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Ok! Você acordou e abriu os olhos.
Você acordou, abriu os olhos e mirou o teto, lembrou como ele rodava na noite passada.
Acordou finalmente, curioso é que mesmo com o despertador tocando na sua orelha há três horas seguidas você continua dormindo como uma criança, mas basta um pequeno indicio da chegada de um sonho bom para despertar.
Você acordou, ainda nem abriu os olhos, tateou o criado mudo com as mãos para achar os cigarros, acendeu. Agora abriu os olhos e mirou o teto, acompanhando o balé da fumaça ficando mais evidente ao passar pelo feixe de luz da janela.
Como era mesmo o sonho?
Você acordou, olhou o relógio e pensou ser tão tarde já, mas tarde para quê? Ao dormir você prometera tentar acordar cedo para aproveitar mais o dia de sol, porém foi traído pelo despertador e pelo sonho bom que demorou a chegar. Mas como era aquele sonho mesmo?
Você acordou e hoje decidiu colocar primeiro o pé esquerdo no chão, afinal, todo santo dia ao acordar pisa primeiro com o direito e não vê resultados.
Você deveria ter acordado mais cedo?
Apaga o cigarro e seu corpo pede por uma caneca de café, sua cabeça pesa, gira e dói. Ressaca.
Você poderia fazer uma lista com todos os sonhos ruins durante esses anos e não se lembra da merda do sonho bom que acabara de ter.
Seu corpo pede por café, mas ainda quer ficar um pouco mais deitado.
Ouve os cachorros latirem para o carteiro, o caminhão vendendo gás te leva por alguns segundos há dez ou quinze anos. Agora silêncio.
O telefone toca, mas sabe que o telefonema não é para você e nem se mexe exceto para pegar mais um cigarro, observa ele queimar-se e reflete sobre a curta vida dos cigarrets assim como as borboletas. Pensa em quantos cigarros já não perderam a vida por seu isqueiro assassino e chega a um número absurdo e percebe que ainda há muito álcool em seu sangue para ter um pensamento tão idiota.
Talvez devesse levantar-se e trocar a caneca de café por uma lata de cerveja, quem sabe assim acabe com a dor de cabeça e então continuar o que começou no dia anterior.
Você acordou e faz uma promessa rápida de que vai beber menos daqui para frente, retira a promessa no momento seguinte porque não vê motivos para isso. O que tem a perder? Se não beber fará o quê da sua vida? Imagina-se doando sangue, indo à igreja, pedindo benção aos mais velhos, dizendo frases como; por gentileza, por favor, entre outras coisas e sente enjôo. Imagina-se guardando os palavrões para si, usando roupas formais e lendo livros de auto-ajuda. Agora tem certeza que a promessa não tem pé nem cabeça assim como a sua vida.
Você acorda e começa sentir o cheiro do almoço do vizinho, o que faz acordar seu estômago também, mas se não levantou nem pelo café, nem pela cerveja e muito menos para atender ao pedido de sua bexiga explodindo, com certeza não é o estômago que irá te convencer.
Você acordou e passa a vista pelo quarto e não se lembra da última vez que parou para arrumá-lo, tem medo de achar coisas que não deveria no meio da bagunça.
Você acordou e lembrou-se da visita de uma mariposa ao seu quarto na noite anterior, lembra de pegar no sono observando-a e não consegue lembrar do maldito sonho bom. Você acordou e começa puxar pela memória em uma tentativa desesperada de lembrar do sonho bom e vai longe demais, começa lembrar de todos os seus planos que não saíram do papel e se vê obrigado a acender outro cigarro.
Lembra até do que não deve lembrar, mas não lembra do sonho bom.
Você acordou, esfrega os olhos, sente o gosto da saliva velha e seca pela noite dormida e tudo lhe parece familiar, até mesmo o hábito de virar para o lado com a esperança de haver alguém dormindo ali.
Você acordou e acende um cigarro de despedida, pois vai voltar a dormir até reencontrar seu sonho bom.
Você está quase adormecendo novamente, já pode sentir os sonhos se aproximando e tomando conta dos seus pensamentos, já não consegue distinguir o que é sonho, o que é lembrança ou pensamentos.
Você acordou e lembrou-se que tem alguém com quem você deseja muito falar para terminar o assunto da noite passada, enfim se levanta. Esse era o sonho bom.
Bento.
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