Indica-se ler os episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI VIII
Quando finalmente parei de correr percebi que
inconscientemente ia à direção do Planalto
Night Club, o bar que tem a Barwoman mais gostosa da cidade, Jamaica. Isso
era um sinal do destino para que eu voltasse a beber. Bem, talvez o destino não
tivesse nada a ver com isso, no entanto estava com sede e sóbrio, duas coisas
que não combinam. Eu também precisava comemorar mais um caso encerrado, onde
finalmente tinha pegado Janaina.
Na frente do motel, sabia que não teria mais que uma
chance para tirar as fotos do seu caso, pois o flash denunciaria que eu era um cagueta mal intencionado. O monte
de merda, digo, monte de músculos que estava com a mulher do pastor com certeza
iria querer mostrar sua virilidade e tentaria arrancar a câmera de mim, assim
como tentou. Ajustei a máquina para 10 poses simultâneas e esperei o momento
certo e a sorte estava ao meu lado. Fechei o caso com dez fotos de um beijinho
de boa noite, foi lindo.
Assim que Janaina e o retardado viram a luz do flash iluminar a rua corri como um
maluco com o Pitbull em forma de
gente no meu calcanhar, mas eu fui mais rápido. Sempre corri bem, hoje em dia
não tenho muito fôlego por causa dos quarenta cigarros que fumo diariamente,
então sabia que além de rápido eu teria que despistá-lo antes de meus pulmões desintegrassem
e foi o que fiz. O cara era muito músculo e muito lerdo, provavelmente não
exercitava as pernas.
Entrei no bar e comecei a ficar bêbado novamente.
- Olha só quem apareceu novamente. Me
recepcionou Jamaica assim que voltei a me sentar no bar - Se arrependeu e foi atrás da coroa?
- Não. Fui terminar um trabalho. Respondi.
- E teve sucesso?
- Muito. Vou ganhar um bom dinheiro e quem
sabe tirar alguns dias de férias.
- Humm bom pra você. Está mesmo com cara de
quem precisa descansar. Disse Jamaica tocando meu rosto com a mão e logo
depois ajeitando os pelos de minha sobrancelha. Era isso que me tirava do
sério, mesmo com gestos simples parecia que ela sempre cuidava de mim.
Fiquei no bar mais algumas horas, quase até a hora de
fechar e estava bêbado, muito bêbado.
Segui cambaleando até o escritório pelas ruas apertadas e
idênticas do centro de São Paulo. Estava quase perdido, mas estranha e
inconscientemente sabia em quais ruas virar e atalhos pegar. Bêbado que é
bêbado sempre chega em casa. No meu caso, ao escritório. Eu estava cansado de
andar, pode-se dizer que virei uma rua errada e logo depois me achei e voltei
ao caminho certo, porém, essa esquina errada me fez andar por mais de meia hora
sem necessidade. Na condição que eu tava, andar não era tão fácil como parece.
Tanto tempo sem comer e a alta quantidade de whisky em meu corpo fez com que minha visão ficasse turva como se
eu estivesse usando óculos fundo de garrafa sem precisar. Para conseguir
acender o cigarro ou olhar as horas no celular eu precisava parar de andar e
tapar um dos olhos com a mão. Então eu continuei andando e faltavam algumas travessas
para finalmente eu poder esticar minhas pernas e dormir boas horas de sono no
colchonete que guardo num canto do escritório do detetive particular mais
bêbado do mundo.
O bom de estar alcoolizado é que aquela sensação maldita
de solidão, baixa autoestima, depressão e autopiedade iam para o ralo com
litros de urina que eu mijava de cinco em cinco minutos andando. Minha bexiga
sempre foi uma merda. Talvez todos os bêbados do mundo usem esse argumento como
desculpa para beber, mas no meu caso era uma verdade incontestável e eu tinha
muita coisa para esquecer e me esquivar.
Após andar tanto, parei em frente a uma lixeira na
calçada de uma agência do correio e coloquei boa parte do destilado que Janaina
tinha me servido para fora em fortes jatos de vômito. Era pura água com cor de
bosta e um cheiro horrível de algo podre e cítrico, era nojento. Mais um jato e
depois outro e outro. Os olhos derramavam lágrimas por causa do esforço
involuntário que o corpo fazia para expelir o álcool e o nariz derramava vômito
misturado com catarro que juntavam-se com o líquido estomacal que saia da boca
e era um festival de coisas nojentas e fétidas.
Bento.
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