sábado, 7 de janeiro de 2012

COMO O DESINFETANTE QUE DISFARÇA O CHEIRO MAS NÃO LIMPA A SUJEIRA

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Não era a felicidade propriamente dita que fazia Hélio sorrir. Era a maldade.
Era só a possibilidade da vingança, não era ninguém específico, talvez vingar-se-ia dele mesmo, de seu sofrimento, talvez do mundo, era certo que Deus seria uma das vítimas.
Hélio, como todos, era casca e suco. A casca era belíssima, daquelas que enganam as senhoras ingênuas na banca do feirante. O suco que, sem o açúcar da vida, era amargo, acre, azedo, semipodre. Talvez podre.

As pessoas viam seu sorriso e devolviam a gentileza, certas de que estavam presenciando uma vida feliz, enganadas.
Aquilo era sorriso de ódio, de malícia, de planos mirabolantes sendo planejados e que ao colocá-los em prática entraria em transe com sua overdose de prazer.


Passou tanto tempo desejando a morte que só por isso continuava vivo, afinal o destino tratava sempre de contrariá-lo.
Enganou-se quem achava que o motivo pelo qual ele não mais chorava fosse por ele ter se fortalecido com a dor e que com o tempo aprendeu a lidar com aquilo.
Não chorava mais, pois não sobraram lágrimas em seus olhos, secou-se, como seu espírito, secou-se.

Sobrou-lhe a violência da angústia, a miséria de sua alma e a podridão de seus sorrisos de desespero perante o vasilhame etílico e os comprimidos de absolvição.



Bento.

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2 comentários:

Andre Mansim disse...

caraco que cara fudido! Hahahahahahaha esse aí não tem salvação e nem solução... Bom, talvez até tenha, mas o trabalho vai ser arduo!
Hahahahahaha, belo texto Bentão!

Passa lá no meu blog depois.

Victor Von Serran disse...

O sublime suicida e os contos de Bento para o ano do fim do mundo...Muito bom !