Eu caminho dia e noite
pela rua. Não importa. Caminho e vejo loucos infinitamente mais loucos que eu e
tento imaginar como seria se eu fosse mais louco ainda e meu estômago revira.
Bem, talvez seja fome. Mas eu acabei de jantar, ou almoçar, ou tomar o café da
manhã no bar e isso tudo ainda não significa nada. Só que o meu estômago
revira, logo, não é fome e eu não sei o que é. Eu me alimento. Eu como e como e
quanto mais eu como mais afrouxam minhas calças. Cada vez que a comida entra
tenho de fazer um furo novo no cinto e então eu desisto. O trigo, o lúpulo, a
cevada... Tudo isso será suficiente para me manter caminhando e aprendendo com
os loucos.
Finalmente sento-me na
cadeira do lado de fora do bar e chamo a atenção do garçom e este também é mais
louco do que eu. Estou sentado e em minha mesa tem mais quatro ou cinco
cadeiras e todos que se sentam nelas são mais loucos do que eu. Cada um com
suas loucuras e demônios. Todos mais loucos.
Meus olhos miram as
bocas dos loucos falantes, depois uma bunda passante. Mira um outro louco que
encosta pedindo moedas e eu digo: moedas não tenho, se quiser um copo sirva-se.
Ele rejeita, pois, é mais louco que eu. Contínuo a mirar meus olhos nos loucos
falantes e sorrio de uma piada maldosa. E outra e depois outra e estamos todos
alegres com montes de garrafas vazias em cima da mesa. Falamos cada vez mais
alto, rimos cada vez mais alto e todos dão uma pausa de frações de segundos nas
risadas e piadas para olhar mais uma bunda passante. Desta vez não era só uma
bunda, junto havia um belo rosto. Todos suspiram e alguém rompe o silêncio momentâneo
para mais uma piada. Ora, somos homens.
Pego o isqueiro, abro
o isqueiro, acendo um cigarro, fecho o isqueiro, volto a abri-lo e a fecha-lo
mais algumas vezes. A lua segue seu ciclo, as bundas passantes seguem seu
ciclo, alguém na mesa cede a tentação de falar de trabalho e nós logo o
censuramos. Somos homens, loucos, com sonhos frustrados e falamos sobre isso.
Falamos também sobre os sonhos e fortunas que torcemos adquirir. Em certo
momento já trocamos quase todo o sangue de nossas veias por álcool, o garçom
continua seu trabalho visando também a fortuna que deseja adquirir, porém, não
com nossa caixinha, pois, esta é nula.
Cada louco com a sua
loucura e minha ideia de fortuna raramente é igual a ideia de fortuna dos
outros à mesa. Na verdade todos nós odiamos o fato de acordar cedo e ter de
trabalhar para imbecis mais loucos e incompetentes que nós. Eu gosto ainda
menos de trabalhar, por isso que escrevo. Minha ideia de fortuna é escrever e
ganhar o suficiente para repor o estoque de cervejas, whiskys, e vodcas. Uma TV
tão grande quanto meu sedentarismo e se possível uma bela vista do trânsito de
São Paulo para eu sempre lembrar do quão cansativo é trabalhar. Bom, eu ainda
terei de ir ao mercado para trazer as garrafas e congelados, logo, não sou tão sedentário
assim.
Uma vez uma garota me
disse que sou magro demais. O que eu posso dizer? Um homem só precisa de força
suficiente para carregar aquilo que ele vai beber. Ou comer, ou os dois. Dia
desse eu passei no mercado. Carregava 24 latas de Heineken divididas em duas
sacolas. Dose latas em cada mão. Confesso que esse dia eu exagerei um pouco. Eu
tinha 24 latas de cervejas e ainda tinha que fumar. No início estava indo tudo
bem, mas quanto mais eu andava mais as latas ficavam pesadas. Como se elas
estivessem multiplicando-se. Uma pena elas não estarem, era o peso e os braços
cansados.
Eu jamais desperdiçaria
latas de cervejas só por causa de uma pequena dor no braço e a vontade de fumar.
O sol da tarde também não estava ajudando. Então decidi parar e descansar um
pouco. Sentei na calçada, acendi o cigarro tão aguardado e abri uma lata. E
depois outra e outra e no total foram quatro latas de Heineken ali, na calçada,
debaixo do sol. Levantei novamente as sacolas e agora sim, estava resolvido o
problema. Vinte latas eu conseguiria carregar tranquilamente. Já em casa,
coloquei-as para descansar no congelador. Força só é necessária para os imbecis
que não pensam. Os medíocres de imaginação. Loucos como eu nunca usam de sua
força, exceto em dia de churrasco.
Bento.
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário