A coisa que eu mais
odeio em shows e baladas é que os diálogos transformam-se em gritos, não se
ouve metade do que foi dito e você ganha inúmeros cuspes no rosto nessas
tentativas de dialogar. Mas claro que para os imbecis que não têm o que dizer,
isso não faz diferença.
Isso e a minha velhice
de preferir sentar-me na calçada em frente algum bar e beber por longas horas
olhando o movimento.
Tem uma coisa entre
mulheres e homens que nunca muda. Num show as mulheres desejam o artista e os
homens desejam estar no lugar do artista para que as mulheres os desejem. Tudo
que se passa na cabeça de um homem hetero está voltado para a conquista do
maior número de mulheres possíveis.
Eu mesmo sou um
Narciso irremediável. Nunca sou o mesmo quando há mulheres no recinto. Só que
isso é inevitável. Existe uma coisa, um sentido a mais em meu corpo talvez, que
sempre me faz agir de forma diferente quando há uma mulher bonita no mesmo
ambiente que eu. Os movimentos são calculados, as palavras são medidas e tudo
isso é automático. Eu tenho duas pessoas dentro do mesmo corpo. Uma quando está
numa roda de homens e outra quando existe uma mulher em potencial e de beleza
palpável numa distância considerável. Talvez seja instinto, ou não.
Na verdade, é o meu
pior lado que se impõe dentre todos e toma conta de minha personalidade. Não
tenho controle e pronto. Foco-me numa coisa e muita pouca coisa me impede de
atingir o objetivo. Porém, dentre todas as conquistas existem os fracassos e eu
há tempos não perco meu tempo com batalhas perdidas. Se não posso vencer seria
irracional de minha parte persistir, pois, persistência cega é para idiotas.
Não me entenderam
quando eu disse que invento coisas. Eu crio situações, arquiteto sensações e
tudo mais na busca de inspiração. Como um ator que precisa entrar no personagem
para atuar eu preciso fazer o mesmo para escrever. O que não quer dizer que eu
seria um bom ator, assim como nem todo ator escreve bem. Mas é um exercício que
tem dado certo até então.
Isso começou há muito
tempo. Mesmo as lembranças tem data de validade e minhas lembranças das
calamidades pessoais estavam se esvaindo.
Eu tinha uma fonte de
inspiração que partira há vários anos e quando a lembrança te abandona você tem
que criar algo para substituí-la. Não é fácil, no entanto é possível. Logo, tudo
o que lembro do passado foi criando por mim. Lágrimas eventuais, flashes
esporádicos, tudo isso, fruto do cérebro, não mais do peito.
Mas sabe? Mesmo o
maior criador de casos do mundo não é capaz de manter essa criação eternamente,
então é necessário achar outra fonte para beber dela ou fazer o que os
criadores fazem de melhor. Criar outra. Logo, se você for bom, se for bom
mesmo, poderá criar quantas fontes de inspiração quiser. Para a mente sequer o
céu é o limite. Crie mundos, histórias, personagens, situações, sentimentos.
Tudo é possível no mundo que você criar para si mesmo, nele você pode ser
qualquer coisa, inclusive você mesmo, porque se for muito ruim é possível dar a
desculpa da ficção. E o melhor de tudo é que só residem neste mundo quem você decidir
que merece.
Bento.
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