O primeiro nome que
vem em mente é sempre o mesmo, depois eu me adapto. Como se fosse por grau de
importância, mas não, é sempre o mesmo. Bem como começar um texto, as frases
desconexas de início tomam sentido no fim. Nelson Rodrigues disse uma vez que a
parte mais difícil de escrever era o começo, depois que começa tudo flui
naturalmente.
É aí que começa toda
reflexão daqueles que como eu, transforma o tédio em pensamentos infundados,
como cruzadinhas de passatempo, plástico bolha e outros meios de jogar a vida
fora. É uma forma de fazer sentido, ou tirar sentido de onde não tem e, na
falta de êxito, façamos com que tenha menos sentido do que antes. Chega a
parecer beicinho de criança que não pôde comer a sobremesa antes do jantar. Reflexivos
como eu têm por passatempo achar sentidos e se não, fazemos birra com os
próprios pensamentos e embaralhamos tudo para que ninguém mais consiga.
Suspeito que utilizo
desta mesma ferramenta ao tratar de meus problemas pessoais. Na tentativa de
achar algum significado em toda merda que acontece culpo o Destino, Deus, o
diabo e claro, me culpo também. Procuro em todas as gavetas de meu
inconsciente, nas prateleiras de minha imaginação e no buraco mais fundo do
peito qualquer pista de que eu possa fazer algo para mudar a trajetória do
projétil que sempre teima em atingir minha têmpora todas as vezes que acordo e
percebo que tenho todas as noites o mesmo sonho, só muda o cenário, porém o
mesmo sonho. Contínuo andando em círculos de anseios, demências e desconfiança
de que o meu normal é esse, o passado é que estava fora do eixo.
Sempre que passo o
tempo analisando o desfecho de minha biografia faço a mesma analogia. Penso
naquelas fotos de revista com dicas de emagrecimento. Antes: as senhoras gordas
como orcas, flácidas como leões-marinhos e uma vaidade destruída por nossa
sociedade da magreza totalitária e sem modéstia. E o Depois: as mesmas senhoras
vestidas apenas com umas das pernas de calças tão grandes que serviriam a um
gigante de contos infantis como a do " João e o pé de feijão". O meu
mal é que não sou nem a gorda, nem a magra, sou a calça que é deixada de lado
após servir de prova de que está bem melhor agora sem ela. Mas quem é que
acredita nessas malditas fotos, heim? Bom, eu não sou muito de acreditar nas
coisas mesmo.
Tenho o hábito de
zombar das coisas que não acredito e isso sempre passa a impressão de um
punhado de arrogância aos olhos limitados de quem se aliena por reflexões
alheias. Não que isso tenha alguma importância, afinal, basta um belo par de
peitos no caminho, o placar da última rodada no jornal de um usuário qualquer
do metrô, uma mensagem da operadora de celular me cobrando créditos do pré-pago
ou me lembrar do empréstimo de um livro na biblioteca vencido no dia anterior
para desfazer todo e qualquer significado em que eu pudesse estar atingindo e
voltar a realidade tediosa e mortal de trabalho e contas a pagar, e quem sabe
onde e quando, voltar a embaralhar meus devaneios novamente.
Bento.
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Um comentário:
Me encontrei em alguns pontos de teu texto Bento, nas tentativas dar sentido para algo que não tem, na autoanálise biográfica e até na suposta arrogância de rir daquilo que não acreditamos... Ótimo post meu caro! abraços!!!
http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2013/01/moonrise-kingdom.html
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