Nos meus
tempos de escola, na juventude, quando eu ainda sonhava com um futuro próspero,
a mulher dos meus sonhos e conquistar o mundo, sempre ouvia a mesma coisa dos
professores, abre aspas; tão inteligente,
mas... Fecha aspas.
Eu nunca fora
um bom aluno. Nunca tive muito respeito por nada. Arrogante que eu era (?), me
mantinha à margem das regras que me eram impostas. Fiz atrocidades com colegas
de classe que provavelmente estes têm suas psiques abaladas até hoje e ainda assim, toda bronca só vinha após um elogio. Tão
inteligente, mas...
Penso que não
é tão diferente hoje. Há sempre um porém em tudo que me rodeia. Conheço e
conheci tantas pessoas, porém nenhuma delas - talvez só uma - consegue
entreter-me com tanto prazer quanto a solidão da escrita. Escrever sempre fora
uma ação silenciosa e solitária e mesmo quando acompanhado trato de fugir ao
banheiro para agarrar a inspiração pelos cabelos e impedi-la que fuja.
Tenho um
senso de justiça que julgo - caso discordem façam com bons argumentos - ser dos
maiores que conheço, porém na única vez que isso poderia mudar minha vida o fez
para pior. Falhou, talvez, ou não, mas é certo que mudou e para pior.
Um amigo uma
vez me pediu ajuda dizendo "você que entende mais de mulheres...".
Respondi que poderia ajudá-lo a falar com ela, convidá-la para sair, até sobre
preliminares, mas que quando chegasse o amor, o casamento e os filhos ele
estaria por conta própria, eu sei de algumas coisas, porém meu conhecimento
sobre relacionamentos é como o verão, vem, traz com ele festas e passeios e
depois vai embora deixando saudade e tempestade.
Também não
pensem que é difícil para eu admitir que não sei quase nada sobre amor. Nós
homens provavelmente viveremos a vida toda sem saber nada sobre ele. É fácil
porque não se pode ter conhecimento de tudo. Não se pode ser bom em tudo. Veja
nosso ex-presidente, por exemplo, foi ótimo com nosso dinheiro em seu bolso,
nem tanto com as palavras. A atual presidente deve ser uma boa pessoa para se
conversar durante um churrasco de domingo ou uma festa infantil no sábado à
tarde, mas deve ser uma péssima cozinheira, afinal, não se pode entender de
temperos quando se está armada de metralhadoras assaltando bancos para
financiar a revolução.
Não se pode
ter tudo, não se pode saber tudo. Sabem quem mais entende de amor? A mulher.
Nós homens amamos, mas amamos uma ou duas vezes na vida. Uma garota com uma
bela bunda que passa ali, na rua, enquanto você está fumando um cigarro durante
o pequeno intervalo no trabalho, você acaba amando, porém não é aquele AMOR
todo. Nós amamos instantaneamente, de leve, como lança-perfume, já as mulheres
amam como cocaína, é preciso reabilitação para largar. Um exemplo: na
adolescência eu amei loucamente a Alicia Silverstone, aquela mesmo dos vídeos
do Aerosmith. Imaginei-me tendo filhos com ela, apresentando-lhe aos amigos e
bebendo cerveja, nós dois no boteco ao lado de casa. Cheguei até procurar
alguns de seus filmes na locadora, mas ficou nisso. As mulheres
quando amam gritam, choram, esperneiam, escrevem cartas, fazem tatuagens,
colecionam fotos, artigos, revistas, enfim. A mulher sempre foi mais aplicada
no amor. Elas são donas do amor, proprietárias únicas. Nós ainda engatinhamos
nessa coisa de amar. Não estamos tão longe de aprender, veja, caso amassemos as
mulheres como nós amamos futebol e cerveja, estaríamos bem próximos do
conhecimento que as mulheres têm do amor, no entanto não chegamos lá ainda.
Além disso,
reparem na astúcia da mulher em relação ao amor. A mulher pode amar cem vezes
durante toda a sua vida e todas as vezes o amor é verdadeiro, só que a mulher
aprendeu a sobreviver ao amor. A mulher aprendeu a domesticar o dito cujo e vencê-lo.
Terminou o amor e elas estão prontas para outro. Claro que existe um período de
tristeza e etc., mas sempre sobrevivem. Agora, pergunto a você, já reparou num
homem que perdeu o grande amor da sua vida? Difícil reparar porque ele deixa de
existir, caminha à míngua pelas ruas, bêbado, louco, um trapo. Isso se deve ao
fato do homem não saber amar. É falta de prática. Morre interiormente. Deseje a
morte ao seu inimigo, mas não torça para que ele perca seu grande amor, pois
isso é bem pior. Um homem pode viver a vida inteira sem muitas coisas, mas
nunca poderá viver sem seu amor. Foi assim que surgiram as guerras, os poetas,
os psicopatas, a sunga e a meia social. Queira ver uma matança de animais, mas
não um homem que perdeu o amor. Não há nada mais triste, é preciso ter
estômago. E então, depois da perda, pode ser que este homem venha a encontrar
um segundo amor, ele não facilita, mas pode acontecer, porém, até lá ele já
deixou um rastro enorme de merda, de destruição, de ressacas morais e todo o
resto.
A mulher ama
mais e ama em maior quantidade de vezes e todas elas são de puro amor verdadeiro.
Ama até o último trago, ama até o fim ou até achar algo melhor para amar.
Eu amei uma
vez. Talvez, tratando-se deste exemplo de amor do homem, usar a frase no
passado não esteja correto. Mas esse amor é aquele amor de mulher, amei - ou
amo - mesmo, com todas as forças. Mas no que eu sou bom mesmo é no amor típico
de homem, o amor lança-perfume, o amor mais carnal. Lembro-me da última vez que
tive esse tipo de amor. Já era a segunda vez que eu ficava bêbado no mesmo dia.
E eu estava muito bêbado, de evitar levantar-me da cadeira para não entregar
minha embriaguez. Bebendo comigo e mais alguns caras estava uma garota linda,
de uma beleza radical, mas não unânime. Todos a chamavam de Leila. Leila era
branca como a bunda de um albino no inverno. Aquilo me deixava intrigado, um
sol de trinta graus, ela branca como leite e não havia sequer um sinal de
vermelhidão em seu rosto. Vestia uma camiseta rasgada tão branca quanto sua
pele e um jeans que desenhava toda sua bunda e perna e panturrilha. Era
realmente um belo espécime de mulher-garota e tomei como objetivo - depois de
perceber que seria difícil levantar-me dali - que não perderia aquela bunda de
vista. Então todos os caras não desistiam de puxar conversa com Leila. Todos
queriam possuí-la, até porque as outras opções de garotas não passavam nem
perto da beleza de Leila. Os caras faziam graça e Leila sorria com seus dentes
quase amarelos por causa dos cigarros – imaginei - seus dentes e seus lábios
enormes e rosa. Eu a seguia com os olhos e ouvia todas as piadas e continuava
bebendo. Eu também a queria, mas nenhuma parte do meu corpo me passava
confiança de que iria levantar, não com aquela quantidade de álcool correndo
pelas minhas veias. Até o álcool tem seu porém. Nessa hora já havia um ou outro
cara sem fé que não disputava a atenção da garota de neve, então estes caras se
contentavam com a atenção das garotas feias. E alguns até se sairam bem. O
tamanho do ganho também tem a ver com o tamanho da aposta. Logo um outro cara
puxou uma história das antigas, uma situação louca entre tantas que fugimos da
morte por um triz e todos estavam em minha volta ouvindo minha parte da
história. Eu estava bêbado, mas ainda lembrava dos detalhes, certas coisas são
impossíveis de esquecer. Com todos os ouvidos e olhos apontados para mim
percebi que era nesta hora que eu faria valer minha posição privilegiada de
anfitrião, causador de confusões e orador de teorias mirabolantes. Foram mais
ou menos 30 minutos dos olhos azuis da garota cor de papel em cima de mim, até todos
começarem a se dissipar para esvaziarem suas bexigas e foi só por este motivo
que eu consegui levantar de minha cadeira me esforçando para não tropeçar. Fui
ao banheiro e mijei como quem não mijava há anos. Balancei uma porção de vezes
até que não sobrasse nada. Perdi tempo, pois sempre sobra uma gota ou outra.
Lavei as mãos olhando meu rosto ao espelho e me achei feio. Veja, eu me acho um
cara bonito, um cara charmoso, porém quando bebo não gosto dos meus olhos,
acho-os caídos. Bolsas abaixo das pupilas. Enfim, me olhava e não gostava do que
via, no entanto não era o momento para eu me prender àquilo. Decidi jogar uma
água no rosto, ajeitar o cabelo, não resolveu minha aparência e eu pensei: bem,
foda-se. Acendi um cigarro e abri a porta para sair. Esperando do lado de fora
também para atender ao chamado da bexiga estava Leila com seus olhos azuis me
encarando. Neste momento ela era mais linda do que qualquer garota no mundo,
afinal ela estava na minha casa, no meu banheiro e eu estava bêbado e ao
contrário do que acho de mim quando bebo todas as outras pessoas acabam ficando
mais atraentes. Quem bebe sabe. Sorrimos ao nos encararmos, ela entrou no
banheiro e eu fiquei ali fumando e olhando para as paredes do meu quarto. Já as
conhecia como a palma da minha mão, mas precisava passar o tempo. Podia ouvir a
urina de Leila caindo na privada. Cada esguicho, cada gota. Pude ouvir a água
da torneira na pia indo embora pelo encanamento enquanto ela lavava as mãos. De
repente silêncio, talvez ela também estivesse parada em frente o espelho
olhando-se e conversando consigo mesma como eu também havia feito. Ela
finalmente abriu a porta e encontrou meus olhos mirando os olhos dela. Eu
sorri, ela também sorriu e eu voltei a entrar no banheiro, agora junto de
Leila.
Foi então que
tive um desses amores que só os homens conseguem ter. Rápido e intenso como o
sexo que fizemos. Leila era toda branca e rosa, assim como seus lábios e eu
pude provar todos eles. Eu estava amando e no quarto alguém tinha colocado uma
seleção de músicas para tocar que por coincidência começou com Honky Tonk Woman
e não é segredo para ninguém o quanto eu aprecio Rolling Stones. Era amor, puro
e puto amor. Transpirávamos ali juntos, eu ainda vestido com a camiseta e as
calças na altura dos joelhos, a calça dela na mesma situação, porém sua
camiseta branca rasgada estava pendurada no suporte para toalhas. Eu amei como
os homens amam. Se ela me pedisse em casamento ali eu aceitaria. Conversaríamos
sobre os nomes de nossos filhos e aposentadoria. Um amor com trilha sonora,
romantismo à flor da pele e um sexo sem igual até aquela hora. A fatídica hora
em que estava prestes a chegar ao ápice de todo aquele momento épico. Eu já
podia prever os fogos de artifício, os pássaros no telhado cantando. O Diabo
sorrindo de seu trono somando mais um pecado para sua coleção. Os anjos me
saudando por tonar o mundo um pouco menos chato. Pedi que Leila ajoelhasse para
que selássemos aquele amor e ela ajoelhou. Mas logo depois advertiu: não goza
na minha cara.
E foi ali,
naquele momento que eu deixei de ama-la. Os anjos viraram as costas, os
pássaros deram um rasante procurando outro telhado para cantar. O Diabo
contorceu-se lamentando seus tempos de glória. Meu coração partiu em pedaços e
eu deixei de amar Leila. Deixei de
ama-la porque todas as garotas – com exceção de uma – tem o seu porém.
Bento.
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