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Certa vez eu disse que
só me relacionei com santas. Todas inocentes, pessoas perfeitas e puras.
Nenhuma dessas mulheres que passaram na minha vida tem nada, mas nada mesmo,
para lamentar-se ou se arrepender. Pois bem.
Hoje dormi bem, o que
é muito raro. Geralmente pego no sono momentos antes de ter de me levantar para
mais um dia árduo de trabalho. Não hoje. Hoje dormi como um defunto. Duvido que
não gelei como morto e parei de respirar. Foram mais de doze horas de sono
profundo sem despertar nem para atender os desejos da bexiga. Tanto dormi que
acordei naturalmente meia hora antes do despertador. Não, não pense que
deixarei de chegar atrasado ao trabalho por causa disso, pois existe uma ordem
natural para as coisas, um ciclo original, uma força maior para tudo. Assim
como a noite dá lugar ao dia, assim como os pulmões exigem ar, assim como os
amantes necessitam discutir para voltarem mais fortes, eu tenho de chegar
atrasado em tudo. É assim.
Só sei que dormi como
um gato e acordei disposto. Muito disposto para o meu gosto. Acordei e no
caminho para o trabalho minha mente trabalhava com energia total bolando planos
mirabolantes para o decorrer do meu dia. A barriga vazia exalava uma ansiedade
e eu sentia-me feliz. Uma felicidade sem motivo, sem compreensão. Me peguei
pensando: De onde vem essa felicidade toda? É esse o segredo? É só dormir e
pronto?
Uma mente descansada
normalmente é uma boa coisa. Só que nada que venha a ser normal se aplica muito
bem quando se trata da minha vida. Digo isso porque tudo é uma questão de
costume.
Não é tão simples
assim, é preciso um tempo de adaptação e, normalidade e tempo são duas coisas
que não fazem parte do meu cotidiano, logo, fiquei sem saber como agir. Então
uma mente sã e descansada tende a agir com essa tal normalidade para pessoas
normais. Já a minha mente, normalmente anda a mil, pensa em coisas que eu não
quero pensar. Acelera como um maldito motor possante numa estrada reta e vazia.
Já cansada é preciso freiá-la com noites mal dormidas, ressaca e desligamento do
mundo. Quando descansada então... Quase entra em pane.
O dia foi passando e
me vi desejando bom dia a todos. Fazendo favores para malditos filhos da puta que
eu sequer gostava. Me vi tratando todas as pessoas bem, sem exceção. Sem fazer
diferença de ninguém. Entenda, estava eu
cometendo uma puta injustiça sem tamanho e, se tem uma coisa de que não gosto,
é exatamente essa tal injustiça. Nem todas as pessoas merecem o seu melhor. Se
for assim, você coloca tudo no mesmo saco, os monte de estrume com bacanas e se
mata. Corte os pulsos, dê um tiro na cabeça, sei lá. Não comigo amigo. Não
trabalho desse jeito. Tomei uma atitude até então, drástica.
Meti o pé na porta do
bar, acordei o dono daquele moquifo e ordenei: quero essa garrafa de conhaque, agora!
O cidadão ainda com
seu pijama meteu a cara na janela: - Mas
ainda são nove da manhã, me deixe dormir.
- E daí?
No Japão já são nove da noite e passou da hora de beber - Eu retruquei e passei a próxima hora tomando
doses cavalares de destilado amargo, como a vida deve ser.
Bento.
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Um comentário:
forte como o conhaque, e bom como deve deve ser...
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