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Não é segredo para
ninguém que eu estou num processo de reabilitação de diálogos inúteis. Um
afastamento temporário de pessoas, nem bem nem mal, só de pessoas, todas elas.
Eu preciso disso às vezes. Nos relacionamentos, com sexo ou sem, até aqueles
que se resumem a amizades, é preciso muita paciência, de ambas as partes. No
meu caso, muita paciência do lado de lá e muita paciente de minha parte também.
Só que eu não sou nada paciente. Eu disse uma vez que estou num
enclausuramento, porém esta palavra já me deu nos nervos. Enjoei dela como
enjoo de tudo, por isso prometo não usá-la novamente durante anos. Mas outra
coisa que eu disse e já faz muito tempo, foi que estou num retiro espiritual
trancafiado entre pôsteres de bandas clássicas, pinups maravilhosas e garrafas
de destilados sortidos. Desde os caribenhos até os europeus, não faço diferença
de bebidas alcoólicas desde que tenham conteúdo e me ajudem a chegar onde
preciso. É quase a mesma coisa que penso sobre mulheres.
Não são bem as pessoas
que me deixaram enjoado a ponto de fechar-me em meu cotidiano de filmes, livros
e escrita. Bem, um pouco é por querer aproveitar mais o fim de minhas férias.
Também tem o fato de estar me sentindo um pouco monótono em meus parágrafos.
Monótono sim, claro, só escrevo sobre o que vivo, a realidade é minha sina e
minha realidade está mais monótona que os documentários do canal à cabo sobre
insetos. Por fim, são os diálogos que me causam mais ânsia que qualquer outra
coisa. Assuntos rotineiros de problemas pessoais dos quais não me interessam
nem um pouco e que eu insisto em fingir que estou ouvindo. Crises de existência
de idiotas que sequer sabem o que é crise ou existência.
E são exatamente esses
diálogos cretinos, esse discurso decoreba e ultrapassado dos que não sabem o
que dizer, mas que precisam alastrar aos outros alguma dignidade. Pra mim não
passam de idiotas.
Só abrir a boca para
repetir clichês é idiotice. Logo, num reino de idiotas vista-se com a coroa. Eu
que me acho um idiota às vezes te saúdo.
Confesso aqui um
equívoco que cometi numa outra crônica. Disse que de todas as minhas
ex-ultrapassadas-santas-qualquer-coisa não cometiam o erro de cometer-me
novamente, assim, procurando algo parecido comigo. Errei, assumo. Uma delas
juntou-se com um sósia. Claro, claro. Um sósia apenas em relação a minha face.
Em personalidade, mesmo sem saber posso garantir sem medo de errar. Não deve
chegar nem perto e volto com o bordão; isso não quer dizer que seja bom ou
ruim.
Mas este não é um
texto de revolta. Não revolta, um texto de desabafo? Não creio nisso também.
Sobra o quê? Uma crônica amaldiçoada pelo ímpeto de agredir com palavras e eu
sou tão bom nisso. O melhor de todos os tempos, provavelmente. Sou tão bom
nisso que faço sucesso com minhas crônicas até hoje, mesmo depois de tanto
tempo, pois estou sempre agredindo alguém, mesmo que este seja eu. Porém, basta
um idiota para rever os meus conceitos de idiotice. Que incrível.
Uma outra coisa que
tem me deixado inconvenientemente entranho psicologicamente é o fato de lembrar
mais que o necessário do passado. Tão chato, tão estranho. Peguei-me outro dia,
ao caminho do mercado atrás de cervejas para aproveitar a sexta-feira de sol e
começar o porre desde cedo procurando Wally. Veja você quanto passado eu fui
atrás. Andava e procurava. Dobrada a esquina eu esperava encontrá-la. Penso que
algumas coisas me trazem a inspiração, porém, talvez achasse errado. Talvez a
inspiração seja quem traga certas pessoas indesejadas à lembrança. Tão difícil
dizer ao certo, tão fácil lembrar.
O fato é que nas
pausas das lembranças de pernas finas eu tinha todas as lembranças do mundo.
Lembrava-me de ir ao mercado buscar cervejas, lembrava que meu estoque de
cigarros estava acabando entre outras coisas. Agora, nos últimos dias, quando
não me lembro das pernas finas penso no bambolê e suas marcas. Lembro-me do sósia
e tudo o mais.
Algumas vezes eu falei
aqui da minha idade mental avançada. Sabe aquele tipo de coisa de gostar de
músicas antigas, charutos e whisky envelhecido? Do tipo que ainda utiliza-se do
cavalheirismo e etc. Então eu, em algumas noites esporádicas arrisco-me a sair
de casa e num ônibus ou num bar e passo a explorar o ambiente, a reparar em
minha volta e chego à conclusão de que os garotos de hoje são extremamente sem
noção de nada. Com cabelos iguais e horríveis, roupas iguais e péssimas, com
atitudes idênticas e de um mau gosto incrível. Tudo é baseado em músculos e gel
de cabelo e quanto maiores os músculos e quanto mais alto o penteado mais eles
se sentem satisfeitos e eu penso: o que fazem com seus pintos? Pensam em seu
sexo? Importam-se com isso?
Na minha época só nos preocupávamos
com nossa desenvoltura durante o sexo e se as garotas com quem transávamos
voltariam. E olha, eu só tenho 26 anos, não tem muita diferença. Teremos daqui a
alguns anos jovens garotas mal comidas e com namorados que brigam pelo horário
no cabeleireiro? As discussões de relacionamento se basearão nos esmaltes que utilizarão
na manicure ou no tipo de depilação? Bom, eu sou um chato com meu cabelo,
assumo, mas não me incluo nesses penteados ridículos, meu bom senso sempre fala
mais alto.
Bento.
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Um comentário:
Ainda digerindo... Mas Bento, eu simplesmente adorei!!! Acho que não preciso dizer que vc escreve muito bem. Achei genial suas sacadas. O estilo de escrita. Tenho um blog onde enlouqueço em cima de obras literárias.
http://literaturaesquizofrenica.blogspot.com.br/
Por favor, dê sua opinião sincera. Só pelo seu texto percebe-se o quanto interessante deve ser. Tenho um mais normal também, se quiser conhecer será muito bem-vindo. http://viagensinterliterariasalua.blogspot.com.br/
Enfim, lógico que vou continuar essa viagem por dentro de vc aqui no blog. Beijos!
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