Para você que não acredita,
se meu fígado fosse um cara, ele tentaria me assassinar diariamente. Tamanho o
trabalho que eu dou para ele.
Cheguei a ponto de
dormir bebendo e acordar no meio da madrugada para fumar um cigarro e tomar uma
dose. Só que isso foi antes, agora espero até de manhã, para tomar umas.
Cheguei a ponto de dormir ao lado de garotas e acordar ao lado de outras que eu
nem sabia de onde vieram, mas isso foi antes, antes de entender, ou me dar conta,
que um apartamentozinho com uma vista para a avenida, uma xícara de algo quente
e uma bela garota de camiseta e calcinha me é suficiente.
E eu era um cara cheio
de asas para o seu lado. Fiz promessas, dediquei-lhe músicas e textos. Escrevi
sobre você nas paredes do quarto. Vestia-me para sair como quem fosse para um
encontro com você mesmo sabendo que não estaria lá. Adotei uma gata e coloquei
seu nome. Adoro gatos, tão rebeldes e ela é marrenta e arisca como a dona do
nome. Falei de você para os meus amigos e amigas e elas ficaram todas
derretidas quando souberam que te mandei flores, menos você. Já os amigos todos
já evitam me encontrarem no bar, pois o assunto tem sido sempre o mesmo. Até eu estou de saco cheio de mim. Até você.
Assisto novela só pelo
motivo de ter uma garota que me lembra você e eu odeio novelas. Que situação a
minha.
Já você me lembra
aquele personagem de filme com tesouras na mão que vive me podando, vive
cortando as minhas asas. Você insiste que não. Porém não me resta nenhuma pena.
Chegamos a um ponto de
dizer que minhas palavras eram só palavras e não significavam nada, veja só.
Logo eu, que sou um escrevinhador impulsivo e modéstia à parte, dos bons.
Daqueles que não escreve clichês e coisas água com açúcar. Sou desses autores
que conquistam pela realidade impiedosa, calamitosa e imperecível. Mesmo assim,
para você, por você, preferiria que fosse qualquer idiota modista e medíocre
que seguisse a linha do romantismo precário e de final feliz, se fosse para ter
sua atenção.
E mesmo não dando a
mínima atenção às minhas palavras eu saí dos palcos e do conforto de meu sucesso
e fui além, no entanto, mesmo assim, não foi o suficiente. Mais que isso eu
dependeria de seu aval, vamos lá, não que eu seja um bunda mole, só odeio a inconveniência
de forçar algo que depende da vontade de um par e nesta, me parece um tesão
individual. Uma masturbação de "Querer Muito".
Agora, não me force a
uma sabedoria que eu não posso ter, sendo que me parece que até mesmo você tem
dúvidas. Porém também não vou me enganar. Seus dias nublados só parecem ser tão
ruins quando é para dividi-los comigo. De resto eles são límpidos e esbeltos.
Talvez eu que traga sua má sorte. E é por isso, não só por isso, mas também por
isso, que lhe escrevo esta última carta.
Garanto-lhe que não
será por mim que acordará com mensagens inquisitoras. Prometo-lhe que não terá
que me chamar pelo meu primeiro nome com uma falta de libido extrema.
Garanto-lhe que não terá mais perguntas que te deixarão impaciente como as
enxaquecas e problemas pessoais. Prometo-lhe que não precisará mais se fazer de
desentendida por indiretas e insoluções pregadas por mim. Se usasse um chapéu
estaria eu, neste exato momento, pegando-o, colocando abaixo do braço e
partindo. Sem mais. Sem subterfúgios, sem cartões, sem desculpas. Desta vez eu
parto, mas não por medo e sim por falta de zelo e cumplicidade. Por falta de
carinho recíproco e por uma impaciência destinada a ambos. E eu fui paciente.
Minha língua já tem seu gosto de tanto que te lambi. Parto por falta, falta de
ti. E por excesso de confiança, quando o meu melhor que eu tenho para te
oferecer tornou-se pouco. Baixam-se as cortinas e eu me despeço. Na verdade,
acho que fui despejado de você. Logo, meus móveis estão pendurados numa Kombi
caindo aos pedaços e o que me resta é o novo aluguel ou condomínio que possa
vir por aí. Só não tente desmoralizar o que faço de melhor, pois você tem
grande parcela de culpa por eu ser tão bom no que faço.
Bento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário