quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

BIRRA DE PENSAMENTOS

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O primeiro nome que vem em mente é sempre o mesmo, depois eu me adapto. Como se fosse por grau de importância, mas não, é sempre o mesmo. Bem como começar um texto, as frases desconexas de início tomam sentido no fim. Nelson Rodrigues disse uma vez que a parte mais difícil de escrever era o começo, depois que começa tudo flui naturalmente.

É aí que começa toda reflexão daqueles que como eu, transforma o tédio em pensamentos infundados, como cruzadinhas de passatempo, plástico bolha e outros meios de jogar a vida fora. É uma forma de fazer sentido, ou tirar sentido de onde não tem e, na falta de êxito, façamos com que tenha menos sentido do que antes. Chega a parecer beicinho de criança que não pôde comer a sobremesa antes do jantar. Reflexivos como eu têm por passatempo achar sentidos e se não, fazemos birra com os próprios pensamentos e embaralhamos tudo para que ninguém mais consiga.

Suspeito que utilizo desta mesma ferramenta ao tratar de meus problemas pessoais. Na tentativa de achar algum significado em toda merda que acontece culpo o Destino, Deus, o diabo e claro, me culpo também. Procuro em todas as gavetas de meu inconsciente, nas prateleiras de minha imaginação e no buraco mais fundo do peito qualquer pista de que eu possa fazer algo para mudar a trajetória do projétil que sempre teima em atingir minha têmpora todas as vezes que acordo e percebo que tenho todas as noites o mesmo sonho, só muda o cenário, porém o mesmo sonho. Contínuo andando em círculos de anseios, demências e desconfiança de que o meu normal é esse, o passado é que estava fora do eixo.

Sempre que passo o tempo analisando o desfecho de minha biografia faço a mesma analogia. Penso naquelas fotos de revista com dicas de emagrecimento. Antes: as senhoras gordas como orcas, flácidas como leões-marinhos e uma vaidade destruída por nossa sociedade da magreza totalitária e sem modéstia. E o Depois: as mesmas senhoras vestidas apenas com umas das pernas de calças tão grandes que serviriam a um gigante de contos infantis como a do " João e o pé de feijão". O meu mal é que não sou nem a gorda, nem a magra, sou a calça que é deixada de lado após servir de prova de que está bem melhor agora sem ela. Mas quem é que acredita nessas malditas fotos, heim? Bom, eu não sou muito de acreditar nas coisas mesmo.

Tenho o hábito de zombar das coisas que não acredito e isso sempre passa a impressão de um punhado de arrogância aos olhos limitados de quem se aliena por reflexões alheias. Não que isso tenha alguma importância, afinal, basta um belo par de peitos no caminho, o placar da última rodada no jornal de um usuário qualquer do metrô, uma mensagem da operadora de celular me cobrando créditos do pré-pago ou me lembrar do empréstimo de um livro na biblioteca vencido no dia anterior para desfazer todo e qualquer significado em que eu pudesse estar atingindo e voltar a realidade tediosa e mortal de trabalho e contas a pagar, e quem sabe onde e quando, voltar a embaralhar meus devaneios novamente.


Bento.

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Um comentário:

J. BRUNO disse...

Me encontrei em alguns pontos de teu texto Bento, nas tentativas dar sentido para algo que não tem, na autoanálise biográfica e até na suposta arrogância de rir daquilo que não acreditamos... Ótimo post meu caro! abraços!!!

http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2013/01/moonrise-kingdom.html