Eu já disse
que pouco sonho e odeio quando sou interrompido de um sonho bom exatamente por
sua raridade. Eu deveria odiar meu celular que me acorda todos os dias e é bem
possível que odeie. Um homem deveria ao menos ter direito de dormir tempo
suficiente para sonhar. Mas só o que nos resta é sonhar acordado, dormir é para
os privilegiados.
Houve um
tempo que eu podia dormir e sonhar e voltar a dormir. Fiz isso durante quinze
anos da minha vida. Naquele tempo eu só tinha a escola para me chatear e mesmo
assim podia voltar pra casa e tirar um cochilo durante a tarde enquanto
assistia um desenho e outro. Quando criança eu fiquei um ano inteiro vivendo de
escola e desenhos animados, sem sair de casa para mais nada. Tínhamos mudado
para uma nova casa, num bairro novo e eu não conhecia e não me lembrava de
querer conhecer nenhuma das crianças vizinhas. Belos tempos aqueles. Era lindo.
Bem, isso durou um ano, depois eu passei a sair na rua e conhecer a todos. Não
sem antes arrumar algumas brigas por causa de futebol e outras coisas. Na
escola eu não deixava de arrumar brigas. A primeira, que eu me lembre, foi por
ser novo na escola, a segunda foi por ser novo na nova escola. Curioso é que
parecia que todos os alunos se conheciam, eu era o único estranho. Todas as
outras crianças pareciam morar na mesma rua e ninguém da minha rua estudava na
mesma escola que eu. Isso era um sinal, ou não. Até chegar a adolescência eu
tive que bater e apanhar uma porção de vezes.
Então isso
era tudo o que eu sabia da vida: me defender, correr quando fosse preciso, e
que um cochilo de tarde após o almoço é uma das coisas mais maravilhosas que
existe no mundo. Sobre mulheres eu não conhecia absolutamente nada, ganhara um
beijo de uma garota uma vez e era só isso que eu sabia da vida, até os meus
quinze anos quando comecei a trabalhar, aí nada mais fez sentido. Como podemos
viver a vida quando tudo o que temos tempo é para trabalhar, estudar e dormir?
Sobra o quê? Duas ou três horas para que possamos comer, cagar e nos lavar. Que
espécie de vida levamos? Lembro-me das aulas de biologia no ginásio e mesmo que
por vezes eu já estivesse bêbado, ainda me lembro da professora de avental
branco, belas pernas bronzeadas abaixo da saia e cabelos tingidos de loiro
dizendo que a diferença entre nós e os outros animais é que somos racionais.
Hoje me pergunto onde está essa racionalidade toda quando jogamos toda nossa
vida fora fazendo coisa das quais não temos a mínima vontade de fazer? Veja os
homens com seus ternos horríveis debaixo de um sol de 30 graus, numa poluição
que nos seca a garganta e assa as narinas. Suas decepções estampadas em seus
rostos, suas mulheres deprimentes e obesas desejando um marido melhor que
pudesse lhe dar o luxo de saírem daquele ambiente nojento de transporte público
e chefes de setor ignorantes e rabugentos. Enquanto os homens desejam
secretamente uma mulher mais magra, mais gostosa, que chupe sem fazer cara de
asco. Que engula a porra toda, que não tenha marcas de lingerie e que não os
lembrem de que não passam de uns fracassados que não conseguem tirar suas
mulheres deste ambiente nojento de transporte público e 25 de Março e praças de
alimentação de shoppings lotados de pessoas tão deprimentes quanto eles. E são
os animais os irracionais?
É
interessante que todos fazem questão de demonstrar que tudo está bem e dentro
do que planejaram. Claro que ninguém planeja trabalhar o dia todo vestido como
um idiota e mastigar seu almoço seco requentado pelo microondas. Assim como
nenhuma mulher deseja ver suas calcinhas com dois anos de uso penduradas do
avesso no varal com o fundilho já gasto e amarelado assistindo seus filhos
catarrentos clamando por presentes e passeios que o casal não pode bancar. Os
mais chatos diriam que devido aos contos de fadas as garotas aprendem sempre a
desejar o príncipe encantado, eu já acho que isso é mais Darwinismo. Porém,
dizendo bem a verdade, ninguém gosta da miséria, da pobreza, nem homens nem
mulheres, mas somos nós homens que acabamos arcando com a responsabilidade e
não tente maquia-la, não tente florear a pobreza.
Desculpem-me se pareço
repetitivo em relação a mulheres feias e gordas, no entanto peço que reparem
nas cerimônias de casamento dos miseráveis e verão que ao seu lado haverá uma
noiva que espelha exatamente sua vida: feia, pobre, infeliz, medíocre e com
cara de 25 de março. Assim como as lembranças de casamento, os arranjos de
flores, os sapatos e convidados. Não
superestime a pobreza, pois uma cerveja de mil reais sempre será melhor que a
cerveja de dez reais. E a puta de mil reais sempre será melhor que a puta de
trinta. O boquete de quinhentos sempre será melhor que o de cinco conto na
esquina abandonada. O sexo no banco de couro de um carro alemão sempre será
melhor do que o sexo no estofado rasgado do Chevette.
Inclusive o
olhar de seus sogros é diferente de quando você é um banqueiro ou um escritor
bêbado que nunca foi publicado. Até o olhar de sua mãe é diferente, afinal sua
mãe também é mulher. E mesmo que algumas linhas e frases de efeito te ajude a
transar com infinitas garotas e que algumas delas sejam as mais lindas e sexy
que você já viu, saiba que seu casamento ainda será com uma garota gorda, com o
buço cabeludo e verrugas anais. Com suas irmãs, primas e tias tão horríveis e
bregas como a noiva, salgadinhos frios e cerveja quente ao melhor estilo 25 de
Março, pois as garotas lindas e sexy e inteligentes e magras se casam com
senhores ricos e barrigudos que as trairão com outras garotas lindas e sexy e
inteligentes e magras. E quando você tiver ciência disso poderá ser livre e
deitar sua cabeça no travesseiro em paz.
Um comentário:
Sempre a bela descrição de mulheres magras! Gostei! Hahaha
Postar um comentário