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Somos todos
estranhos mordedores de nada. Somos um monte de bosta sem saber pra onde ir.
Digo que a única coisa da qual tenho conhecimento é meu gosto e disso eu
entendo super bem. Por mais bêbado que se possa estar sempre sobra uma fagulha
de consciência. Você está lá, em algum lugar dentro da sua mente assistindo na
primeira fila as merdas que você faz. Claro que "merda", no meu
entendimento é um termo ambíguo. Pode ser bom ou ruim dependendo da ótica.
Estamos num
calor de 400 graus e eu estava deitado nu com as costas no chão, levantando a
cabeça somente para mamar a garrafa de cerveja. A garota estava deitada de
bruços na cama alisando meus cabelos e brincando com minhas sobrancelhas
enormes. Lucia era o nome dela.
- Não sei o que
você tem, mas você tem... Sabe? Ela dizia.
Eu não fazia
ideia do que ela falava, mas eu ainda tinha cabelos dela grudados em meu peito
magricela e era difícil raciocinar com todo calor que anda fazendo.
- Eu acho que
você esta empolgada só porque gozou, amor. Não tem nada demais. Eu respondi.
Ela pegou a
garrafa da minha mão e bebeu um gole longo. Pedi que ela acendesse um cigarro e
me ajudasse a fumar. Ela acendeu e colocou na minha boca para que eu pudesse
tragar e depois ela também fumava.
- Não é só porque
eu gozei. Claro! Também é porque eu gozei, mas nem era pra eu dar pra você.
Você é o cara mais podre que eu conheço. Ela disse.
Pedi mais um
trago no cigarro e seus dedos compridos e magros levava-o até meus lábios. Eu
não vou negar que senti um tremendo orgulho subindo pelo meu peito. Eu sempre
disse que se é para ser melhor em alguma coisa então que isso lhe traga algo de
bom. Ser o pior cara que ela conhecia deixava-a de cabelo em pé e com uma luz
de alerta bem acesa. Ela transou comigo por uma inconsequência e já repetiu tal
equívoco meia dúzia de vezes. O que ela queria saber é porque não conseguia
sentir o mesmo tesão pelos cuzões que levavam ela a motéis caros em seus carros
emprestados dos pais e correntes de prata no pescoço que poderiam me fazer
tombar para frente. Ela não sabe a resposta até hoje, eu também não sei, mas
suspeito que tudo é uma questão de estilo. Faça tudo com muito estilo, com
originalidade, pode ser que não dê em nada, mas pode ser que você seja apontado
na rua como O Cara. Nunca se sabe.
- Talvez você
precise conhecer mais gente. Eu respondi a acusação dela com uma falsa modéstia
- Sem falsa
modéstia, senhor Bento. Ela disse.
Eu sorri de
olhos fechados e joguei o restante de cerveja da garrafa direto na boca. Um
pouco escorreu pela minha barba e ela passou os dedos e chupou. Chupou como se
chupasse algo maravilhosamente saboroso. Claro que isso foi o suficiente para
que eu ficasse duro novamente e fossemos para debaixo do chuveiro transar mais
uma vez.
Toda vez que
ela vai embora sentencia que não voltará mais. Eu sinto receio de que um dia
ela cumpra a promessa, no entanto não demonstro. Finjo que não ligo, que não
acredito e ela parece não acreditar, tomando minha atitude como um desafio. Eu
não quero que ela pare de vir, porém não consigo juntar forças para dizer que
quero que volte sempre. Toda a minha força foi gasta com alguém que nunca
voltou, logo, tenho por mim que quem quer fica, quem não quer parte sem retorno
e isso independe de qualquer coisa que fazemos. As pessoas simplesmente fazem o
que elas querem, sem se importarem com qualquer outro que não eles mesmos. Não
podemos assumir responsabilidades por coisas que não são de nossa alçada, que
não podemos controlar. Uma transa é só uma transa até que os dois resolvam dar
mais significado a ela.
De qualquer
forma, numa outra situação lá estava eu com outra garota. Esta não era tão
magra quanto Lucia, nem tão bela, mas conseguia me fazer gozar com uma
habilidade que só ela possuía.
Num dia
desses lá estávamos bebendo cerveja até que ela decidiu me chupar.
Chamava-se
Priscila e chupava como se sua vida dependesse disso. Um talento pouco visto em
todos esses anos de bebedeiras e situações imprevisíveis que já tive. Eu sempre
valorizei uma garota que chupe e pareça gostar de fazê-lo. Mas para não me
afastar muito do assunto. Eu ganhava uma boa chupada e fumava meu cigarro
intercalando com goles de cerveja. Para você que está lendo isso lhe garanto.
Não existe problema no mundo que não pareça insignificante quando se está sendo
chupado enquanto dá uns traguinhos. Tudo no mundo torna-se mesquinho e sem
importância. Eu penso que os programas sociais do governo deveriam substituir
as bolsas quase-nada e casas
populares por belos e deliciosos boquetes. Todos seriam mais felizes. Você pode
aguentar morar de aluguel, o que não se pode passar sem é um boquete bem
babado.
Cheguei a
pensar nos outros caras, quantos deles passaram ou passarão a vida inteira sem
uma chupada sensacional? Ou pelo menos sem viver um momento como eu estava tendo
a oportunidade de ter. Ela chupando e eu fumando. Quantos contadores,
auxiliares administrativos, bancários, vendedores, garis, formarão famílias,
farão tratamento de canal, morrerão de câncer sem serem chupados decentemente,
ou terão o privilégio de serem chupados por duas garotas ao mesmo tempo? Olhar
para baixo e ver duas cabeças brigando para abocanhar seus pintos. Esses caras
podem até dizerem que a vida não é só isso, mas garanto a vocês que todos, sem
exceção, lamentarão em seu leito de morte os boquetes de suas respectivas
esposas. Digo isso, pois boa parte das mulheres chupam com um sacrifício na
alma. Algumas mulheres usam o boquete como moeda de troca e só não conseguem
mais porque não fazem decentemente. E eu me vi como um cara de sorte. O Destino
tem lá suas crises comigo, mas de tempos em tempos me faz um agrado.
Mesmo assim,
ainda existem aqueles caras que se contentam apenas com as calcinhas de suas
esposas penduradas na lavanderia de seus apartamentos minúsculos com o fundo da
peça amarelado virado para o vitrô da cozinha. E a cada garfada no purê de
batata ele sente o gosto do que ele imagina ser o mesmo gosto do corrimento no
fundo da calcinha. Tudo isso é só imaginação, claro.
Ainda existem
os homens que preferem as garotas que deixam seus absorventes usados fora do
lixo do banheiro ou que justamente no dia que vai deixar o sutiã a mostra elas
escolhem o mais velho e encardido. Preferem a vida de dormir assistindo a
novela e ir ao hipermercado aos domingos. Assim como existem mulheres que
preferem os homens que tentam se parecer com o Gustavo Lima com tatuagens de
arame farpado e cabelos lamentáveis. Ou os barrigudos que passam a vida
mostrando o rego acima do cinto. Que levam as chaves penduradas no bolso da
calça. Que usam cuecas vermelhas, amarelas e afins. Homens de sapatenis. Homens
que vão até a venda de samba-canção. Aos meus olhos são todos estranhamente
doentes, bem como eu deva ser insanamente incomum para alguns. Somos todos
estranhos. De uma mediocridade tamanha.
Bento.
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