Sabe? Eu tenho vivido todos esses dias, meses, sei lá.
Na verdade, eu tenho sobrevivido.
Em todo esse tempo não pense que eu deixei de pensar em você nem por um momento. Nenhum!
Eu te imaginei fazendo parte de cada coisa nova.
Incrível não é?
Toda vez que fui dormir e toda vez que tive a infelicidade de acordar.
E tem sido assim.
Pensei em você nas horas boas sim, mas pensei em você nas horas ruins também.
Nas horas boas era vontade de dividi-las com você, afinal nós divididos tantas coisas ruins.
Coisas minhas que eram ruins. E nas horas ruins eu pensava em você e sabia que sua presença amenizaria tudo aquilo.
Olhe eu precisando de você como sempre.
Vou te confessar que eu demorei para perceber que tinha te perdido, poxa! Foi difícil aceitar que estava perdendo a coisa mais importante da minha vida. Apesar de você nunca ter acreditado e acho que a essa altura jamais acreditara.
Sinceramente? Eu pensei em desistir. De tudo. Foi forte demais.
Dor demais.
Mas por ironia do destino foi você... Você quem me salvou. Pois mesmo longe eu queria pelo menos sentir você, mesmo que saudade. Já era alguma coisa.
E eu sofri.
E eu chorei.
E eu me maltratei assumindo toda a culpa. Eu me maltratei.
Eu mudei.
Eu queria me transformar naquilo que você queria que eu fosse, mesmo sabendo que você não voltaria. Nunca. Eu quis.
No fim, eu me transformei em você. Me transformei naquilo que eu amava, mas criticava.
No fundo, tentei te substituir colocando-me em seu lugar.
Claro que não deu certo. Foi quando tentei te substituir com outras. E eu sou a prova viva de que isso também não deu certo.
Aí eu tentei, tentei. Tentei até enjoar... E enjoei.
O seu antissocial eu abracei com unhas e dentes.
A sua cara amarrada eu maquiei em mim.
Suas “marcas” eu tentei imitar.
Suas frases tomei para mim.
E assim como camaleão, me vesti de você.
Não me julgue, precisava ter algo seu só para mim.
Ainda hoje você me toma em pensamentos através de um sorriso igual, um gesto igual, uma gíria igual.
Coisas como Leopoldo e tal.
Ninguém entenderia, talvez nem você.
Eu entendo como se tivesse nascido com isso.
É quase uma coisa.
É mais que uma coisa.
Ou menos.
É em vão.
Mas é meu.
Ué!
Posso?
Ah mas eu tentei.
Tentei de todas as formas preencher este vazio que deixou a sua distância tão mais plural.
Distância essa que, você se foi e até eu fui.
Me perdi de você e de mim.
Eu mesmo me abandonei. E me perdi.
Depois coloquei cartazes em postes e lanchonetes com aquelas fotos horríveis do meu rosto depressivo procurando-me e nada adiantou.
Mas se você se foi e eu também, sobrou quem?
Exatamente!
Demorei para decifrar esse novo ser.
Ser demente, sem semente, jamais vai florear.
É em sua essência um mato seco, que sem vida e qualquer sinal de luz, ou se quebra, ou queima.
Explode em fogo só para atazanar.
E eu, escrevo em transe.
Sabe-se Deus quem fará me embriagar.
Bento.
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