quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Paixão de Metrô.

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Um dia desses zapeando meu orkut vi através das atualizações que o site nos mostra que uma amiga tinha adicionado uma comunidade que logo chamou minha atenção. A comunidade chamava-se “Amores Breves de Metrô” e me peguei pensando sobre o assunto, lembrei que já tive vários e a julgar pelo número de participantes da comunidade não é uma loucura só minha, mas de muitas outras pessoas, (6.304 mil membros) para ser mais exato.


Evidente que o metrô é um lugar cru, sem muitas cores onde as pessoas mal se olham, alguns ouvem música com o egoísmo dos fones de ouvido, outras lêem seus livros para aproveitar o tempo, outros lêem os livros alheios como uma resenha, pela proximidade das pessoas ao metrô lotado, é possível você ler algumas páginas dos livros das pessoas ao lado, ruim é quando o livro parece bom pelo pouco que leu, aí você vai embora para o trabalho louco para comprá-lo e terminar o que começou.

Eu sou de fato um apaixonado pelo metrô, na minha opinião é o meio de transporte mais funcional que temos na cidade e o mais confortável, mesmo que as vezes não sabemos se os nossos membros são nossos mesmos ou dos outros de tão lotado que está, mas nada é perfeito. No meu caso meus horários colaboram para que eu não precise me apertar tanto, pois, pego o metrô fora da hora do rush o que não me impede de me apaixonar brevemente como citou a comunidade.

Eu sou detalhista ao extremo, logo a primeira coisa que faço quando entro no metrô é reparar em todas as pessoas que dividem o vagão comigo e muitas das vezes fui embora achando que poderia ter achado a mulher da minha vida. Perceber que você terá uma companhia tão maravilhosa que te fez apaixonar-se logo no primeiro olhar, aquela mulher linda, toda produzida para o trabalho no escritório, ou vestida aleatoriamente para a faculdade ou qualquer outro lugar. Meus olhos me levam a todos os lugares possíveis, como eu disse sou detalhista até demais é uma coisa fora do controle eles tem vida própria, vão onde querem, assim começo a desvendar aquela perfeição disfarçada de mulher desde os cabelos até os sapatos de salto coloridos, com bolinhas, listras, bico fino, ou até mesmo aquele All Star sujo como deve ser. Eu imagino como ficariam os cabelos que estão soltos presos, e os presos imagino soltos, imagino aquela mulher linda vestida de terno, de chinelo e bermuda jeans num domingo de sol mostrando aquela barriga perfeita que teima em não aparecer para que eu não tenha que ficar apenas imaginando. Imagino aquelas mãos finas, pintadas, se esforçando para se segurar no vai-e-vem do metrô, segurando as minhas num passeio aos sábados chuvosos dividindo o mesmo guarda-chuva, e quando essas mãos lindas vêm acompanhadas de uma aliança imagino como ficaria o par em meu dedo.

É fato que me apaixonei no primeiro instante, minha barriga já deu sinais de que as borboletas acordaram e estão batendo suas asas como nunca, tento não ficar olhando fixamente para que ela não me confunda com algum tarado, mas é o que eu sou naquele momento, um tarado para desvendar seu cheiro e o tom de sua voz impossíveis de perceber pela distância, tarado pelo que ela estaria pensando agora com aquele olhar distante. Mas é impossível não continuar a olhá-la então procuro uma janela que possa visualizar seu reflexo e continuar a olhar. De repente os olhares se cruzam e é quando ela me nota, é quando minhas mãos que estavam nos bolsos se vêem perdidas sem saber onde repousar, meu olhar preso ao dela não sabe se continua olhando ou num reflexo rápido vai para qualquer outro lugar, minha boca não sabe se solta um sorriso ou se contrai, é fato que os lábios já secaram nessa hora e estão pálidos como se fosse inverno, já imagino dividindo a mesma casa, acordando cedo para ir ao trabalho juntos, dividindo as contas a pagar, planejando o fim de semana ou aquela viagem no feriado prolongado, imagino filhos, natais juntos e aquele encontro de olhares que durou no máximo dois segundos foram os mais longos de toda a minha vida e quando ela desvia o olhar eu me sinto um idiota que poderia ter aproveitado aquele instante que fui notado pela minha paixão de alguma outra forma. A cabeça pende para baixo como se estivesse perdido esse primeiro round, mas vejo sempre o lado bom, ela me viu, me analisou, pode estar pensando o mesmo que eu agora, porque não ser eu a paixão de metrô dela? Então logo procuro outra janela para ver se ela não continua a me analisar pelo reflexo assim como eu.

O incrível é que aquela viagem que seria longa se torna curta demais, a cada estação nova me pego torcendo para que não seja a que ela descerá, cada apito das portas se fechando é um alivio para mim, mas me torturo pensando que pode ser na próxima estação que me separará do meu amor, tantas as vezes que mesmo atrasado me peguei rezando para que o metrô tivesse alguma pane mecânica e parasse ali por um grande período de tempo só para que eu pudesse me manter com aquele formigamento em minhas mão, imagino a paixão como uma droga, nosso corpo não é mais nosso corpo, é do outro. Respira, pulsa, pensa, se mexe pela paixão, é viciante e você como qualquer viciado quer mais e mais. Antes que façam a pergunta que imagino ser a mais lógica de porque não tentar uma aproximação, já respondo que não sou fã desse tipo de abordagem, é uma intromissão que meu bom senso me limita a não fazê-la pelo simples fato de achar um desrespeito a privacidade e individualidade alheia, não vejo como hora nem lugar para isso e o fato de poder perder toda aquela magia que tornou meu dia melhor e me fez uma pessoa melhor para um dia inteiro de trabalho também me segura no lugar onde estou, para que perder todo aquele encanto com uma possível rejeição? Ou perceber num possível diálogo que toda aquela paixão foi para o ralo, e que aquele cheiro maravilhoso que tanto imaginava não combinou com meu gosto. Prefiro continuar usuário dessa droga chamada de paixão repentina, assim como uma brisa de lança perfume, rápida, intensa e desigual.



A comunidade: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=4092029

Bento.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Já tive uma dessas paixões de metrô também.
E muitas das coisas que me identifiquei, de estar atrasada, mas desejar que não chegue nunca ou ficar desejando que a pessoa não desça na próxima estação.
Quando os olhares se encontravam, nossa, imaginava mil coisas, mas no final cada um ia embora,para sua vida e voltava tudo ao normal.