Tenho então, certa
peculiaridade em viver. Uma coisa diferente em dar meus passos pelo asfalto
neste mundo de malucos. Uma vez eu disse e nem sei de onde tirei isso, mas
disse. Foi um vômito, não alcoólico, porém, bêbado quando disse: "gosto de fazer tudo com estilo próprio, sem inspirações".
Eu nem sei o motivo pelo qual disse isto. Nem sei se concordo com o que disse.
Só que as coisas me fazem mais feliz quando saem do meu jeito. Então eu saio na
rua para comprar cigarros com a mesma roupa que dormi e não me importo muito,
foco apenas no objetivo, que são os cigarros que me faltam naquele momento.
É certo que não ligo
muito para situações rotineiramente planejadas. Não suporto nenhum compromisso
religiosamente assumido. Odeio trabalhar, o problema é que eu gosto mais de
dinheiro do que certos princípios, logo, o trabalho é a única coisa que aceito
fazer obrigatoriamente.
Assim muita gente deve
olhar para o meu estilo de vida e pensar que seja tudo maravilhoso, ou que eu
não tenha nenhum futuro e só a segunda opção pode ter algum sentido. Estou
dando voltas para dizer que o fato de acordar ao meio dia e que meus cafés da
manhã geralmente são meia dúzia de garrafas de Heineken após uma boa dose de
whisky para abrir o apetite, e que acendo um cigarro antes mesmo de abrir os
olhos quando acordo não é tão bom quanto uma porção de gente pensa. E essa
porção de gente que lê minhas narrativas sobre minha vida e adoram, sequer
teriam estômago para viver elas mesmas de tal forma. As pessoas sempre admiram
aquilo que não podem ter. Não se pode medir as coisas que eu abro mão para
sobreviver da maneira que eu acho ideal e normalmente o que serve para mim não
servirá para a maioria das pessoas que assistem ou leem uma situação como esta.
Não servirá, pois como eu disse: é preciso estômago, mais até que estômago é
preciso abdicar de um conforto sociável.
Meus amigos, por
exemplo, além de poucos, não são tão presentes quanto os amigos comuns. No
entanto, não os culpem, eu prefiro assim, afinal, com uma personalidade
característica como a minha, para mantê-los é preciso que afastem-se para
deixar que a saudade ajude-os a me aturar. O eu em excesso é prejudicial para
qualquer sanidade e ainda assim só tenho amigos desequilibrados.
Com as garotas é a
mesma coisa. É preferível que não se mantenham por muito tempo. Repare em seus
olhos e perceba o quanto eles brilham ao ouvir minhas histórias. Sempre tão
agradecidas retribuem uma preliminar ou outra, mas ainda assim é preferível que
não se mantenham por muito tempo. Perde-se o encanto, pois eu não deixo de
tomar os meus cafés da manhã alcoólicos, não deixo de escrever sobre minhas
insanidades e de exercer minha displicência em relação ao futuro. E nenhuma
garota se vê ao lado de um escritor possivelmente falido falando sobre as desgraças
da vida. Então eu lembro do que me disseram uma vez, que um dia eu vou
envelhecer, ficar feio, ultrapassado e o número de garotas entrando e saindo do
meu quarto diminuirá drasticamente e que eu olharei para o passado com grande
arrependimento. O que essa pessoa que me disse isso não sabe, é que eu já olho
para o passado com grande arrependimento, ou seja, sem novidades. Se alguém aí
não tem o mesmo problema me conte o segredo. E tem mais, odeio palpiteiros.
Olhe para o mundo de
um débil com olhar de telespectador e tudo parecerá maravilhoso até os nossos
caminhos se cruzarem e perceber que minha cama é muito mais aconchegante ao
dormir do que quando acordar. E que apesar de prazerosas, muito prazerosas,
todas as bebedeiras geram muito mais prazeres que as ressacas. E que a vida de
Bon Vivant escrevinhador de contos desgraçados somente é atraente em películas
e livros. Que a abstinência de álcool e nicotina torna-me um ser irreconhecível
e insuportável. Que eu sou um sujeito calamitoso e que odeia cortar as unhas. E
que eu passo metade dos meus dias sentado numa cadeira de praia, no telhado,
ouvindo Rock em discos antigos, bebendo cervejas e escrevendo, já a outras
metade eu passo dormindo. Por isso, não há motivo para invejar-me por qualquer
coisa. Por mais que sua vida pareça ruim, eu sou o resultado de tudo que possa
dar errado e me orgulho de tornar isso público. Levando sempre em conta que
aumento algumas tragédias e fatos para dar um tom de dramaticidade e estilo
próprio em tudo que eu escrevo.
Bento.
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Um comentário:
" Levando sempre em conta que aumento algumas tragédias e fatos para dar um tom de dramaticidade e estilo próprio em tudo que eu escrevo."
Falou tudo! =D
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