sexta-feira, 9 de maio de 2014

GIULIARD BORSANDI IX

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Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI VIII

Quando finalmente parei de correr percebi que inconscientemente ia à direção do Planalto Night Club, o bar que tem a Barwoman mais gostosa da cidade, Jamaica. Isso era um sinal do destino para que eu voltasse a beber. Bem, talvez o destino não tivesse nada a ver com isso, no entanto estava com sede e sóbrio, duas coisas que não combinam. Eu também precisava comemorar mais um caso encerrado, onde finalmente tinha pegado Janaina.

Na frente do motel, sabia que não teria mais que uma chance para tirar as fotos do seu caso, pois o flash denunciaria que eu era um cagueta mal intencionado. O monte de merda, digo, monte de músculos que estava com a mulher do pastor com certeza iria querer mostrar sua virilidade e tentaria arrancar a câmera de mim, assim como tentou. Ajustei a máquina para 10 poses simultâneas e esperei o momento certo e a sorte estava ao meu lado. Fechei o caso com dez fotos de um beijinho de boa noite, foi lindo.

Assim que Janaina e o retardado viram a luz do flash iluminar a rua corri como um maluco com o Pitbull em forma de gente no meu calcanhar, mas eu fui mais rápido. Sempre corri bem, hoje em dia não tenho muito fôlego por causa dos quarenta cigarros que fumo diariamente, então sabia que além de rápido eu teria que despistá-lo antes de meus pulmões desintegrassem e foi o que fiz. O cara era muito músculo e muito lerdo, provavelmente não exercitava as pernas.
Entrei no bar e comecei a ficar bêbado novamente.

 - Olha só quem apareceu novamente. Me recepcionou Jamaica assim que voltei a me sentar no bar - Se arrependeu e foi atrás da coroa?

 - Não. Fui terminar um trabalho.  Respondi.

 - E teve sucesso?

 - Muito. Vou ganhar um bom dinheiro e quem sabe tirar alguns dias de férias.

 - Humm bom pra você. Está mesmo com cara de quem precisa descansar. Disse Jamaica tocando meu rosto com a mão e logo depois ajeitando os pelos de minha sobrancelha. Era isso que me tirava do sério, mesmo com gestos simples parecia que ela sempre cuidava de mim.

Fiquei no bar mais algumas horas, quase até a hora de fechar e estava bêbado, muito bêbado.
Segui cambaleando até o escritório pelas ruas apertadas e idênticas do centro de São Paulo. Estava quase perdido, mas estranha e inconscientemente sabia em quais ruas virar e atalhos pegar. Bêbado que é bêbado sempre chega em casa. No meu caso, ao escritório. Eu estava cansado de andar, pode-se dizer que virei uma rua errada e logo depois me achei e voltei ao caminho certo, porém, essa esquina errada me fez andar por mais de meia hora sem necessidade. Na condição que eu tava, andar não era tão fácil como parece. Tanto tempo sem comer e a alta quantidade de whisky em meu corpo fez com que minha visão ficasse turva como se eu estivesse usando óculos fundo de garrafa sem precisar. Para conseguir acender o cigarro ou olhar as horas no celular eu precisava parar de andar e tapar um dos olhos com a mão. Então eu continuei andando e faltavam algumas travessas para finalmente eu poder esticar minhas pernas e dormir boas horas de sono no colchonete que guardo num canto do escritório do detetive particular mais bêbado do mundo.

O bom de estar alcoolizado é que aquela sensação maldita de solidão, baixa autoestima, depressão e autopiedade iam para o ralo com litros de urina que eu mijava de cinco em cinco minutos andando. Minha bexiga sempre foi uma merda. Talvez todos os bêbados do mundo usem esse argumento como desculpa para beber, mas no meu caso era uma verdade incontestável e eu tinha muita coisa para esquecer e me esquivar.


Após andar tanto, parei em frente a uma lixeira na calçada de uma agência do correio e coloquei boa parte do destilado que Janaina tinha me servido para fora em fortes jatos de vômito. Era pura água com cor de bosta e um cheiro horrível de algo podre e cítrico, era nojento. Mais um jato e depois outro e outro. Os olhos derramavam lágrimas por causa do esforço involuntário que o corpo fazia para expelir o álcool e o nariz derramava vômito misturado com catarro que juntavam-se com o líquido estomacal que saia da boca e era um festival de coisas nojentas e fétidas.


Bento.

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