Indica-se ler os
episódios anteriores: GIULIARD BORSANDI VII
Já passava das duas da
manhã e eu agora estava parado em frente uma loja de roupas, do outro lado da
rua ficava o motel Libelillun. Janaina deveria estar com muita pressa, afinal, o Libelillun era o motel mais próximo ao bar que estávamos e um pulgueiro frequentado
por prostitutas e drogados que perambulavam pelo centro de São Paulo.
Totalmente diferente dos cinco estrelas que ela estava acostumada a ir. Eu
esperava pegá-la desta vez, levar provas para o pastor e acabar logo com aquele
caso.
Lá estava eu, bêbado,
com dor no saco, com uma câmera vagabunda na mão e vendo a noite paulistana
escorrer entre meus dedos enquanto eu trabalhava. Casais andando de mãos dadas.
Casais nos carros se beijando e ouvindo música. Casais por todos os lados. Numa
floricultura perto dali havia uma faixa "Comece o dia dos namorados com flores". Então olhei no celular
para saber que dia era, não me lembrava. Na tela luminosa de meu telefone
marcava dia 11/06. Por motivos óbvios passei a odiar o dia dos namorados.
Estava frio, mas eu
transpirava. Podia ver a janela da suíte de Janaina de onde estava, as luzes
acesas dava a entender que eles ainda não haviam começado com a transa.
Provável que ainda estavam fazendo um brinde. Um brinde a mais um par de
chifres na cabeça daquele velho enganador de velhinhas. Comecei a pensar se aquele
maldito não merecia tudo aquilo que Janaina fazia com ele. Se não era uma
justiça dos infernos com aquele que ganhava a vida traindo a confiança de seus
fiéis. Sentei-me na porta da loja de roupas e minha mente invariavelmente
passava a dar razão para safada que estava sendo fodida pelo grandalhão fétido
no motel à minha frente. Com isso também passei a me arrepender de não ter
aceitado o convite da gostosa e que agora, no lugar do sósia do George Michael
poderia ser eu.
Sou despertado de meu
devaneio por uma viatura da polícia que passa na rua com uma lanterna tamanho
família apontada bem para minha cara. -
Está tudo bem aí amigo? Perguntou o policial que segurava a lanterna.
Estaria melhor se não
houvesse um filho da puta com uma porra de uma lanterna na minha cara, pensei
em responder. Ao invés disso: - Tudo
ótimo seu guarda, só descansando as pernas. Limitei-me a dizer. Eles
provavelmente estavam com tanta vontade de trabalhar quanto eu, logo, partiram.
Porém, pensando aqui
comigo, foi até bom eles aparecerem, me fez voltar ao foco. Não estava na
posição de julgar o pastor ou mesmo a mulher dele. Estava à trabalho, iria
ganhar por aquilo e isso já bastava. Finalmente apagaram as luzes.
Mais vinte ou trinta
minutos de espera e caso encerrado. Chega de subir em janelas e telhados, não
hoje. Umas fotos bem batidas da delícia que era sua mulher saindo do motel com
um brutamontes iria ter de servir para o pastor se convencer que sua mulher era
uma vagabunda e finalmente me dar meu dinheiro.
Eu continuava suando e
a neblina da madrugada aumentando. Já estava em meu quinto cigarro enquanto
aguardava os pombinhos treparem e agora só restavam uns três. Teriam que dar
até eles saírem, já não bastava ficar ali sem tomar um trago qualquer de alguma
coisa forte?
Meus olhos começaram a
ficar pesados e com a sensação de areia dentro. Era o sono me lembrando que já
estava muito tempo acordado e que a brisa do álcool estava passando. Eu sabia
que bastava uma cochilada e todo meu trabalho poderia ir por água abaixo e
seria mais uma semana, no mínimo, para ter outra oportunidade de pegar Janaina
no pulo.
Não, era hoje. Bastara
a sorte que tive de encontrá-la no mesmo bar que eu costumo ir para ter a
certeza que seria hoje. Eu ficaria lá, sentado, no frio, sem cigarros e sem um
trago durante a noite toda se fosse necessário. Mas aquilo iria acabar ali.
Nunca mais eu iria olhar na cara do pastor ou de Janaina. Levantei-me e comecei
dar pulinhos como um pugilista para aquecer e espantar o sono. Mais um cigarro.
A luz do quarto se acendera finalmente. Era agora.
Bento.
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