terça-feira, 30 de julho de 2013

DÉCIMO SÉTIMO DIA DESTE MÊS CANCERIANO

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Por um acaso eu lembrei que ficaria mais velho neste mês. Uma atendente nova na loja de bebidas que faço minhas compras semanalmente pedira minha identidade para provar que eu era maior de idade. Vê se pode? Com essa cara de Bon Vivant, escrevinhador dramático e incoerente, após tantos anos me vi tendo de provar idade para comprar uma bebida? Então por isso, acabei me lembrando que ficaria ainda mais velho neste mês. Por sinal, eu odeio aniversários.
Não o aniversário só, mas os telefonemas de pessoas que não dão a mínima para porra nenhuma que eu faço e se sentem na obrigação, como se fosse algo muito educado dar-me as felicitações.

Tudo bem, também não faz muita diferença quando você tem que lidar com idiotas o ano todo, um dia mais outro menos não me causaria muita dor de cabeça. O que realmente me assusta em todos esses dias dezessete deste mês canceriano são os cabelos brancos que insistem em multiplicar-se. Este cronometro que não para de regredir até chegar ao zero. E é muito mais nestes dias que eu me pego lembrando que eu não conquistei nem um quarto do que planejava há dez ou quinze anos atrás. Em contrapartida eu não estou careca, barrigudo e com alguns filhos pendurados em meu orçamento mensal. O que me permite gastar ainda mais com bebidas, cigarros e noites intermináveis. Ah essa minha teimosia de querer ver um lado bom para tudo.

O fato é que sou um cara velho, bem mais velho que minha idade diz. Abro um parênteses agora para dizer que a meia hora atrás eu via o presente como desesperado, após alguns drinks está tudo bem obrigado. Também é fato que sou um dinossauro contemporâneo com gostos estranhíssimos e um bom senso extremista que mais me atrapalha do que me ajuda. Portanto, é mais um ano, ou menos um ano de vida para raspar a merda do sapato que acumulei durante a idade e continuar caminhando.
E o corpo acusa.
Te faz lembrar que você não é mais um garoto de 16 anos que se regenera como um mutante. O fígado já te pede para pegar mais devagar, que talvez ele precise de férias. O problema é que quando trabalho bebo por ter de trabalhar e quando estou de férias, bebo por estar de férias, ou seja, meu fígado que vá atrás das leis trabalhistas que ele achar que tem direito. Ou até o dia dele me deixar na mão e eu não ter mais que me preocupar com aniversários, com pessoas idiotas se sentindo na obrigação de me dar felicitações quando passam o ano inteiro torcendo pela minha tristeza, afinal, nenhum escrevinhador que se preze pode se dar ao luxo de ser feliz o tempo todo.  Alguém me disse isso e eu concordo. E eu estou escrevendo isso exatamente neste dezessete de julho, sentado em minha varanda, bebendo whisky com cerveja e esperando anoitecer para poder ganhar um beijo de uma garota linda e prepotente, inteligente e pessimista, poetisa e musa, louca e saborosa. Que me dará um beijo que por pelo menos um momento me fará esquecer que ela ainda não me merece. Para o bem ou para o mal. Espero que seja pelo bem dela. Pois mal por mal eu tiro de letra.



Bento.

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