Não existe no mundo nada mais clichê que uma manhã chuvosa
em São Paulo. Claro, digo isso para quem acorda cedo e sai de casa antes mesmo
do Sol tomar sua segunda caneca de café.
Eu sou um paulista que odeia garoa e frio, exceto claro,
quando estou em casa dormindo. Todas as coisas me convêm quando são ao meu
favor.
O problema é que eu não estava dormindo, não estava sequer
em casa e acabei descobrindo que fui excluído do Facebook. Digo, não da rede
toda, mas uma pessoa específica me excluiu. Tudo bem, não foi a primeira vez,
nem foi a primeira vez que esta pessoa me excluiu de alguma coisa. Primeiro fui
extirpado da vida dela, depois do Facebook. Eu disse tudo bem? Porra! Quem eu estou
tentando enganar? Tudo bem é o caralho. Fiquei puto. Com sangue nos olhos. Boca
seca e morrendo de vontade de beber e descontar a raiva nas garrafas. Ou talvez
sair e comer a garota mais bonita que eu encontrar. O problema é que eu estava
num ônibus lotado, careta e atrasado para o trabalho.
Então venho ruminando o fato de ter sido excluído até agora.
Eu parei de tentar buscar explicação para o fato de ainda me importar com
qualquer decisão tomada por uma garota da qual eu não toco há cinco anos e aconselho
vocês a nem começarem. Nem tudo tem explicação. Pelo menos não uma explicação
razoável.
Alguns autores bostas de autoajuda dizem que as coisas são
exatamente como devem ser e eu acho isso uma forma de tirarmos a
responsabilidade das nossas costas pelas merdas que saem das nossas bundas.
Então eu venho com outro clichê dizendo que a vida é um ciclo e de tempos em
tempos eu tenho algo parecido com uma TPM. Tenho meu período de me maltratar.
Meu período de maltratar o próximo. O período de assassino em série e o de
querer foder todo mundo. Também tenho o período de beber muito e aquele de
beber um pouco mais. A fase de mais destilados que fermentados e vice-versa. A
fase de ser atacante e a de ficar na defensiva. O casulo e a lagarta. O poeta e
o filho da puta. Tudo muda o tempo todo menos isso. Cem por cento menos um,
menos dez, menos mil.
Bom, nesta minha fase o sol é insuportável, o frio é
insuperável, o mormaço me sufoca e só o que liberta-me é amaciar a mente com
tragos firmes e intensos. Algumas pessoas diriam que isto não passa de uma
desculpa para beber. Mas quem de nós não passa a vida inteira procurando
desculpas para qualquer coisa? Se o Diabo é o pai da mentira também é padrasto
da desculpa e eu pedi tantas, incansavelmente, nem todas merecidas, porém às
pedi mesmo assim no intuito de provar arrependimento. Claro que eu não consegui
e estar na pele de um perdedor é ruim para um vaidoso como eu.
Mas por que a exclusão? Por que agora? Psicólogos diriam que
este sentimento é só curiosidade de saber o motivo. Eu diria que psicólogos
ganham dinheiro fácil. Há curiosidade. Mas nesta minha Sina eu me pego pensando
o que não há?
Tudo no mundo é alimentado por alguma coisa. Desde os átomos
aos micróbios. É a energia que move o mundo e meu alimento era saber que ela
poderia estar olhando como ela me revelou uma vez. Não sempre, em algum
momento, um mínimo instante, qualquer fração de segundo e lá estaria ela
vendo-me, lendo-me, agora, nada. Nada!
Nem um sopro de ar, nenhuma fagulha de chama, nenhuma ficha
para apostas. Sem portas nem janelas. Sem vista, nem olfato. E é quando eu
quero culpar e culpar. Culpar Deus e o Inferno. Rasgar a carne, extirpar
órgãos. Usurpar sonhos. Estuprar as virgens dos paraísos, destruir religiões,
estraçalhar sorrisos e matar tudo que é belo. Quero incendiar igrejas e demolir
santuários. Quero esquartejar anjos, decapitar santos e pendurar suas cabeças
como exemplo, quero destronar o Diabo, aleijar demônios, vingar-me do destino e
banhar-me em todo o sangue. Maldito, sorrir e me banhar. A morte como
estandarte. Gargalhar com a desgraça toda e brindar em cima dos cadáveres. Pois
é tudo o que tenho. E só o que tenho e duvido muito que mereço mais que isso.
Sequer isso.
Bento.