A cada parágrafo que
eu escrevo é um soco que dou em minha cabeça.
Mais um parágrafo, uma
dose de whisky, acendo outro cigarro e volto a tentar não me envolver com
algumas coisas medíocres que observo pelas janelas da alma. Só que é difícil.
Eu quero agora ir
dormir e amanhã acordar mais razoável, só que não consigo, pois tenho um imenso
desejo de xingar e amaldiçoar o mundo com todas as minhas forças. Talvez seja a
grande quantidade de álcool que corre nas veias, numa cumplicidade de não ter o
que eu quero e ter um monte de coisas que não me fazem diferença e que não me
esforço quase nada para ter. Qualquer religioso imbecil poderia dizer que isto
é derivado de alguma força divina, de um blablabla corriqueiro e que eu sequer
vou gastar mais linhas para falar sobre isso. Só o que vou dizer é que o álcool
deveria estar amenizando de alguma forma tudo isso, porém, que não está
passando nem perto. E então, isso tem grande parcela nas bostas que eu faço e
falo durante a madrugada, então se puder me perdoar por qualquer coisa, faça,
mas somente se quiser, caso contrário, bem, foda-se.
Estou eu aqui procurando
defeitos, tentando mediocrizar e tornar-te comum como toda e qualquer coisa,
juntar o desejo com todos os outro na mesma caixa e colocar lá fora, para o
lixeiro levar, junto com as garrafas de whisky, as latas de cerveja e os maços
de cigarro. Tento e eu sou super criativo, usando artimanhas, insultos, me
passando a perna, no entanto eu sempre saio como vilão. Ah maldição.
Eu, na minha raiva
incontrolável, estou querendo ver tudo em pedaços e então estender meu chapéu,
aquele mesmo que eu prometi colocar debaixo do braço e partir, para sobrar
alguns pedaços comigo e outros que eu possa guardá-los nos bolsos.
Logo depois, como todo
bêbado, mudo de ideia e esvazio os bolsos. Ora. Eu sou de preferir inteiros.
Sou de preferir sonhos, sorrisos, lábios, pernas finas... Oh, as pernas finas.
Sou um intransigente.
Para falar a verdade. Sou um dos poucos homens que conheço. Pois por aqui é
preciso coragem e atitude. É preciso culhão e eu tenho bolas enormes num saco
também gigante e é tudo o que eu tenho. Cérebro e bolas. No entanto, ninguém
come cérebro e bolas, ainda bem, e ninguém vai ao shopping e passa as bolas na
máquina de cartões de crédito. Ninguém vai ao bar e mostra as bolas na hora de
pagar as contas. Ou gostaria de viver num lado do mundo onde os fracos não
tivessem vez, mas não é preciso ter culhões para ser homem hoje em dia. Por
isso, meu melhor seja por aqui, nas entrelinhas, parágrafos e contando com sua
leitura e quem sabe convencimento, quem sabe o despertar do falecido.
Ainda que por aqui, as
desilusões são rotineiras. Só os amaldiçoados como eu tem tanto bom gosto.
Porém, sou um amaldiçoado e pronto. Ah esse meu bom gosto que ainda me mata.
O relógio já marca a
hora das assombrações, três da manhã, o álcool acabou e as assombrações, almas
penadas, todas elas, de todos os demônios que tive que trazer para o meu lado
do balcão e eles torcem, rezariam se acreditassem em Deus. Rezam para que eu
alcance todos os meus desejos, pois com o meu gênio...
Ou talvez eu só esteja
bêbado. E o álcool acabou, assim tive que sair para comprar mais, pois a raiva
ainda existe, a vontade ainda me domina e os olhos ainda enxergam os pés. Que
espécie de bêbado eu sou que ainda enxerga os próprios pés? Preciso de menos
sangue nas veias, volto com as garrafas e começa a chuva, que gelada me tira
mais ainda a embriaguez. Então eu encontro vários amigos bêbados e até os
bêbados desconhecidos que se tornariam meus amigos e qualquer um deles olham
para os meus olhos com atenção, como são vislumbrados e atentos a todos os
detalhes. A maquiagem improvisada no espelho, e você sabe o meu fraco por
mulheres e o ato de maquiar-se, mesmo assim fez de propósito. Aliás, quem não
sabe? Os olhos seguem os cabelos, a espinha que teimou em nascer na esperança
de tirar-lhe uma pequena fração da beleza e eu digo: fracassou. Eu que sou
teimoso, mais que qualquer espinha desviava o olhar só que ele é mais forte e
volta para o deleite. Se isso não é paixão então o mundo não é mundo, é outra
coisa.
Quem eu estou querendo
enganar? Leia as coisas que eu escrevo e chegará numa conclusão que qualquer
idiota poderia chegar, até quem não sabe ler. Até quem não me conhece e quem
não me vê há anos. Sou um trouxa rendido pedindo asilo. Eu que tento terminar
um livro só consigo escrever a mesma coisa, sobre a mesma coisa e estou perdido
como escritor, fadado a cometer os clichês dos outros escritores cuzões que não
conseguem separar as coisas. Se isso não é paixão então eu sou gordo com
talentos santíficos.
Sou culpado de toda
essa merda. Eu sei. Deveria eu ser suficientemente esperto para perceber que
neste caso eu sou o budista em meio suas crenças greco-romanas com centauros,
cupidos, ninfas e etc. Mas quer saber? Eu sempre fui metido a esperto e isso
sempre me levou aos caminhos já tão conhecidos por mim. Chega ser ultrajante,
riquezas masculinas adquiridas por tantos anos que eu poderia dar aulas sobre o
assunto, caso fosse um militar seria eu um amontoado de honrarias imaculadas e
invejadas, porém, sou um mal agradecido. Sou um incontente, não um infeliz, um incontente.
Um amaldiçoado ingrato. Sou o que sou, mas também sou orgulhoso e arrogante,
menos é claro quando sou ignorado, deixado de lado, ridicularizado,
menosprezado, e todos os "ados"
negativos que eu deixo de lado, pois a mínima atenção que recebo me traz um
prazer inenarrável. Só não posso deixar que todos saibam disso para não abrir
um precedente, então este será nosso segredo. Mas se isso não é paixão, então vamos todos sair na rua de
roupas de banho neste inverno do Alasca que faz em São Paulo.
Pode até ser impressão
minha, e talvez seja mesmo. Deve ser coisa de idiota apaixonado egocêntrico
como sou, mas se pensa que não reparei nos olhos vidrados e ouvidos atentos
enquanto ouvia minhas histórias desconhecidas até então com personagens que
coincidiram em nosso caminhos alheios. Eu só não sei o significado do olhar,
não sei se eram por mim ou pelas histórias, assim como não sei o motivo de
rubrar por uma piada minha. No entanto, como eu frisei, sou um egocêntrico irremediável,
logo, tomei para mim. E até sobre isso, eu repito. Se isso não é paixão, da
minha parte é claro, se não é paixão, então eu deveria escrever coisas alegres
e com finais felizes sobre situações que eu desconheço tomando como inspiração
garotas fáceis, com personalidades completamente diferentes da minha e com
sérios problemas de interpretação de texto. E por fim, o álcool finalmente fez
valer o seu motivo de existência e eu passei a pensar mais rápido do que pude
escrever, portanto, parei por aqui, pois mais que isso seria sem sentido.
Bento.
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