Eu fui envelhecendo e ganhando algumas coisas e perdendo outras.
Ganhei cabelos brancos e defeitos novos, pois variar nos erros é até indicado, manter-se errando na mesmice é onde está o problema.
Ganhei experiência na sofreguidão e aprendi a reconhecer becos sem saída, pessoas confiáveis e amores eternos de uma só noite. Porém hoje, a possibilidade de surpreender-me é mais desejada que aquele embrulho abaixo da árvore de natal que eu passava horas bolando um plano para espiá-lo antes de ser entregue por meus primos vestidos de papai-noel.
Ser surpreendido mostra que até a mentira tem seu lado bom. E se até a mentira tem, o que você está fazendo privando o mundo de vislumbrar suas qualidades?
Aprendi que por mais eternos que pareçam nossos problemas sempre haverá alguém que tire proveito disso, até nós mesmos. Os problemas vem e vão, alguns vão outros não. E quem não tem problema nunca saberá como é bom desequilibrar-se em copos e mais copos de solidão e ainda assim acordar no dia seguinte sorrindo, pois a dor de cabeça chega, mas manda embora quilos de sentimentos que estava entalado em nossa garganta.
Aprendi que ser rico quando criança era a quantidade de brinquedos que havia para brincar.
Depois dos cabelos brancos aprendi que dinheiro é a quantidade de pessoas que você consegue enganar, contudo, as aparências enganam, mas nunca terão tanto sucesso quanto sua vontade de ser enganado.
Depois de tanto tempo perdi a inocência e imagino coisas horríveis de todas as pessoas, mesmo àquelas que nunca me deram motivos. Não que eu seja desconfiado, é que o absurdo da calamidade mental sufoca até mesmo os mais confiantes na humanidade. Pois somos o espelho da sociedade em que vivemos e vice versa.
Perdi também o hábito de olhar para o céu, afinal já conheço cada estrela, já dei nomes e apelidos. E isso nunca trouxera nada de bom.
Juntei os pontos e a única imagem que se formou foram meus erros que já estou cansado de conhecer. Pois é sempre mais difícil de encontrar pessoas que desvendem suas qualidades, mas sempre haverá quem te faça lembrar de seus defeitos. Voluntários nunca faltarão.
Com o tempo ganhei alguns talentos e em alguns casos fiz questão de esfregá-los na cara de quem me desafiasse. O que me fez conhecer a arrogância e a síndrome de inferioridade que possui meu corpo.
Perdi a essência de acreditar no inacreditável, de ter certeza que dias melhores viriam e que meus brinquedos seriam meus amigos para todo sempre.
Deixei também de acreditar no para todo sempre e ganhei uma expectativa de vida curtíssima.
Perdi a vivacidade e a ansiedade característica da juventude e agora tenho a pressa dos adultos. Corro, corro e não saio do lugar e o tempo é meu inimigo mais calunioso e invencível.
“Quando criança sonhava com o que seria quando crescesse, agora que cresci sonho em poder voltar a ser criança” e fazer tudo de novo. Com paladares novos.
Perdi o credo na cegonha e hoje sei que a TV não é uma caixa mágica. Ganhei a literalidade da dor e aprendi que justificar todo o meu (mau) humor nestas dores do mundo é mais que natural.
E aprendi depois de anos que afago de amante é como remédio de disfunção erétil, o prazer será sempre por empréstimo.
E se Sócrates disse que não sabia nada, eu digo que algumas coisas eu preferia não ter aprendido.
Bento.
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3 comentários:
Olá! encontrei seu link por acaso e resolvi conferir.
Algumas coisas eu também preferia não ter aprendido...QUERIA NÃO SABER Q O PRECONCEITO AINDA INVADE TODA A SOCIEDADE...QUERIA NÃO SABER QUE O QUE VALE MAIS NÃO É AQUILO QUE SOMOS, MAS AQUILO QUE TEMO...QUERIA NÃO SABER QUE UMA ETERNIDADE DE SENTIMENTOS PODE SE DESMANCHAR EM APENAS UM SEGUNDO.
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Abraços pra vc! Parabéns pelo post!
te convido a visitar meu infinito particular.
Bento,
Texto intenso, provocativo e saboroso de ler. Penso que ninguém pode se safar de crescer, pois a terra do nunca só foi possível nos nossos sonhos. Enfim, aguardar o que nos resta e ver se por lá é melhor.
Beijos.
Lu
Bento,
Seu texto foi fantástico, estava lendo e quando terminei de ler queria mais... kkkk por isso vou ler os posts que fiseste em seu blog, eu apesar de não ser tão velho já começo a sentir falta dos meus tempos de infancia onde soltava pipa na rua etc... parabens pelo texto.
Abraços!
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