Eu nunca fui um bom
aluno. Nunca.
Sempre fui daqueles de
sentar no fundo da sala e destilar minha vaidade para as garotas. Eu queria
chamar atenção e conseguia. Com isso levava algumas mentes ocas comigo. Eram
idiotas imitando um tonto, ou um bando de tontos seguindo um idiota, escolha a
alternativa que quiser.
Meu trabalho ali era
dificultar ao máximo o trabalho dos professores e nisso eu tinha grande
sucesso. Não que eu fizesse questão disso, eu era um cara, só um cara e não
fazia questão de nada. Só de confundir as cabeças já muito confusas dos outros
alunos. Tão confusos quanto eu.
Digo que se houvesse
justiça no mundo eu teria me tornado professor, só para sentir na pele tudo o
que causei aos mestres.
Eu era um desserviço a
educação calamitosa das escolas públicas. Se alguém na administração das
escolas pelas quais passei tivesse um pingo de juízo eu sequer teria terminado
os estudos. Faça-se justiça que eles até tentaram expelir o grande mal que eu
era expulsando-me duas ou três vezes, porém, não se alcançou grande resultado
quando eu, expulso, poderia entrar em qualquer outra escola que quisesse. Logo,
como uma praga (todos os meus professores concordariam com isso) eu seguia
confundindo e aniquilando algumas promessas estudantis por onde passava.
Eu falava fácil, com a
voz mansa. Usava palavras difíceis apenas para passar a imagem que sabia do que
estava falando, mas não sabia. Era um argumentador. Levava a história do Brasil
e do mundo sempre para o lado pessoal e invertia os fatos. Os alunos entendiam,
os professores tentavam entender como poderia sair tanta bobagem de uma mente
tão jovem.
Tinha mania "do
contra". Fazia discursos inflamados como os ditadores que eu ainda nem
conhecia. Os professores diziam que eu era uma mente brilhante desperdiçada. Nunca
me achei inteligente. Achava-me um bom ator, um fingidor, eu diria. Enganava
bem, bem até demais. Sempre disse que não importa o tamanho do absurdo que você
conta, O que importa é a segurança com a qual você conta. Mas nunca, nunca me
achei inteligente. O que eu tinha demais para a minha idade era esperteza e
atrevimento. Uma combinação que usava para o mal. Um talento nato para humilhar
os meus colegas de sala. Tudo isso muito antes de o Bulling existir. Se já
existisse eu estaria nos cartazes de prevenção. A minha foto estampada com uma
cara de culpado confesso. Eu poderia ser crucificado em praça pública. Decapitado
e esta pendurada nos portões da escola como exemplo. Duvido que nenhum
professor tenha se sentido tentado a fazê-lo.
Eu era um carrasco de
CDFs. Tornei-me um fomentador de intrigas femininas. Acabei com relacionamentos
bonitinhos, típicos de filmes adolescentes de Hollywood. Destruí autoestima de
garotos roubando-lhe garotas e aniquilei a vaidade das garotas chutando-as logo
após.
Então, você que já
deve me odiar pelo que leu até aqui e por fazer perder seu tempo, deve estar se
perguntando onde é que eu quero chegar com essa confissão de adolescente
maldito. Eu respondo que não sei. Mas se consegui deixar bem claro que era eu
um péssimo aluno e a última coisa que eu fazia na escola era estudar então cheguei ao meu objetivo. Uma
matéria em particular sempre foi o meu purgatório, a matemática. Esta sim era
minha intenção. Para então, poder dizer que depois de velho, descobri que no
mundo real, na vida em questão, nesta matemática, menos é mais. A multiplicação
apesar de encher os olhos, engana. Somar vaginas e bocas com o intuito de
chegar a algum lugar é de um erro tão grande que nenhuma prova Real pode resolver.
E que algumas relações só podem dar certo quando existem dois números na casa
da divisão. Um mais um só é dois quando estamos dispostos a subtrair coisas de
que gostamos para agradar o próximo. Volto a falar da multiplicação para chegar
a números assustadores de nomes, telefones, tickets de motéis, pernas que se
abrem, pernas que se cruzam. Inúmeros casos e narizes que irritam-se a tocar
seu abdome. Soma-se tudo isso as mordidas em seu órgão sexual e o cansaço dele
de trabalhar tanto em tão pouco tempo a ponto de você achar que não dará conta,
que pode ser que tenha que passar por um constrangimento. Pegue a calculara
para não errar na conta e o saldo será sempre negativo. Perdeu-se mais que
ganhou. Está no vermelho, pois, menos é mais. Todo mundo deveria saber disso.
Porém, o único que se saia mal em matemática era eu.
Bento.
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