segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TCHAU PARA QUEM FICA. ESCREVER, ESCREVER, ESCREVER

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Está todo mundo indo para casa, parece. Tudo é cheio. Hora do rush tudo é cheio.
Quando você está prestes a deixar um lugar durante muito tempo parece que todos te reparam. E você repara em todo mundo.

Cheguei na sala de aula e não havia ninguém. Peguei um café e comecei a ler meu livro. Estava quase no fim, era um livro fino. Pena. O livro era bom.
No meio da leitura começou me dar um desassossego. Não! Não era essa a palavra. Era desespero mesmo. Tanto que me perguntei: "O que exatamente eu to fazendo aqui?”.

Já tinha sentido isso antes e fui ver a mostra do Raul numa estação de metrô.
Voltei no dia seguinte. Só que desta vez era diferente, não sei bem. Queria sair dali, era só isso que eu queria.
Eu comecei a pensar no quanto de dinheiro estava gastando com aquilo e percebi que não tinha a quantia. Um dinheiro que eu não tinha. Era isso! A conta não fechava.

Olhei em volta e os outros alunos começaram a chegar e me cumprimentar. "boa noite, boa noite", é segunda-feira, o que tem de bom? Quero meu quarto, meus textos e um trago.
Escrever é o que eu queria, porra!
Mas escrever não me dava dinheiro e aquela sala roubava meu dinheiro. Ou tomava seja a palavra certa, tanto faz.

Escrever não paga nem o cigarro, por isso tenho de trabalhar. Estudar não estava melhorando minha escrita, pelo contrário.
Estudar consumia meu dinheiro e atrapalhava a escrita. Aí pensei: "vou sair daqui" e parece que as pessoas reparam mais em você quando se está partindo.

Isso é uma merda. Dei uma última olhada nos outros alunos e parti. Ao descer as escadas encontrei todo o resto dos alunos perguntando onde eu ia. "Aonde vai? Aonde vai?" Foda-se onde vou. Não disse, mas poderia.

Mas eu sou dramático. Foi uma saída à francesa, como se fosse um adeus final. Não era nada disso, volto, ainda volto. Quando não sei, nem sei se volto, posso morrer amanhã. Pretendo voltar. Preciso me despedir do bar também, mas não hoje, um dia venho só para isso. Enquanto isso, vou. Preciso desafogar.

As contas precisam fechar, caso contrário, não estudo, não escrevo, só penso em contas. Simples assim.
Mas escrever é o que me dá mais prazer. Não preciso de mais nada, escrevo e pronto. Uns tragos, cigarros e algo para matar a fome e é só. Estudo só para poder viver da escrita, quem vai querer ler um cara que só escreve? Só um cara? Quem é esse cara? Não, tem que ter mais alguma coisa.

Sempre vi nesse tempo todo no bar uns mauricinhos que têm seus estudos pagos pelos pais passando o ano todo sentado na mesa do boteco reclamando da vida e do atraso nas matérias. Claro, ficam sempre no bar. Veja, não sou santo, também matei meia dúzia de aulas pelo bar. E daí? Não vou reclamar. Se não posso, não faço. Desistir de lutar é uma coisa. Insistir em tomar soco de um valentão com o triplo de seu tamanho e peso é burrice. A vida ensina, não tem atalho. Não para um tipo como eu.

Curioso é que escrever tem sido melhor até que transar. Prefiro.
Se dissesse isso há dez anos daria risada na minha própria cara e diria: "tá louco!" Sim! Quem não está louco está morto, acha que está vivo, mas está morto. Mortinho da Silva.

Reflito para ver se é isso mesmo e não tenho dúvidas, prefiro mesmo.
Escrever me faz bem, toma tempo, só que bem pouco. Não me custa nada e não tenho de ouvir reclamações do teclado me perguntando se vou ligar no dia seguinte. Ligo, eu sempre ligo, nem que seja para dizer: "vamos ser amigos, ok?"

Prefiro transar com as palavras porque tem sido mais prazeroso. Sou meio de fase, minha fase hoje é aquela de exclusão, não sei o que é. Com raríssimas exceções eu preferia me excluir.

Quando se passa muito tempo sozinho como eu você aprende a dar valor a quem te faz companhia e não cede seu tempo para qualquer pessoa. Você se acostuma e fica exigente ao mesmo tempo. Traduzindo: UM CHATO! Mas é isso que eu sou, um velho chato. Mas é isso que eu sou. Paciência.

Então repenso e não tenho dúvidas, escrever tem sido melhor que transar.
Faço isso só, a hora que eu quiser e quando não quero ligo a TV para matar o tempo. Tomo uns tragos, fumo, mato o tempo. É isso que eu faço e não ganho um puto para isso. Fazer o quê? Vivo disso, salvo a alma pelo menos. Salvo a alma enquanto ainda vivo, depois de morto que se foda.


Bento.

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