar alguns minutos ali recolhendo alumínio até fazer um bom dinheiro, como
aqueles programas de televisão que tinha minutos para escolher os prêmios que
queria levar.
Eu poderia recolher e vender tudo aquilo, mas tinha a
preguiças dos gatos, só funcionava de noite. E recolher latas e carregar sacos
pretos de lixo até o ferro velho não estava, nem de longe, em minha lista de prazeres.
Eu já fui mais de festas. Houve um tempo que chegara a fazer
duas festas por semana em casa. Regadas a cervejas, carnes sangrentas e música
alta a ponto de receber visitas frequentes de policiais em minha porta
informando sobre o descontentamento dos vizinhos com nossa festa de dar inveja
a Baco. Hoje faço festas mais particulares, quando faço, com minha garota e é
só. Muito suor e destilados. Cervejas e sexo. Mais que isso eu estaria
mentindo. A diferença entre minhas festas antigas e as atuais não é só o
possível sexo, pois isso nunca foi problema. É que hoje em dia é possível fazer
festa sem dizer uma palavra sequer. Quando muito um "passe a perna para
cá" basta. Entenda, não é sempre (quase nunca) que estou com vontade de
conversar e falar sobre coisas inúteis.
Veja um exemplo; outro dia estávamos numa festa de
aniversário com algumas pessoas que eu não via há tempos. Chegamos e apresentei
a garota aos antigos amigos e logo sentamos para dar início aquele velho e
chato papo bosta "olá, quanto tempo, o que tem feito?". Levei um
pacote de cerveja como é de bom tom em toda festa onde se é convidado, afinal,
é o único líquido que bebo e somente com o álcool sou capaz de sair de casa e
socializar decentemente com pessoas e meu pacote continha todo o álcool que
existia na festa, assim, dei graças aos céus por minha boa educação. Caso
contrário teria saído dali no mesmo instante que cheguei.
Digo isso, pois minhas cervejas eram as únicas que existia
no lugar e não havia nada mais alcoólico a não ser o usado para acender a
churrasqueira. Não que fosse novidade pra mim, afinal eu já fiz drinks com cada
coisa... O que quero dizer é que cada vez mais as pessoas estão preocupadas com
saúde e comidas saudáveis e exercícios físicos e para todo lugar que olho vejo
seres com corpos esculturais e roupas tão minúsculas quanto a velocidade de
raciocínio. Parece clichê, mas normalmente o ser mais forte não é o mais
esperto da sala. Normalmente. O que não quer dizer que isso não tenha suas
vantagens.
Minha garota mesmo, vez ou outra lhe pego revirando os olhos
por um ou dois caras que aparecem na TV com as tetas tão rijas que poderia
arrastar uma charrete com elas. Mulheres têm destas coisas, às vezes. Ela acha
que não percebo, mas estou sempre atento. Basta um cara com aqueles músculos
aparentes para lhe prender a atenção. Eu já sou exatamente o oposto. Apesar de ter
ganhado um pouco de peso, ainda me mantenho magro como salário mínimo e tão
sedentário quanto um bicho preguiça. Só me mexo quando extremamente necessário
e sempre que posso evitar, faço. Caminho até o mercado para buscar cervejas e
nada além do que posso carregar, pois acredito piamente que todo homem só
precisa ter a força necessária para carregar exatamente aquilo que vai beber e
comer, e é tão somente por isso que não sou adepto de gordas. Além disso, eu
ainda faço piadas, veja quanta coisa boa. Algumas garotas preferem homens
carismáticos aos fortes, afinal, foi-se o tempo que nós, machos, precisávamos
de força para sobreviver. Mas algo me preocupa. Não é que me faça perder o
sono, mas às vezes me pego pensando. É muita força para animais irracionais
andando por aí sem nenhuma cautela. Em algum momento pode dar merda, bem como
homossexuais agredidos nas esquinas e etc. É pouco raciocínio e muitos músculos
andando por aí sem qualquer vigilância e não que eu queira ser o mensageiro do
Apocalipse, mas não precisa ser muito esperto para prever que em algum momento,
numa sociedade escrota que vivemos hoje, com uma forte tendência ao fanatismo,
religioso, político entre outros, em meio a uma cultura empobrecida de ideias e
ideais, onde os artistas têm tanta massa cinzenta quanto seus seguidores
amebas, irá acontecer uma barbárie sem precedentes.
Nessa mesma festa que eu narrei, todos os garotos que
cresceram comigo, todos davam o dobro de mim, contudo não leram dez por cento
dos livros que eu li. Nem vou citar sobre porres, pois eu ganharia de mil a
zero. Não sei se estão conseguindo me acompanhar, porém vou simplificar. Talvez
tenhamos daqui a 50 anos, jovens senhores vivendo até seus 100 anos, saudáveis
e acéfalos, que criarão crianças acéfalas e por fim, sumiremos da face da Terra
como os animais que um dia, dominaram o mundo por serem racionais. Em plena
época onde a informação tem sido de maior acesso, as pessoas simplesmente não
conseguem acompanhar sua velocidade ou priorizar seu raro tempo naquilo que
realmente tenha importância.
Neste mês, fará seis anos que eu escrevo sem parar. Nestes
anos, eu li e ouvi de tudo que é tipo que se possa imaginar, desde o início eu
falo sobre isso, sobre este tópico e de lá para cá só piorou e não creio que vá
melhorar. É uma data importante pra mim. Numa conta rápida, supondo que eu
escrevesse apenas um texto por mês, o que é pouco perto do que escrevi, teria
eu escrito 72 textos neste período. Que é mais que todas as matérias de jornal
que esses seres musculosos leram nem sua vida medíocre. Pode apostar. Mas hoje,
tenho mais de 500 textos postados neste blog e não que isso me faça melhor que
eles, claro que não. Supondo que eu bebesse uma caixa de cerveja por semana
nestes seis anos e uma garrafa de destilado por mês, chutando baixo, eu teria
absorvido 72 garrafas, e 288 caixas de cerveja, sendo cada caixa com 12 latas,
eu teria bebido 3.456 latas de cerveja e 72mil mililitros de destilado dentre
eles whisky, vodca, conhaque, cachaça, tequila e derivados. Fatalmente isso não
me fará viver até os 100 anos. Contudo, talvez me faça ser lembrado, mesmo que
seja um exemplo a não ser seguido, de como viver a vida. Só isso já basta, para
não querer fazer parte deste exército de testosterona que andam sem rumo sempre
a caminho da multidão. Bem como mosquitos atraídos pela luz para tão logo,
serem mortos.
Bento.
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