domingo, 31 de agosto de 2014

A VIDA NÃO PASSA DE UMA GRANDE ESTEIRA LOTADA DE MERDA QUE VAI PASSANDO E PASSANDO

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Eu voltava do trabalho numa sexta-feira, o dia internacional do pecado, para mim e para o mundo - exceto os religiosos, estes pecam todos os dias. Eu digo voltava porque meu destino era minha casa. Não tinha um puto no bolso. Se for estranho para você ler que eu trabalhei o mês inteiro e estava voltando para casa por estar sem dinheiro, digo que você é uma pessoa feliz, pois a maioria das pessoas conhece o gosto amargo desta frase. O problema de voltar para casa na sexta-feira é que você não fica feliz de encontrar o metrô e o ônibus vazio, pois sabe que todas as outras pessoas estão em bares e puteiros e postos de gasolina, todos com suas cervejas geladas, soltando suas risadas com outras pessoas felizes das quais conseguiram fazer com que seus salários durassem o mês inteiro. Por isso digo que o caminho de volta para casa na sexta-feira tem sabor amargo. O excesso de sangue em sua corrente sanguínea e nada de álcool nas veias tem um sabor amargo. Mas tudo isso ainda pode ficar pior.

Eu tenho um problema com belas garotas. Tenho o problema de querer pra mim qualquer mulher que ultrapasse os limites possíveis de beleza. E ainda existe o fato de que alguns graus de beleza vêm embutidos com uma crueldade ferrenha de trazer-nos para a realidade de que não temos, e ainda potencializado pelo problema de voltar para casa no dia especialmente dedicado a beber e ficar bêbado, muito bêbado. Toda merda feita em consequência do álcool numa sexta deveria ser perdoada. Isso deveria ser lei. O 11° mandamento. As pessoas amam mais na sexta-feira, até. Caso Deus fosse um cara justo ele teria feito duas sextas na mesma semana. Porém, deixo de lamentar-me as injustiças divinas sobre o calendário para falar da tal garota que encontrei no metrô, afinal. Eu já disse aqui que sou um apaixonado por cabelos e mais cabelos negros e longos, no entanto, tenho uma coisa quase edipiana com cabelos loiros e olhos azuis. E digo mais: que se fodam todos os nacionalistas agora. Ela era um belo exemplar de europeia dos países baixos. Difícil até para mim, dramático que sou, traduzir em palavras o motivo da minha camisa ensopada de baba que eu derramava por causa de seu rosto. Tratava-se de um encaixe perfeito de queixo e nariz e olhos e testa e lábios e eu já estava apaixonado antes mesmo de pensar em escrever estas linhas. Quando eu era mais jovem e ainda tinha um bom relacionamento com Deus eu agradecia a Ele por ter minha visão perfeita e poder apreciar tais perfeições colocadas em nosso mundo para lembrarmos-nos de nossos defeitos e limites. Hoje não agradeço mais. Ainda tentando fazer com que vocês imaginem algo pelo menos próximo ao que eu havia presenciado, eu tenho um conhecido que diz que esse tipo de garota é para comer num papai-mamãe básico no intuito de não perder aquele rosto de vista. Tinha um outro que dizia que certas garotas são bonitas até cagando. Essa era um tipo deste.

Mas eu tenho outros vícios além de garotas tão lindas quanto nossas mentes possam imaginar, o álcool e a escrita. Eu sou um reparador irremediável. Você, seu bosta, que está apontando para a tela do computador com seu risinho estúpido desfazendo do autor e dizendo a si mesmo não existir a tal palavra "reparador" no intuito de reparar quero mais é que você morra com uma lança enfiada no cu, pois eu invento o que eu quiser. Então voltamos ao ato de reparar e analisar sobre roupas, dedos dos pés, manchas amarelas nas camisas abaixo das áxilas e por aí vai. Combinações de cores sempre mexem com minha libido por achar que é necessário um extremo bom senso para o êxito nas combinações e lhe digo, engolindo com gosto todas as injúrias que disse em todos esses anos sobre a vestimenta alheia. Digo, pois esta garota estava vestida com uma das piores combinações de todos os tempos e eu me omiti. Não disse uma palavra sequer. Sapatos vermelhos, calças listradas de branco e preto, blusa verde, cachecol roxo e bolsa laranja e eu não fiz uma critica nem mentalmente. Reparei e guardei pra mim no mais profundo âmago. Traí meus conceitos sem mesmo me lamentar, simplesmente pelo motivo de que algumas garotas têm rostos tão perfeitos que nada mais importa. Só fui lembrar-me da sexta-feira deprimente quando ela desceu na estação Paraíso e eu lembrei que talvez eu pudesse estar bebendo com paisagem, na Rua Augusta e me embebedar com a beleza das garotas de lá.

A sexta-feira passou sem maiores problemas e o final de semana também, bem como toda a semana seguinte de trabalho porque as coisas simplesmente passam. A maior parte da sua vida passa e é só isso que acontece. Nada de outro mundo, nenhum incrível fato que mereça comentário. Para quem lê, a sensação deve ser de que a vida de quem escreve é sempre ativa e singular mas a vida é uma merda para todo mundo. A vida não passa de uma grande esteira lotada de merda que vai passando e passando e o pedaço que tem menos merda você acaba por pensar que está melhorando. Então nós que escrevemos cortamos os momentos em que a esteira está cheia e só falamos, pelo menos na maioria das vezes, das partes com pouca merda.

Era uma quinta-feira, eu acho. O frio tinha ido embora e estava um clima agradável e eu estava voltando para casa com um livro de Bukowski aberto. Como ainda era quinta-feira não havia lugar para sentar e eu lia em pé. Até que começou a entrar mais e mais gente conforme as estações do metrô iam passando. Parando e pegando pessoas. Todos voltando ou indo para algum lugar. Do trabalho, da casa do namorado ou namorada. Velhos voltando do médico, crianças voltando da escola. Velhos voltando do médico com suas crianças. Tarados passeando de metrô a fim de esfregar algumas bundas e por aí vai. Eu estava em pé lendo alguns contos de Bukowski, voltando do trabalho numa quinta-feira e reparei ao erguer os olhos que na última estação haviam entrado duas garotas no vagão, desconhecidas uma da outra e além de seus rostos lindos como um gato brincando com uma folha seca, elas eram simplesmente incomuns. Uma era ruiva e a outra loira. Ruiva e loira de verdade. Com sardas e tudo. Vocês sabem como é raro encontrar ruivas e loiras de verdade hoje em dia? Ainda mais no mesmo vagão e horário. Então eu poderia interpretar aquilo do jeito que eu escolhesse e decide interpretar como um sinal positivo. O Destino por alguma razão estava de bom humor e queria que eu soubesse disso. Nunca escondi que o Destino e eu somos arqui-inimigos, mas mesmo nós damos uma trégua de vez em quando.

Então voltando para a sexta-feira maldita da qual eu não tinha dinheiro e nem lugar para ir. Acabei indo para casa. Abri o livro de Bukowski, abri a garrafa de whisky, pois mesmo sem dinheiro o álcool nunca falta. Sempre há uma garrafa de qualquer coisa no frigobar ou na cômoda para saciar minha sede e minha loucura. Abri o saco de fumo, adicionei ao cachimbo, estava pronto. Só faltava a trilha sonora. Fiz uma seleção das músicas de Albert King, Muddy Waters e mais algumas coisas parecidas. Eu lia e fumava e bebia e a sexta-feira dos infernos demorava a acabar. Só parei de ler quando a inspiração deu o ar da graça, deixei o livro de lado e servi mais uma dose enquanto digitava frases e mais frases sobre qualquer coisa. O Destino realmente tinha dado uma trégua. Fiz um brinde em sua homenagem, então.



Bento.

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domingo, 17 de agosto de 2014

30 DIAS E 30 NOITES DE MALDIÇÕES E ATROCIDADES (17 JUL - 15 AG)

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É, eu sou uma cara durão. E isso não é nenhuma declaração de amor. Eu sequer tenho prática de fazê-la, caso pretendesse, faz muito tempo desde a última vez.
Eu sou um cara supersticioso. Isso explica o motivo de minha inimizade com o Destino, afinal sempre tento reescrevê-lo. Eu não sou nenhum religioso, porém sou supersticioso.

Todos temos um dia ruim. Uma data ruim. Os religiosos principalmente. Um exemplo é a quaresma. No entanto, eu tenho um mês sabático em que eu me transformo. É exatamente na virada dos signos Câncer para o Leonino. São trinta dias malditos onde eu não consigo me concentrar em nada, em ninguém e as coisas sempre acabam da pior forma possível. Eu disse malditos? Vocês, em sua maioria provavelmente não sabem bem o que significa isso. Eu já falei sobre meus demônios e é exatamente nesses trinta dias - que se concluem no dia de hoje (15) - onde eles se veem livres para fazerem o que bem entendem, festas e a porra toda.  O mundo não é só o que nossos olhos podem ver. Há mais coisas entre viver e morrer, morrer e viver. Os românticos diriam que sofremos ao perpetuarmos a vontade de nossos corações, e que devemos dar ouvidos apenas a nossa mente. Vou lhe dizer uma coisa: os românticos não sabem nada sobre o amor exceto a autoflagelação. Quando mente e coração apontam para o mesmo lado não há o que fazer a não ser tentar enfraquecê-los e é isso o que bêbados como eu tentam fazer durante suas vidas inteiras mas ninguém entende. Não entendem porque apenas quem passa por isso sabe. É preciso passar por isso para valorizar as migalhas. Mais que a metade das pessoas passam suas vidas inteiras sobrevivendo de migalhas e não se dão conta disso. E eu não estou falando de pobres ou mendigos, estou falando de migalhas sentimentais. Do único caroço de feijão no prato do afeto.

Já reparou como todo fim de Julho é chuvoso e gelado. Eu o reconheço como o olhar num espelho. O Sol parte em complacência. Não há muito pelo que lutar, nem pelo que por a cara para fora de casa. Eu disse que não há muito? Na verdade não há quase nada.
Não quero que pensem que isso é um testemunho de desistência pois não existe nada pelo que lutar. São apenas 30 dias e 30 noites de subsistência, lamentos, perigos, lembranças malignas. Do dia 17 de Julho até o dia 15 de Agosto. É um mês inteiro pelo resto de minha vida que eu relembrarei o quanto uma pessoa pode mudar seu Destino da forma mais incompetente possível. Mudá-lo para pior, bem pior. Lembrar e lembrar o quão fundo pode ser o fundo do posso, o quão frio pode ser o inferno. E o quanto pode ser inútil uma declaração de amor após você ter feito coisas das quais passaria o resto da vida se lamentando. Provavelmente é como ser responsável pela morte de alguém que nutre um sentimento profundo. Foi isso que fiz. Causei a morte. Talvez a própria. A morte de outrem. Sou eu, o assassino do amor, não agi sozinho, mas fui o mandante e o executor. Conviverei com isso querendo ou não.

O bem da verdade é que relembro que o último 15 de Agosto que realmente importava comemorar eu abri mão. E isso, definitivamente começou a matar o tal do amor. Como um câncer. Começou ali e claro que como todo assassino eu não desisti, passei a matá-lo aos poucos, como que o torturando. Matei matei matei. E pago por isso até hoje em cárcere privado. Privado das coisas que eu mais acho importante.

A vida é bem mais que isso - vão dizer - e é por isso que minha maldição dura apenas um mês. Caso contrário duraria todos os outros que me restam para tentar fugir desta prisão, ou pelo menos tentar um indulto. Podem dizer que eu sou um exagerado e que eu faço muito drama até mesmo para quem escreve. Eu responderei que para quem escreve nunca existirá drama demais, apenas o drama bom ou ruim. Não se vive a vida sem alguns lamentos, mas com minha mania de grandeza quis eu exagerar no tamanho do erro. Poucos sabem dessas minhas mazelas, da verdadeira história de amor e ódio como uma novela mexicana e quem conhece não acredita que possa ser verdadeira. Sequer eu acredito que pude ser tão traíra comigo mesmo. Mas as maiores tragédias são as mais inacreditáveis, se são.

Lembro-me como se fosse hoje. Do dia que eu me sabotei, hoje, exatamente completam 5 anos. E ainda lembro-me como se fosse hoje. Dos olhos de quem me via com a admiração que só quem ama pode compreender saía a mais completa decepção e na hora eu não percebi, ou não quis perceber. Os que defendem minha inocência dizem que não passou disso, que eu fui inocente. Talvez eu tenha sido, mas não vou me enganar nem enganar quem me lê, esta não foi minha única tentativa de assassinar o amor. Desde este dia eu passei a ser um sociopata em busca de sangue. Eu praticamente abri meu peito à unha e despejei todo seu conteúdo no esgoto. Ainda me resta o sangue nas mãos, o gosto de morte na boca, os pesadelos noturnos.

Como a maioria dos assassinos eu poderia me esconder atrás da religião e pedir perdão a Deus. Eu poderia andar por aí pregando minha infelicidade de ter cometido tal atrocidade com o sentimento que eu queria tão bem, porém isso me soaria clichê demais e eu passei a odiar clichês. E digo que estes 30 dias, dos quais eu tenho que suportar todos os anos, talvez tenha saído barato. Talvez eu tenha saído no lucro, afinal, desde então eu passei a escrever com a companhia destes demônios e não consigo me ver fazendo qualquer outra coisa. Como veem, o Destino tem formas muito estranhas de brincar conosco.



Bento.

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domingo, 10 de agosto de 2014

NÓS HOMENS PROVAVELMENTE VIVEREMOS A VIDA TODA SEM SABER NADA SOBRE O AMOR

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Nos meus tempos de escola, na juventude, quando eu ainda sonhava com um futuro próspero, a mulher dos meus sonhos e conquistar o mundo, sempre ouvia a mesma coisa dos professores, abre aspas; tão inteligente, mas... Fecha aspas.

Eu nunca fora um bom aluno. Nunca tive muito respeito por nada. Arrogante que eu era (?), me mantinha à margem das regras que me eram impostas. Fiz atrocidades com colegas de classe que provavelmente estes têm suas psiques abaladas até hoje e ainda assim, toda bronca só vinha após um elogio. Tão inteligente, mas...

Penso que não é tão diferente hoje. Há sempre um porém em tudo que me rodeia. Conheço e conheci tantas pessoas, porém nenhuma delas - talvez só uma - consegue entreter-me com tanto prazer quanto a solidão da escrita. Escrever sempre fora uma ação silenciosa e solitária e mesmo quando acompanhado trato de fugir ao banheiro para agarrar a inspiração pelos cabelos e impedi-la que fuja.
Tenho um senso de justiça que julgo - caso discordem façam com bons argumentos - ser dos maiores que conheço, porém na única vez que isso poderia mudar minha vida o fez para pior. Falhou, talvez, ou não, mas é certo que mudou e para pior.

Um amigo uma vez me pediu ajuda dizendo "você que entende mais de mulheres...". Respondi que poderia ajudá-lo a falar com ela, convidá-la para sair, até sobre preliminares, mas que quando chegasse o amor, o casamento e os filhos ele estaria por conta própria, eu sei de algumas coisas, porém meu conhecimento sobre relacionamentos é como o verão, vem, traz com ele festas e passeios e depois vai embora deixando saudade e tempestade.
Também não pensem que é difícil para eu admitir que não sei quase nada sobre amor. Nós homens provavelmente viveremos a vida toda sem saber nada sobre ele. É fácil porque não se pode ter conhecimento de tudo. Não se pode ser bom em tudo. Veja nosso ex-presidente, por exemplo, foi ótimo com nosso dinheiro em seu bolso, nem tanto com as palavras. A atual presidente deve ser uma boa pessoa para se conversar durante um churrasco de domingo ou uma festa infantil no sábado à tarde, mas deve ser uma péssima cozinheira, afinal, não se pode entender de temperos quando se está armada de metralhadoras assaltando bancos para financiar a revolução.

Não se pode ter tudo, não se pode saber tudo. Sabem quem mais entende de amor? A mulher. Nós homens amamos, mas amamos uma ou duas vezes na vida. Uma garota com uma bela bunda que passa ali, na rua, enquanto você está fumando um cigarro durante o pequeno intervalo no trabalho, você acaba amando, porém não é aquele AMOR todo. Nós amamos instantaneamente, de leve, como lança-perfume, já as mulheres amam como cocaína, é preciso reabilitação para largar. Um exemplo: na adolescência eu amei loucamente a Alicia Silverstone, aquela mesmo dos vídeos do Aerosmith. Imaginei-me tendo filhos com ela, apresentando-lhe aos amigos e bebendo cerveja, nós dois no boteco ao lado de casa. Cheguei até procurar alguns de seus filmes na locadora, mas ficou nisso. As mulheres quando amam gritam, choram, esperneiam, escrevem cartas, fazem tatuagens, colecionam fotos, artigos, revistas, enfim. A mulher sempre foi mais aplicada no amor. Elas são donas do amor, proprietárias únicas. Nós ainda engatinhamos nessa coisa de amar. Não estamos tão longe de aprender, veja, caso amassemos as mulheres como nós amamos futebol e cerveja, estaríamos bem próximos do conhecimento que as mulheres têm do amor, no entanto não chegamos lá ainda.

Além disso, reparem na astúcia da mulher em relação ao amor. A mulher pode amar cem vezes durante toda a sua vida e todas as vezes o amor é verdadeiro, só que a mulher aprendeu a sobreviver ao amor. A mulher aprendeu a domesticar o dito cujo e vencê-lo. Terminou o amor e elas estão prontas para outro. Claro que existe um período de tristeza e etc., mas sempre sobrevivem. Agora, pergunto a você, já reparou num homem que perdeu o grande amor da sua vida? Difícil reparar porque ele deixa de existir, caminha à míngua pelas ruas, bêbado, louco, um trapo. Isso se deve ao fato do homem não saber amar. É falta de prática. Morre interiormente. Deseje a morte ao seu inimigo, mas não torça para que ele perca seu grande amor, pois isso é bem pior. Um homem pode viver a vida inteira sem muitas coisas, mas nunca poderá viver sem seu amor. Foi assim que surgiram as guerras, os poetas, os psicopatas, a sunga e a meia social. Queira ver uma matança de animais, mas não um homem que perdeu o amor. Não há nada mais triste, é preciso ter estômago. E então, depois da perda, pode ser que este homem venha a encontrar um segundo amor, ele não facilita, mas pode acontecer, porém, até lá ele já deixou um rastro enorme de merda, de destruição, de ressacas morais e todo o resto.
A mulher ama mais e ama em maior quantidade de vezes e todas elas são de puro amor verdadeiro. Ama até o último trago, ama até o fim ou até achar algo melhor para amar.

Eu amei uma vez. Talvez, tratando-se deste exemplo de amor do homem, usar a frase no passado não esteja correto. Mas esse amor é aquele amor de mulher, amei - ou amo - mesmo, com todas as forças. Mas no que eu sou bom mesmo é no amor típico de homem, o amor lança-perfume, o amor mais carnal. Lembro-me da última vez que tive esse tipo de amor. Já era a segunda vez que eu ficava bêbado no mesmo dia. E eu estava muito bêbado, de evitar levantar-me da cadeira para não entregar minha embriaguez. Bebendo comigo e mais alguns caras estava uma garota linda, de uma beleza radical, mas não unânime. Todos a chamavam de Leila. Leila era branca como a bunda de um albino no inverno. Aquilo me deixava intrigado, um sol de trinta graus, ela branca como leite e não havia sequer um sinal de vermelhidão em seu rosto. Vestia uma camiseta rasgada tão branca quanto sua pele e um jeans que desenhava toda sua bunda e perna e panturrilha. Era realmente um belo espécime de mulher-garota e tomei como objetivo - depois de perceber que seria difícil levantar-me dali - que não perderia aquela bunda de vista. Então todos os caras não desistiam de puxar conversa com Leila. Todos queriam possuí-la, até porque as outras opções de garotas não passavam nem perto da beleza de Leila. Os caras faziam graça e Leila sorria com seus dentes quase amarelos por causa dos cigarros – imaginei - seus dentes e seus lábios enormes e rosa. Eu a seguia com os olhos e ouvia todas as piadas e continuava bebendo. Eu também a queria, mas nenhuma parte do meu corpo me passava confiança de que iria levantar, não com aquela quantidade de álcool correndo pelas minhas veias. Até o álcool tem seu porém. Nessa hora já havia um ou outro cara sem fé que não disputava a atenção da garota de neve, então estes caras se contentavam com a atenção das garotas feias. E alguns até se sairam bem. O tamanho do ganho também tem a ver com o tamanho da aposta. Logo um outro cara puxou uma história das antigas, uma situação louca entre tantas que fugimos da morte por um triz e todos estavam em minha volta ouvindo minha parte da história. Eu estava bêbado, mas ainda lembrava dos detalhes, certas coisas são impossíveis de esquecer. Com todos os ouvidos e olhos apontados para mim percebi que era nesta hora que eu faria valer minha posição privilegiada de anfitrião, causador de confusões e orador de teorias mirabolantes. Foram mais ou menos 30 minutos dos olhos azuis da garota cor de papel em cima de mim, até todos começarem a se dissipar para esvaziarem suas bexigas e foi só por este motivo que eu consegui levantar de minha cadeira me esforçando para não tropeçar. Fui ao banheiro e mijei como quem não mijava há anos. Balancei uma porção de vezes até que não sobrasse nada. Perdi tempo, pois sempre sobra uma gota ou outra. Lavei as mãos olhando meu rosto ao espelho e me achei feio. Veja, eu me acho um cara bonito, um cara charmoso, porém quando bebo não gosto dos meus olhos, acho-os caídos. Bolsas abaixo das pupilas. Enfim, me olhava e não gostava do que via, no entanto não era o momento para eu me prender àquilo. Decidi jogar uma água no rosto, ajeitar o cabelo, não resolveu minha aparência e eu pensei: bem, foda-se. Acendi um cigarro e abri a porta para sair. Esperando do lado de fora também para atender ao chamado da bexiga estava Leila com seus olhos azuis me encarando. Neste momento ela era mais linda do que qualquer garota no mundo, afinal ela estava na minha casa, no meu banheiro e eu estava bêbado e ao contrário do que acho de mim quando bebo todas as outras pessoas acabam ficando mais atraentes. Quem bebe sabe. Sorrimos ao nos encararmos, ela entrou no banheiro e eu fiquei ali fumando e olhando para as paredes do meu quarto. Já as conhecia como a palma da minha mão, mas precisava passar o tempo. Podia ouvir a urina de Leila caindo na privada. Cada esguicho, cada gota. Pude ouvir a água da torneira na pia indo embora pelo encanamento enquanto ela lavava as mãos. De repente silêncio, talvez ela também estivesse parada em frente o espelho olhando-se e conversando consigo mesma como eu também havia feito. Ela finalmente abriu a porta e encontrou meus olhos mirando os olhos dela. Eu sorri, ela também sorriu e eu voltei a entrar no banheiro, agora junto de Leila.

Foi então que tive um desses amores que só os homens conseguem ter. Rápido e intenso como o sexo que fizemos. Leila era toda branca e rosa, assim como seus lábios e eu pude provar todos eles. Eu estava amando e no quarto alguém tinha colocado uma seleção de músicas para tocar que por coincidência começou com Honky Tonk Woman e não é segredo para ninguém o quanto eu aprecio Rolling Stones. Era amor, puro e puto amor. Transpirávamos ali juntos, eu ainda vestido com a camiseta e as calças na altura dos joelhos, a calça dela na mesma situação, porém sua camiseta branca rasgada estava pendurada no suporte para toalhas. Eu amei como os homens amam. Se ela me pedisse em casamento ali eu aceitaria. Conversaríamos sobre os nomes de nossos filhos e aposentadoria. Um amor com trilha sonora, romantismo à flor da pele e um sexo sem igual até aquela hora. A fatídica hora em que estava prestes a chegar ao ápice de todo aquele momento épico. Eu já podia prever os fogos de artifício, os pássaros no telhado cantando. O Diabo sorrindo de seu trono somando mais um pecado para sua coleção. Os anjos me saudando por tonar o mundo um pouco menos chato. Pedi que Leila ajoelhasse para que selássemos aquele amor e ela ajoelhou. Mas logo depois advertiu: não goza na minha cara.

E foi ali, naquele momento que eu deixei de ama-la. Os anjos viraram as costas, os pássaros deram um rasante procurando outro telhado para cantar. O Diabo contorceu-se lamentando seus tempos de glória. Meu coração partiu em pedaços e eu deixei de amar Leila.  Deixei de ama-la porque todas as garotas – com exceção de uma – tem o seu porém.



Bento.

sábado, 2 de agosto de 2014

ENQUANTO OS HOMENS DESEJAM SECRETAMENTE UMA MULHER MAIS MAGRA, MAIS GOSTOSA E QUE CHUPE SEM FAZER CARA DE ASCO

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Eu já disse que pouco sonho e odeio quando sou interrompido de um sonho bom exatamente por sua raridade. Eu deveria odiar meu celular que me acorda todos os dias e é bem possível que odeie. Um homem deveria ao menos ter direito de dormir tempo suficiente para sonhar. Mas só o que nos resta é sonhar acordado, dormir é para os privilegiados.

Houve um tempo que eu podia dormir e sonhar e voltar a dormir. Fiz isso durante quinze anos da minha vida. Naquele tempo eu só tinha a escola para me chatear e mesmo assim podia voltar pra casa e tirar um cochilo durante a tarde enquanto assistia um desenho e outro. Quando criança eu fiquei um ano inteiro vivendo de escola e desenhos animados, sem sair de casa para mais nada. Tínhamos mudado para uma nova casa, num bairro novo e eu não conhecia e não me lembrava de querer conhecer nenhuma das crianças vizinhas. Belos tempos aqueles. Era lindo. Bem, isso durou um ano, depois eu passei a sair na rua e conhecer a todos. Não sem antes arrumar algumas brigas por causa de futebol e outras coisas. Na escola eu não deixava de arrumar brigas. A primeira, que eu me lembre, foi por ser novo na escola, a segunda foi por ser novo na nova escola. Curioso é que parecia que todos os alunos se conheciam, eu era o único estranho. Todas as outras crianças pareciam morar na mesma rua e ninguém da minha rua estudava na mesma escola que eu. Isso era um sinal, ou não. Até chegar a adolescência eu tive que bater e apanhar uma porção de vezes.

Então isso era tudo o que eu sabia da vida: me defender, correr quando fosse preciso, e que um cochilo de tarde após o almoço é uma das coisas mais maravilhosas que existe no mundo. Sobre mulheres eu não conhecia absolutamente nada, ganhara um beijo de uma garota uma vez e era só isso que eu sabia da vida, até os meus quinze anos quando comecei a trabalhar, aí nada mais fez sentido. Como podemos viver a vida quando tudo o que temos tempo é para trabalhar, estudar e dormir? Sobra o quê? Duas ou três horas para que possamos comer, cagar e nos lavar. Que espécie de vida levamos? Lembro-me das aulas de biologia no ginásio e mesmo que por vezes eu já estivesse bêbado, ainda me lembro da professora de avental branco, belas pernas bronzeadas abaixo da saia e cabelos tingidos de loiro dizendo que a diferença entre nós e os outros animais é que somos racionais. Hoje me pergunto onde está essa racionalidade toda quando jogamos toda nossa vida fora fazendo coisa das quais não temos a mínima vontade de fazer? Veja os homens com seus ternos horríveis debaixo de um sol de 30 graus, numa poluição que nos seca a garganta e assa as narinas. Suas decepções estampadas em seus rostos, suas mulheres deprimentes e obesas desejando um marido melhor que pudesse lhe dar o luxo de saírem daquele ambiente nojento de transporte público e chefes de setor ignorantes e rabugentos. Enquanto os homens desejam secretamente uma mulher mais magra, mais gostosa, que chupe sem fazer cara de asco. Que engula a porra toda, que não tenha marcas de lingerie e que não os lembrem de que não passam de uns fracassados que não conseguem tirar suas mulheres deste ambiente nojento de transporte público e 25 de Março e praças de alimentação de shoppings lotados de pessoas tão deprimentes quanto eles. E são os animais os irracionais?

É interessante que todos fazem questão de demonstrar que tudo está bem e dentro do que planejaram. Claro que ninguém planeja trabalhar o dia todo vestido como um idiota e mastigar seu almoço seco requentado pelo microondas. Assim como nenhuma mulher deseja ver suas calcinhas com dois anos de uso penduradas do avesso no varal com o fundilho já gasto e amarelado assistindo seus filhos catarrentos clamando por presentes e passeios que o casal não pode bancar. Os mais chatos diriam que devido aos contos de fadas as garotas aprendem sempre a desejar o príncipe encantado, eu já acho que isso é mais Darwinismo. Porém, dizendo bem a verdade, ninguém gosta da miséria, da pobreza, nem homens nem mulheres, mas somos nós homens que acabamos arcando com a responsabilidade e não tente maquia-la, não tente florear a pobreza.

Desculpem-me se pareço repetitivo em relação a mulheres feias e gordas, no entanto peço que reparem nas cerimônias de casamento dos miseráveis e verão que ao seu lado haverá uma noiva que espelha exatamente sua vida: feia, pobre, infeliz, medíocre e com cara de 25 de março. Assim como as lembranças de casamento, os arranjos de flores, os sapatos e convidados.  Não superestime a pobreza, pois uma cerveja de mil reais sempre será melhor que a cerveja de dez reais. E a puta de mil reais sempre será melhor que a puta de trinta. O boquete de quinhentos sempre será melhor que o de cinco conto na esquina abandonada. O sexo no banco de couro de um carro alemão sempre será melhor do que o sexo no estofado rasgado do Chevette.

Inclusive o olhar de seus sogros é diferente de quando você é um banqueiro ou um escritor bêbado que nunca foi publicado. Até o olhar de sua mãe é diferente, afinal sua mãe também é mulher. E mesmo que algumas linhas e frases de efeito te ajude a transar com infinitas garotas e que algumas delas sejam as mais lindas e sexy que você já viu, saiba que seu casamento ainda será com uma garota gorda, com o buço cabeludo e verrugas anais. Com suas irmãs, primas e tias tão horríveis e bregas como a noiva, salgadinhos frios e cerveja quente ao melhor estilo 25 de Março, pois as garotas lindas e sexy e inteligentes e magras se casam com senhores ricos e barrigudos que as trairão com outras garotas lindas e sexy e inteligentes e magras. E quando você tiver ciência disso poderá ser livre e deitar sua cabeça no travesseiro em paz.