Desde muito cedo eu
tenho quatro amigos.
O Rogério era o bruta
montes da turma, nunca mais precisei correr de uma briga depois de tê-lo
conhecido. O Garcia que era o talentoso. Tocava guitarra como ninguém. Montamos
uma banda juntos.
Tinha também o Assencio,
esse era um atrevido, era tão bom de bola que saíamos odiados das peladas nas
ruas ou nas quadras públicas. Sorte nossa o brutamontes estar sempre por perto.
Por fim tem o Júnior
que de tão simples e sem sal esse nome eu pensei em inventar um outro para o
Júnior, mas não seria justo com ele. Sequer tinha apelido o garoto e seu
primeiro nome também era Rogério, sendo assim, não seria de bom tom reivindicar
a titularidade do nome, quem teria coragem de fazê-lo quando o dono do nome era
o brutamonte? Então voltemos ao Jr, esse era o beberrão. Começou beber tarde, é
bem verdade. Eu até então, era o beberrão, mas passei o rótulo para ele. Não
que eu tivesse parado de beber, ou diminuído os porres, mas ele já era o
segundo da turma em seu próprio nome. Fiz uma caridade de cristão que nunca
fui. Então, desde muito cedo, éramos quatro amigos e eu. Os quatro estudavam
juntos e eu em outra escola.
Enfim vamos falar do
Warley. Mas quem é Warley? Este é outro amigo que estudava na mesma escola que
eu. É de um nome desses que o Jr. precisava, um nome tão incomum que parece
inventado pelo autor, mas Warley era real.
Warley e eu nos
odiamos no momento em que nos vimos. Curioso é que todas as minhas grandes
amizades começou através do ódio, mas éramos jovens, nem ódio tínhamos. Era
como na política, pois éramos oposição e situação, partidos diferentes - o que
quero dizer é que tínhamos idades diferentes, ele aparentava velho, muito velho
perto dos outros alunos - mas políticos são inimigos até encontrarem um bom
motivo para tornar-se amigos.
Eu e o Warley que já
era calvo naquela época, por algum motivo descobrimos que seria melhor sermos
amigos. O motivo dele eu não sei, o meu motivo era porque ficava impossível
odiar um cara que mais parecia meu tio de tão velho. Bem como é mais difícil
odiar os senhores de cabeça de neve, aqueles com cabelos grisalhos, talvez
porque lembre natal e comercial da Coca-Cola, só sei que é difícil.
Na verdade, quando
mais jovem, era bem mais fácil odiar qualquer pessoa, qualquer coisa, ou música.
Éramos cheios de inimigos. Porém, quando jovem, tudo é passageiro. Tudo é de supetão.
Você odeia hoje, ama amanhã e depois nem se lembra mais. Com garotas era assim
também.
Num dia eu jurava amor
eterno com tanta convicção que convencia até eu mesmo. Não passava da mais pura
verdade. Eu amava, mesmo. Só que ao acordar e ver os desenhos animados na TV
antes do café da manhã o tal amor acabava.
Claro que um amor,
naquela época, só acabava para começar outro.
Cheguei a amar três
garotas numa semana. Mais volúvel impossível. Mas quem ligava? Eu era jovem e o
que dizem dos jovens é que se tem a vida toda pela frente. Exceto os
fracassados. Esses têm a vida de todo mundo pela frente, menos a própria.
Existiam já naquela
época jovens fracassados. Alguns cresceram e venceram, outros não. Outros
fracassaram mais tardiamente, depois de envelhecer. Viver nunca é fácil.
Ninguém ensina, muito menos a vida.
Aí você só nota quando
encontra os fracassados pós-vencedores e os vencedores pós-fracassados. Em
ambas as situações você pensa; poderia ser eu. Ou não.
Bento.
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