Por um acaso eu lembrei que ficaria mais
velho neste mês. Uma atendente nova na loja de bebidas que faço minhas compras
semanalmente pedira minha identidade para provar que eu era maior de idade. Vê se
pode? Com essa cara de Bon Vivant, escrevinhador dramático e incoerente, após tantos anos me vi tendo de provar idade
para comprar uma bebida? Então por isso, acabei me lembrando que ficaria ainda
mais velho neste mês. Por sinal, eu odeio aniversários.
Não o aniversário só, mas os telefonemas de
pessoas que não dão a mínima para porra nenhuma que eu faço e se sentem na obrigação, como se fosse
algo muito educado dar-me as felicitações.
Tudo bem, também não faz muita diferença
quando você tem que lidar com idiotas o ano todo, um dia mais outro menos não
me causaria muita dor de cabeça. O que realmente me assusta em todos esses dias
dezessete deste mês canceriano são os cabelos brancos que insistem em
multiplicar-se. Este cronometro que não para de regredir até chegar ao zero. E
é muito mais nestes dias que eu me pego lembrando que eu não conquistei nem um
quarto do que planejava há dez ou quinze anos atrás. Em contrapartida eu não
estou careca, barrigudo e com alguns filhos pendurados em meu orçamento mensal.
O que me permite gastar ainda mais com bebidas, cigarros e noites
intermináveis. Ah essa minha teimosia de querer ver um lado bom para tudo.
O fato é que sou um cara velho, bem mais
velho que minha idade diz. Abro um parênteses agora para dizer que a meia hora
atrás eu via o presente como desesperado, após alguns drinks está tudo bem
obrigado. Também é fato que sou um dinossauro contemporâneo com gostos
estranhíssimos e um bom senso extremista que mais me atrapalha do que me ajuda.
Portanto, é mais um ano, ou menos um ano de vida para raspar a merda do sapato
que acumulei durante a idade e continuar caminhando.
E o corpo acusa.
Te faz
lembrar que você não é mais um garoto de 16 anos que se regenera como um
mutante. O fígado já te pede para pegar mais devagar, que talvez ele precise de
férias. O problema é que quando trabalho bebo por ter de trabalhar e quando
estou de férias, bebo por estar de férias, ou seja, meu fígado que vá atrás das
leis trabalhistas que ele achar que tem direito. Ou até o dia dele me deixar na
mão e eu não ter mais que me preocupar com aniversários, com pessoas idiotas se
sentindo na obrigação de me dar felicitações quando passam o ano inteiro
torcendo pela minha tristeza, afinal, nenhum escrevinhador que se preze pode se
dar ao luxo de ser feliz o tempo todo.
Alguém me disse isso e eu concordo. E eu estou escrevendo isso
exatamente neste dezessete de julho, sentado em minha varanda, bebendo whisky
com cerveja e esperando anoitecer para poder ganhar um beijo de uma garota
linda e prepotente, inteligente e pessimista, poetisa e musa, louca e saborosa.
Que me dará um beijo que por pelo menos um momento me fará esquecer que ela
ainda não me merece. Para o bem ou para o mal. Espero que seja pelo bem dela.
Pois mal por mal eu tiro de letra.
Bento.
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