Há mil anos eu queria
ser rico, muito rico. Tão rico a ponto de queimar dinheiro. Porém pensei que só
os loucos queimam dinheiro, logo, refletindo profundamente sobre meu desejo de
infância, percebi que por trás de meu desejo de ser rico, na verdade eu queria
ser louco. Vendo por esta ótica, hoje sou um homem realizado, já posso morrer
em paz.
Mas não é disso que eu
quero falar. O que eu realmente preciso deixar transparecer é o motivo de tudo
isso. Não que eu tenha que justificar-me, pouco importa para você, eu sei. Sou
só um babaca. Não faz nenhum sentido perder meu tempo, no entanto, odeio fazer
sentido e eu tenho tempo de sobra. Se tempo é dinheiro então eu deveria estar
na Forbes, como um dos jovens mais promissores da alta sociedade.
O que eu realmente
quero dizer é que o excesso de tempo me deixa sem horizontes, eu sei, sei que
eu sempre quis isso, desejei com todas as forças ter um tempo só para mim.
Porém, descobri que esse tempo era todo seu.
A vida precisa fazer
sentido, na minha opinião. Meu corpo pede, precisa fazer sentido. Não eu, a
vida precisa. Pois então, tudo isso só faria sentido caso eu estivesse ganhando
as fichas e neste caso eu apostava alto e só o que conseguia era ver minhas
fichas indo para o centro da mesa sem volta. Tenho o vício do pôquer, então se
não me entende em minhas alusões peço desculpas. A vida precisa fazer sentido e
simplifico dizendo que fichas são beijos. Uma mão boa seria quando você me
colocaria em seus planos e seus abraços ou qualquer carinho representaria um
Full House. Nossas pernas finas entrelaçadas significariam um All Win sem
precedentes. Entraria eu para o Hall Of Fame dos maiores jogadores de todos os
tempos.
Eu sou um bom
jogadores, droga! Eu sou um bom jogador e sei quando sair de uma mão que não
irei ganhar. Esse é todo o segredo do jogo. Não basta saber blefar, haverá de
se sair bem quando tiver a humildade de saber que está numa mão ruim e desistir
para começar de novo na próxima rodada. O jogo só acaba quando termina as
fichas. Só que fora isso eu ainda estou na lista dos dez mais inúteis da
categoria de escritores inúteis e mais mal pagos da história de todos os
escritores inúteis e mais mal pagos.
Agora eu chego num
devaneio para explicar algo maior que pode ser que chegue a um sentido maior
nisso tudo, não espero sucesso, mas se tiver sucesso você pode me dizer depois.
Eu tenho um grande
amigo de infância que me conhece como a palma da mão dele. Nós já fomos grandes
atletas e quem me conhece sabe que eu não tenho nem trejeitos de atleta, mas já
fomos. Poderíamos ter sido grandes atletas profissionais, talvez nossa loucura
e vício em álcool nos tenha impedido de chegar lá.
Éramos grandes
atletas, com qualidades singulares em todo nosso grupo de amigos e jogávamos
futebol numa quadra pública com todos os piores elementos de nosso bairro.
Ladrões, drogados, traficantes, garotos de programa, políticos e etc. A quadra
era pública, logo, qualquer um que chegasse com disposição jogava contra nós e
tínhamos um talento nato de humilhar pessoas com nosso talento.
Num dia como qualquer
outro chegou um grupo de chilenos, mas bem que poderiam ser bolivianos,
peruanos, nunca se sabe. Eles eram todos brutamontes e eu era só isso que eu
sou, pele e ossos e cigarros. Venceu a origem brasileira para o futebol, o
talento clichê para o tipo de esporte. Fizemos o que queríamos, quando e quanto
queríamos. Coube ao grupo partir, da quadra, não do país. Todavia, humilhados.
É praticamente isso, em seu talento clichê de me deixar para escanteio, eu
parto - da quadra, não do país - sem mais.
Bento.
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