Não é que eu não te queira. Pelo amor de Deus. Sonhei anos
com isso e por vezes, ainda hoje, em belas noites de mariposas de lâmpada ainda
penso ser um sonho tão somente. Mas não daquelas coisas clichês e água com
açúcar. Sabe que não sou disso. Sabe, pois sou como tu.
Bem, tem também toda aquela coisa de Destino e as minhas
coisas acontecem sempre quando elas querem e não quando eu planejo. Isso tudo é
um saco, eu acho. Medo não. Isso não me apetece. Acontece que, é só essa
disparidade de abismos. Sei sei, parece complicado, porém posso explicar: Eu
sou do inferno. Não, não quero dizer literalmente. Do inferno astral eu digo. Sou
um poeta clandestino. Um escrevinhador de realidades infames e tenebrosas. Não
sou de final feliz. Minhas letras são vomitadas com odor etílico. Transborda em
mim um sentimento de romantismo pouco visto por aí, só que ninguém acredita.
Não acreditam, afinal, sou um poeta das sombras, das sarjetas úmidas de urina.
Das esquinas tendo como companhia as putas e cachorros famintos. Quem
acreditaria que num monte de estrume pode nascer uma flor? Todos sabem que
pode, mas quem acredita?
Já você é o que existe de mais indecentemente sexy e elitista.
Uma combinação de pecado original com apocalipse. É toda a mistura do meu
melhor, com todas as coisas que eu gostaria de ser e falhei. Você minha
querida, é o pecado do Criador. Pois até Deus encheu o peito de vaidade dizendo
ao Diabo: Sabe aquela ali? Eu que fiz!
Eu poderia colocar todo o meu clichê que jurei guardar para
fora, guardá-lo para resumir tudo isso em “A Dama e o Vagabundo”. Só não o faço
para não quebrar a promessa. Mas que dá vontade, ah isso dá. Eu poderia
escrever, escrever, escrever e mesmo em minha mente criativa eu não poderia por
no papel, em letras garrafais ou não. Mesmo que nos meus dias mais inspirados,
o que é e o que foi aquele beijo e todos os outros que vieram. Seria infâmia de
minha parte. Volto a dizer para que não me entenda mal. Isso não é desistir,
apenas estou pegando o meu chapéu e indo para casa para melhorar-me de alguma
forma. Moldar-me como barro para chegar, pelo menos aos seus pés. De alguma
forma que eu nem sei. Mas ei de me achar em algum lugar. Não me pergunte como,
nem onde. Nem eu sei. Talvez você pudesse me ajudar, pois conhece-me mais do
que eu posso imaginar. Você tem todos os meus defeitos, a diferença é que em ti
eles parecem tão melhores.
Eu escrevo, escrevo e sorriu. Aquele mesmo sorriso trouxa de
que falei outrora. Talvez você pudesse me ajudar, só que estou eu, sendo um
egoísta asqueroso só para me maltratar. Coisa que eu faço costumeiramente. Numa
sandice desgraçada de tentar fazer tudo sozinho e provar qualquer coisa que eu
nem vou fazer questão daqui há algum tempo. Só o que terei em mente é o objetivo
mesmo. A musa de minhas letras. A inspiração dos meus contos e a aspiração de
meu ego.
Por isso digo, não perca tempo procurando-se em meus
parágrafos, está em todos eles.
E no alto deste meu egoísmo eu não quis perguntar sua
opinião. Achei que não devia. Não quis precipitar e perder a lembrança de um
último diálogo amigável. Talvez e só talvez, suponho agora como suponho a
existência de deuses e E.Ts. Talvez você me afagasse e diria o quanto eu estou
errado e que tudo isso é fruto de minha mente nada convencional. Minha teimosia
que não deixou. Suposição ou desejo? Não sei dizer.
Então aqui estou eu com meu chapéu, meus cigarros, uma dose
de algo alcoólico e amargo para dizer que vou tentar adivinhar sim. E tendendo
sempre para o meu lado, claro.
Bento.
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